Em 13/02/2008 o site São Paulo Minha Cidade publicou, de minha autoria, o texto "Litro de Leite”, no qual eu recordava como se davam as entregas de pão e leite na porta de casa. O texto fez sucesso por suscitar muitas recordações dos leitores e autores do site. Em 05/12/2011, lendo o jornal O Estado de São Paulo, deparei-me com uma reportagem feita por Márcio Pinho, que muito me surpreendeu pelo título: "O leiteiro que ainda vai de porta em porta".
Pois é, amigos, o senhor Sebastião Nunes, de 57 anos, afirma que há trinta anos exerce essa profissão. Ao lado das caixas de correio existem também os compartimentos, como antigamente, para depositar o leite fresco, dos quais Sebastião possui as chaves, 45, segundo ele. O vasilhame não é mais de vidro, as garrafas são plásticas.
Esse tipo de leite, diferentemente do leite em caixas fechadas à vácuo, sofre um processamento mais caseiro, chamado de pasteurização, assim descrito no jornal:"… É considerado pelos fabricantes como leite vivo. O processo foi inventado no séc. XIX pelo cientista Louis Pasteur, que consiste em matar as bactérias patogênicas presentes no leite da vaca e mantém aquelas saudáveis ao organismo humano. É o caso dos lactobacilos, benéficos para a flora intestinal. Isso torna o leite pasteurizado mais perecível do que o longa vida, que passa por outro processo, que elimina as bactérias que deterioram o produto, permitindo o armazenamento por meses…".
Estas informações nos fazem recordar que, como não tínhamos geladeira, era preciso ferver o leite e deixá-lo subir, sem derramar, pelo menos duas vezes. Eu, particularmente, torcia para o leite "talhar", como dizia minha mãe. Era uma coalhada deliciosa! Mas voltemos ao nosso entregador atual de leite.
O nosso leiteiro atual faz entregas nos bairros de Moema e Morumbi. Inicia seu trabalho por volta da meia noite, depois de ter ido à central de distribuição da marca Xandô, em São Paulo, no bairro do Butantã, onde carrega 215 garrafas. O leiteiro de nossas memórias tinha uma carroça, lembram-se? O senhor Sebastião, como um bom leiteiro moderno, tem um Fiat Uno branco: “Os bancos de trás foram retirados e a parte interna ganhou um revestimento térmico para que o leite chegue a seu destino com uma temperatura de 9º C. Um jaleco azul usado pelo leiteiro completa a apresentação. O senhor Sebastião faz mais de 100 entregas, até às 5h ou 6h. Em cada parada, Sebastião abre com rapidez a portinhola semelhante a um carrinho de sorte instalada na lateral do veículo para retirar as garrafas. Se abrisse o porta-malas, o micro clima frio se perderia".
Parece que, mesmo nos tempos modernos, algumas práticas ainda resistem. O gerente geral da Xandô, Daniel Teixeira de Figueiredo, disse ao repórter que as entregas domiciliares ainda têm bastante mercado e cita São José do Rio Preto, no interior de São Paulo como um exemplo: são 10 mil clientes cadastrados para entrega em domicílio.
Só não encontrei notícias de que em São Paulo ainda existam os vendedores domiciliares de leite de cabra. Já comprei uma garrafa de leite de cabra, da Xandô, em uma padaria próxima de minha casa, mas não consegui sentir na boca o sabor dos velhos tempos, de cabra na porta, balançando um sininho no pescoço para avisar de sua chegada e o bigode de espuma quando bebíamos aquele leite gostoso, morninho, tirado na hora! Acho que a Vigilância Sanitária não mais permite as velhas práticas alimentares.
E-mail: [email protected]