Marcas que o tempo deixou

Lá estou eu, buscando na minha memória por algumas lembranças, e é assim que me vejo: menina, vestida de azul e branco, no Colégio Estadual Nossa Senhora da Penha, com a saia pregueada e enrolada na cintura para ficar mais curta. Bem, todas as garotas faziam isso, e só deixávamos a saia no seu comprimento normal quando o diretor ou a orientadora nos chamava a atenção, mas, logo em seguida, a enrolávamos novamente. Era a moda!<br><br>Nestes meus anos escolares lá no colégio, tive muitos professores, mas uma chamou a atenção por ser muito jovem, muito bonita e de um conhecimento de dar inveja: nossa querida professora Dirce Morse. Dotada de tantos requisitos, era uma das únicas que sabia ensinar – coisa rara nos tempos antigos, em que a preocupação era apenas passar longos conteúdos e nada mais. Ela logo se destacou pela capacidade, humildade, simplicidade e pela coragem de aproximar-se de seus alunos como amiga, sem deixar de ser uma grande mestra (antigamente, entre professor e aluno, existia uma distância). <br><br>Aos poucos, nossa grande mestra foi nos cativando com sua forma de ser, e rapidamente nós, alunos e famílias, lhe adotamos como nossa melhor amiga. Uma mestra que entendia nossa linguagem, nossos sonhos, nossas queixas e desejos. Quantas vezes fez excursões para colaborar e ampliar nosso conhecimento, quantas vezes juntou-se a nossa turma para que nossos pais permitissem saídas à noite em algum lugar aqui de São Paulo, quantas risadas, quantos momentos de sua vida ela carinhosamente nos dedicou.<br><br>O tempo passou e cada um seguiu seu destino, e a nossa bela Dirce também, mas depois de quase quarenta anos, tivemos o privilégio de reencontrá-la – um presente de Deus! Foi um momento mágico e, em seus olhinhos, mesmo já marcados pelo tempo, consegui ver a mesma alegria, a mesma ternura, o mesmo carinho, e claro que não deu pra segurar, de ambas as partes: as lágrimas rolaram. Que emoção senti ao abraçá-la, agora mais fofinha, mais branquinha, mas com a mesma beleza de outrora.<br><br>Dona Dirce foi e continua sendo nosso ídolo, e ao contemplá-la atualmente, posso voltar no tempo e sentir que nada mudou em relação aos laços que nos uniu um dia. Esse nosso reencontro me fez entender que as experiências vividas, doces ou amargas, nos ensinam tantas coisas nesta vida, e uma delas foi sobre o amor: ele não morre, mesmo que as forças do nosso destino colaborem com as separações, e esta que ocorreu em nossas vidas não modificou nosso sentimento. <br><br>Hoje sei que o amor que sentimos por ela é simplesmente incondicional. Eu e todos seus alunos lá do Colégio Estadual da Penha sentimos orgulho de tê-la como nossa professora, amiga e grande mestra.<br><br>Nossos destinos voltaram a se cruzar, oportunizando-me dizer-te o quanto sou grata por tudo que fez por mim, meus irmãos e pela importância tão significativa que teve em minha vida e na de todos seus alunos. As marcas que ficaram com certeza foram positivas e deixaram saudades.<br><br>Sinta-se amada e merecedora das homenagens recebidas; você vale ouro e sempre será nossa professora nota máxima. Que Deus guarde e ilumine seu caminho sempre! Deixo aqui meu respeito, minha admiração e meu imenso carinho por você.<br><br>