Flavio Luiz foi sempre um dos meus melhores amigos de infância e juventude, a muito se formou engenheiro vivendo desde então nos E.U.A., em 1960 adquiriu cidadania americana.
Trabalhamos na mesma empresa, quando deixei a firma em 1953 onde eu era office-boy e ingressei no Seminário Diocesano São José em São Vicente – SP, em minha vaga deixei o Flavio Luiz.
Estávamos sempre juntos e só distantes no futebol (por incrível que pareça em nossa adolescência acontecida entre 1949 e 1956, o paulistano respirava futebol, eram times e campos de futebol por todos os lados, quase todos os candidatos políticos, estavam ligados a times varzeanos, distribuindo camisas e bolas como brindes a caça dos votos). Flavio não queria nada com o futebol, não jogava e não torcia por nenhum time profissional como também não frequentava ou assistia nem mesmo nossas peladas. Eu acho que foi o único amigo que nem tomou conhecimento ou ficou chateado quando o Uruguai nos enfiou pela goela abaixo aqueles 2 a 1 no Maracanã na Copa de 1950.
No mais éramos parceiros em quase tudo, bailes pelas redondezas da Freguesia do Ó, cinemas do mesmo pedaço paulistano, Cine Clipper, Cine Piqueri, Cines Tropical, Recreio e Carlos Gomes na Lapa, Cine São Carlos na Água Branca, como também quase todos os antigos do Centro Velho de Sampa.
Depois como sempre acontece cada um seguiu o seu caminho, ele foi para a América do Norte, e eu mudei para outra rua, mas todo final de ano me encontrava com ele, que nos Natais sempre visitava sua família, foi numa dessas vezes que eu acabei conhecendo a Laura, sua futura esposa, uma americana muito bonita e que falava português muito bem, mas com aquele famoso e conhecido sotaque americano.
Acontece que Flavio e Laura, logo depois do nascimento de sua filha, acabaram se divorciando de forma não muito amigável e o Flavio foi obrigado a dar um pagamento mensal a sua filha até a mesma completar 21 anos (pagamento esse que Flavio sempre julgou exagerado e bem acima do necessário).
Mas como com a corte americana não se brinca… Flavio Luiz, mesmo contrariado e sempre reclamando, foi pagando religiosamente a quantia exigida.
O tempo passou, a filha completou 21 anos, Flavio então ficou muito feliz por emitir o último cheque da pensão que paga à sua ex-mulher há exatamente 20 anos e 11 meses.
Pede então para essa sua filha levar o cheque para sua mãe pedindo para a mesma ao entregá-lo dizer que este é o ultimo cheque. Pediu ainda para a filha voltar rapidinho e contasse para ele como ficou a cara da mãe.
A filha entrega o cheque à mãe, ouve o que ela diz e volta para a casa do pai, para dar-lhe a tão esperada resposta.
– “Diga-me, filha, qual foi a reação da sua mãe ao receber o cheque?”
– “Ela mandou lhe dizer que você não é o meu pai!”
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