Lua de mel de dois paulistanos

Inicialmente, meu respeito e amor aos meus pais, ambos já falecidos, exemplos de vida e honestidade, que sempre tinham muito amor e carinho para com todos que deles se aproximavam e cujas lições e conduta foram espelhos para filhos e netos.

Pois bem, feitas essas considerações, vamos à história: setembro de 1951, meus pais se casaram na Igreja São José do Ipiranga e estavam radiantes, pois iriam passar a lua de mel no Rio de Janeiro. Para a época e a origem, ambos de famílias humildes, ele morando no Bom Retiro ela, no Ipiranga, os dois operários, era uma viagem dos sonhos, que prometia ser inesquecível.

Como a situação financeira não era das melhores, essa viagem só foi possível porque um parente caminhoneiro os levou até lá de carona, de caminhão, claro. A inusitada viagem dos noivos terminou na porta de um hotel de preços bem acessíveis, daqueles que tinham os quartos divididos por paredes que não iam até o teto, e um único banheiro em cada andar, com um detalhe as portas dos quartos só tinham fechadura por dentro.

Cansado da viagem, meu pai disse que ia descansar por alguns minutos enquanto minha mãe tomasse banho. Lá se foi à noiva, "camisola do dia" em punho, rumo ao banheiro. Na volta, quarto trancado, ela de camisola longa, batendo suavemente na porta: "-querido, abra a porta…", uma, duas, três vezes e nada.

O tom de voz foi aumentando junto com o desespero, até que alguns hóspedes chegaram, tentando ajudar: "-ele tem sono pesado?" "-já fez isso antes?" "-Não sei", dizia minha mãe, "-nunca dormimos juntos", "-é nossa lua de mel…"; não se esqueçam que estamos falando de 1951…
"-Oh, Oh, não se preocupe, logo ele acordará", dizia um, tentando confortá-la; "-puxa, dormir na noite de núpcias, com uma noiva tão bonita…", dizia outro, nem tão solidário.

O número de pessoas ia aumento e o tempo ia passando. A essa altura, o porteiro, solícito, trouxe uma escada, subiu até a altura que dava para ver o quarto de cima e, vendo meu pai refestelado, de atravessado, pés para fora da cama, preocupado, disse: "-Sinto, dona, acho que ele morreu, porque jogado na cama daquele jeito, sem se mexer com essa barulheira, só estando morto".

Minha mãe agora, além de constrangida, entrou em desespero, até que alguém teve a brilhante idéia de jogar um pouco de água em cima de meu pai, que imediatamente acordou assustado e não entendendo nada e correu para abrir a porta. Tumulto desfeito, minha mãe, agora raivosa, agradeceu a todos e entrou.

É desnecessário dizer que naquela noite, a "camisola do dia" continuou até de manhã no corpo dela, ficando a noite de núpcias para outro dia. Foi assim que minha mãe descobriu que meu pai tinha sono pesado, pesadíssimo…, mas, como qualquer mulher faria, escolheu como vingança, incluir essa história no folclore da família assim que voltaram para o Ipiranga.

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