Era preto, quatro portas, impecável, carro de praça do nonno do Adhemar. Ele me conta que o ponto do nonno era atrás do Teatro Municipal, no famoso Hotel Esplanada, hoje sede do Grupo Votorantim.
Caramba, mas um carro com 12 cilindros na praça! O nonno vivia com uma flanela na mão limpando o carro o tempo todo e se alguém inadvertidamente tocasse o possante, ouvia poucas e boas.
Ele morava na Raul Pompéia, num terreno de 8 metros por 120 metros, frente também para a Barão de Bananal. Ele tinha construído essa casa e outra ao lado para a mãe, atualmente o terreno ocupado por um grande condomínio, lógico.
Ele foi motorista por muitos anos e o Adhemar pequeno, com dez anos, lembra dele sempre cuidando do carro. Perguntei, mas o Adhemar garante que nunca andou no carro do nonno.
Eu também posso garantir uma coisa. O Adhemar é o único cara que eu conheço que recebia dos parentes da Itália aquelas latas fechadas de estanho com queijos pecorinos dentro.
– Pecorinos Adhemar, tem certeza que eram pecorinos aqueles queijos com bichos?
– Acho que sim, pois na Itália só fazem queijo de leite de ovelhas, pecoras, pois não tem espaço para criar vacas…
– Mas Adhemar por que eles mandavam os queijos naquelas latas com seis lados e doze soldas de estanho?
– Pedro, era para durar. Quando eles começavam a soldar, o ar dentro da lata ficava muito quente e iam fechando os últimos lados e com o calor e as moléculas de oxigênio muito quente, depois de tudo fechado esfriava e criava um vácuo que conservava o queijo por muitos meses.
– Adhemar, e aquele óleo que vinha junto?
– Era do próprio queijo.
– Pois é Adhemar, você é o único cara que eu conheço, como eu, que comia o queijo com bichinhos vindo da Itália com o nonno. E com pão italiano para pegar os bichos.
– É Pedro, e com vinho.
– Sabe que eles mandavam também um vinho branco espumante com as rolhas amarradas que eles mesmos faziam. Moravam na cidade de Tito.
– Bons tempos.
– Acho que sim, Adhemar. Depois nunca mais comi aquele queijo, meio escuro parecendo uma manteiga, com os bichinhos… o sabor ficou até hoje!
Sobre o carro do nonno dele, preferi não falar nada para o meu amigo. Acho que ele estava certo em cuidar do carro. Eu consegui com 18 anos capotar o carro do meu nonno, e deixar na garagem de madrugada para ele encontrar o carro batido de manhã. Pode?!
E-mail: [email protected]