Levei o maior fora

Local – bairro de São Miguel Paulista, extremo leste da cidade de São Paulo, este fato passou no ano 1970, dia 21 de julho, campeonato mundial de futebol no México, o Brasil iria disputar a final com a Itália. Neste dia os brasileiros estavam todos eufóricos com a disputa da final do campeonato mundial tendo o Brasil como finalista, mais ainda seria a primeira transmissão da TV ao vivo, acompanhada de outra novidade: a televisão em cores que começava no Brasil, e ainda o futebol brasileiro estava desacreditado depois do fracasso de 1966, na Copa da Inglaterra. Então, aquele foi um momento especial para todos os brasileiros, afinal estávamos disputando a final da Copa com os nossos melhores jogadores: Pelé, Gerson, Tostão, Carlos Alberto, etc.

Reunimo-nos como fazíamos sempre em nossa modesta casa, no Bairro de São Miguel Paulista, não faltaram os meus pais, irmãos, tios, tias, amigos, mais ou menos umas 30 pessoas, fizemos o maior churrasco, não faltou a famosa caipirinha que meu pai preparava com o maior carinho, tinha também uma bebida muito popular da época, pois era uma opção muito barata, o famoso Samba (coca-cola com pinga), e não podia faltar as cervejas bem geladas, na época só de garrafa, etc., com a maior euforia, gritaria, assistimos o jogo, e torcíamos para o nossa Seleção, o Brasil arrasou, ganhamos de 4X1 da Itália. Euforia total, comemorações nas casas, ruas, e tudo regado por muita bebida.

À noite no clube onde moro, o Nitro Química, em São Miguel Paulista, clube este que era o ponto de encontro para muitos eventos do bairro, improvisou um baile, o qual foi chamado de Baile da Vitória, lá fomos nós para o clube, todos muitos chapados. No baile, totalmente com o ritmo de carnaval, conheci uma linda jovem com quem fiquei e dancei à noite toda. Fui levá-la para casa juntamente com os irmãos dela, e aí rolou o começo de um namoro.

Marquei um encontro com a jovem para terça-feira na estação de trem, de São Miguel Paulista, pois era o meio mais popular de transporte da época, não existia nem projeto de metrô, estação de trem esta de onde íamos todos os dias Bairro/Centro, quando cheguei lá estava ela com seus irmãos, aproximei-me, tampei seus olhos e a beijei na face, os irmãos dela ficaram me encarando, tirei as mãos dos olhos da jovem, e ela estranhamente falou:

– “Quem é você não te conheço?”

Indignado, respondi:

– “Como não? Sou o Roberto, do Clube Nitro Química, do baile… Marcamos o encontro para hoje! Você se esqueceu?”

Ela respondeu:

– “Roberto!”

– “O Roberto que eu conheci é cabeludo, você está com a cabeça raspada, não te conheço!”

Dei um monte de risadas, e respondi:

– “Sou eu mesmo, raspei a cabeça porque fui obrigado!”

– “Como?”

Expliquei que fui me alistar no exército e levei minhas fotos com a enorme cabeleira e não aceitaram a foto com os cabelos compridos, pois era regra naquela época, diga-se época do regime militar, falaram que tinha que ser com o cabelo bem curto, e aproveitando a barbearia do exército, que era de graça, cortei o cabelo ali mesmo, só que o barbeiro que era um soldado do exército para zoar passou máquina zero, fiquei muito aborrecido com isto, pois perdi minha linda cabeleira.

Assim esclareci o mal-entendido, do “cabeludo para o careca" e todos nós rimos muito e seguimos nossa viajem até a estação do Brás, continuamos nosso namoro e depois de cinco anos, casei com a jovem que me deu o maior fora da minha vida, construímos nossa linda e amada família, e ontem, 21junho de 2013, completamos 43 anos juntos, infelizmente o Clube do Nitro Química fechou a alguns anos deixando nosso bairro, São Miguel Paulista, sem um local para novos encontros, como aconteceu comigo naquele local, lá naquele clube deve ter nascido muitos amores, relacionamentos e casamentos como o meu, valendo para sempre a lembrança do Baile da Vitória e tantos outros que lá fomos… Um forte abraço para todos.