Há certas passagens na vida que a memória se recusa a esquecer.
Numa dessas noites frias, quando em casa jantávamos e meu mano e família lá se encontravam, relembramos fatos marcantes e podemos dizer, até humorísticos que nosso pai foi personagem principal, eis:
1 – Máquina de costura:
Nossa mãe herdou da nossa avó e, como se uma relíquia fosse, a colocou na sala de visitas que ficava na parte superior do casarão onde morávamos quando crianças, aqui na Parada Petrópolis/Brooklin.
Certa ocasião ela teve que viajar para casa de parentes e foi sozinha, pois meu pai tinha que cuidar do Empório e nós tínhamos aulas.
Aí, um freguês, que era colecionador, quis comprar a mesma e meu pai a vendeu.
Meu mano Ito, ainda falou:
– “Pai, a mãe vai ficar brava”.
Nosso pai sequer o ouviu e a vendeu.
Dias depois ela retorna:
– “Cadê minha máquina de costura?”
Saímos de perto, pois nunca vimos nossa mãe tão brava.
Meu pai, mais que rápido, pegou dinheiro e foi com um amigo buscá-la. Quase que o comprador não a devolveu…
2 – Metro de pinga:
Certa ocasião apareceu um cara meio “bebum” que nunca tínhamos visto e, após pedir uma porção de mortadela e já tomando "umas", no final, pediu para nosso pai um metro de pinga.
O balcão era de mármore e meu pai, gozador que era, pegou um régua, marcou com um lápis e derramou a pinga, perfazendo um metro.
Ai, o “bebum” falou:
– “Agora embrulhe que vou levar…”
Até meu pai riu e levou na esportiva e como quem diz: nessa entrei bem…
3 – Copos de bebidas:
O Empório tinha, de um lado, o balcão onde só servia bebidas.
Certa ocasião, final de tarde, um freguês, Sr. João, que era pai de cinco de nossos amigos, foi com dois empregados dele. Ele possuía uma pequena fábrica de arcos de pua.
Já devia estar meio "alto" e mandava meu pai servir aperitivos e cervejas, ai ordenava aos empregados que após beberem, jogassem os copos no chão, no canto do balcão, para quebrarem.
Eles olhavam para meu pai e para o patrão, que ordenava taxativamente que jogassem os copos no chão. Meu pai nada falou.
Mano e eu lá na outra ponta do balcão só olhando e meu pai colocando copos e mais copos e eles tomando cervejas e quebrando um atrás do outro. Sorte que havia um bom estoque.
Final:
Sr. João:
– “Péricles (meu pai), quando devo?”
Meu pai falou:
– "Xis";
Ele pagou sem questionar e foram embora.
Olhamos indagando e meu pai disse:
– “Cobrei três vezes o valor de cada copo…”
Adivinhem para quem sobrou catar os cacos com a vassoura e pá e jogar no lixo e lavar o chão?…
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