Lembranças dos meus 7 anos

Minha história será diferente das demais, pois eu não era moradora da cidade de São
Paulo na época em que o fato aconteceu.

Era 1957 quando visitei São Paulo pela primeira vez. Foi com o meu pai que, sendo Juiz de Direito por vezes tinha que vir ao Tribunal de Justiça, e numa destas viagens me trouxe.

A viagem de trem, longa, mas cheia de novidades para uma menina, ficou na memória para o resto da vida. O restaurante do trem, com suas toalhas brancas e o mais saboroso bife com arroz e batata frita que já foi feito no planeta é outra lembrança que não se apagará.

Para uma menina que vivia em uma cidade onde não havia água encanada, nem energia elétrica, que frequentava o primeiro ano do grupo escolar numa antiga capela, pois no prédio da escola faltavam salas (vivíamos em Jales), visitar São Paulo foi um episódio que marcou.

Ficamos hospedados na casa de uns primos da minha mãe que moravam na Barra Funda, mais precisamente na Rua Lopes Chaves. Na manhã seguinte à nossa chegada fomos ao Tribunal e eu fiquei numa sala de espera com móveis centenários enormes e muito escuros que faziam com que eu ficasse ainda menor.

Retornando, fizemos uma caminhada (que jamais sairá de minha memória) pela deslumbrante Avenida São João, cheia de hotéis requintados, lojas com vitrines belíssimas e restaurantes elegantes, num dos quais almoçamos. Foi à primeira vez, de acordo com minhas lembranças, que almocei em um restaurante. Talvez não fosse isso tudo, seria assim só para mim, uma caipirinha de 7 anos vinda das ruas poeirentas de Jales, quem há de me dizer o contrário?

No outro dia andamos uns poucos metros da casa dos primos Didi e Lulu, e estes me compraram uma coisa maravilhosa: saída de um freezer que me pareceu uma caixa mágica, pintada de amarelo e estampada com a marca da Kibon – o mais delicioso sorvete que eu já havia provado na vida – "Eskibon", que continua a ser vendido até hoje.

No mesmo dia jantei com meu o pai em um restaurante na Avenida Rio Branco, e havia um grande aquário logo na entrada do restaurante. Foi a primeira vez que comi uma lagosta. Por fazer parte de um instante tão deslumbrante de minha infância, esse é um dos meus pratos preferidos.

Só retornei a São Paulo dez anos depois. Na época não tive a intenção de revisitar o restaurante. Só o fiz, anos mais tarde, em 1983, quando já tinha 33 anos.

Consegui identificar o meu primeiro restaurante, mas já era então um lugar extremamente popular, não guardava nenhuma lembrança do estilo que exibia na minha infância. Existe até hoje, é um dos quatro cantos onde podemos avistar, na frente, o prédio dos Correios. O restaurante da lagosta… Nem faço idéia do local exato e do que aconteceu a ele.

Ficará para sempre na minha memória o deslumbramento de uma menina visitando a Avenida São João em 1957.

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