Maria Thereza, uma moça do Bexiga

O dia chuvoso de hoje, comemorativo a todas às mães, relembrou-me em especial a minha. Uma mulher valente, bela e possuidora de uma história de simplicidade e saudade.

Maria Thereza Coffoni de Rozza nasceu em São Paulo, capital, em 22 de fevereiro de 1933, no bairro do Bexiga, Bela Vista. Era neta de imigrantes italianos, oriundos de Napóles e da Calábria.

Viveu em uma pequena vila, na Rua Almirante Marques de Leão, até se casar aos 22 anos, vindo, então, a residir em Angra dos Reis, estado do Rio de Janeiro.

Quando menina, era muito prestativa, falante, divertida e peralta. De uma das suas travessuras, que contava sempre sorrindo, relatava:
– Caminhei em um cano, levando minha irmã Gina no colo, caí e quase quebrei o nariz.

Gostava também de ajudar o pai, que era motorista e quase aprendeu a dirigir um caminhão. Contava também que na sua adolescência sentiu os reflexos da Segunda Guerra Mundial com o racionamento do pão, que tanto gostava e de outros gêneros alimentícios. Falava sobre o blackout na cidade e da alegria que sentiu quando a guerra terminou.

Relatava da amizade de sua mãe Maria Coffoni e da família, com a mãe do cantor Agostinho dos Santos e, muito emocionada, falava da felicidade que todos sentiram quando o cantor gravou o primeiro disco, autografando um dos primeiros exemplares para sua mãe.

Relembrava também do Cine Rex, do Bloco do Esfarrapado, dos bailes na Rua dos Ingleses, das feiras da 13 de maio, da Padaria Belizzi e da Escola Vai-vai, nascida no bairro.

Estudou na infância no Grupo Escolar Rodrigues Alves e depois na Escola de Comércio, na Rua Treze de Maio. Trabalhou no Laboratório Paulista de Biologia, destacando a visita pessoal de Getúlio Vargas ao mesmo. No laboratório, sua função era instrumentadora, fechando embalagens de soro com uma pinça,que guardo com carinho até hoje. Naquela época, as embalagens de soro eram de vidro.

Contava também sobre as paradas militares e desfiles cívicos que gostava de assistir na Avenida Nove de Julho. Gostava muito de futebol, relatando sobre os times que disputavam partidas em um campo de futebol atrás de sua casa.

Escrevia versos que não mostrava a ninguém. Sempre valorizou o bairro onde nasceu e viveu, levando eu e meu irmão para visitá-lo quando era possível.

Falava sobre a Arte Flor, onde também trabalhou. Gostava de lembrar das festas de Achiroppita e da lenda sobre a santa, relatada por seu avô paterno que morava na Rua Rocha.

Lembrava dos piqueniques no parque Trianon, dos passeios no Jabaquara, Pinheiros, Vila Prudente, Campo Limpo, Santo Amaro, Campinas, Caçapava, Parque Ibirapuera e a outros lugares, juntamente com seus pais e familiares.

Não esquecia Adorinan Barbosa cantando no bar de sua tia Carmela e das festas e bailes na Rua Almirante. Cozinhava muito bem, preparando massas caseiras de pães, pizzas e doces. Fazia também temperos e pastas como a sardella, que aprendeu com suas tias Gemma e Laura.

Criou e educou dois filhos praticamente sozinha, trabalhando alegremente para nos sustentar. Era excelente vizinha, quase uma assistente social, ajudando a todos que necessitavam e não medindo esforços e nem tempo para isso.

Faleceu aos quase 75 anos em fevereiro de 2008, na cidade de Angra dos Reis, cidade que tanto amou e adotou para viver.

Esta é uma pequena homenagem que faço a alguém que realmente fez a diferença na vida de muitas pessoas, dando um exemplo de solidariedade, esperança, otimismo, disposição, amizade e amor incondicional.

Minha querida mãe, jamais te esquecerei, guardarei como um tesouro tudo o que arduamente nos ensinou, repassando com o melhor de mim, o máximo que puder, visando a criação de novos valores. Muito obrigada!

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