As "meninas" que frequentam este site seguramente se lembrarão desta passagem tão marcante em determinada época de nossas vidas e que tentarei levar para papel.
As moças e os rapazes moradores de bairros, amigos desde a infância e que conviviam diariamente e, às vezes, estudavam na mesma escola, nem sempre tinham condições de frequentar os clubes elegantes da cidade, a não ser em festas de formatura ou casamentos. Os mais afortunados podiam gozar do privilégio de serem sócios de conhecidos clubes, como o Tietê, Pinheiros ou Paulistano.
E os demais? Bem, os demais se reuniam, principalmente nos finais de semana, na casa de um dos integrantes da turma que possuísse uma boa radiola, bons discos e pronto: a festa estava feita! Eram as conhecidas "Brincadeiras dançantes".
Os convidados contribuíam levando refrigerantes, salgadinhos ou discos, e destes os mais solicitados eram os de Waldir Calmon, Silvio Mazzuca e Ray Conniff. Às vezes pintava, clandestinamente, um litro de Rum para a Cuba Libre, o que não era bem visto pelos pais anfitriões. Outra exigência era luz, muita luz! Nada de escurinho, nada de "luz difusa do abajur lilás" para evitar que os mais afoitos avançassem o sinal; e tudo corria dentro do maior respeito e confraternização. O "ponche" era por conta da casa.
Dessas agradáveis reuniões nasceram incontáveis namoros, noivados e mesmo casamentos, iniciados a partir de um flerte ou ao som de um fox ou bolero, ritmos bastante requisitados porque criavam a atmosfera romântica. Minha parceira predileta para dançar era a Glauce, que permitia uma aproximação maior e nossos corpos se entendiam e nossas mãos se apertavam e nossos hálitos se confundiam. Onde andará você, Glauce, ó doce e generosa Glauce!
De quantas mãos senti o suave contacto, quantos rostos macios e delicados se "colaram" ao meu, quantos perfumes permaneceram para sempre em minha já fatigada memória. Muitas vezes, na madrugada, entra, pelas janelas de meu quarto, suave música, vinda sabe-se lá de onde; então fecho meus olhos, aperto a mão de minha amada companheira e me transporto, como num sonho, àquelas inesquecíveis reuniões que embalaram minha distante mocidade. Revejo sorrisos bonitos, semblantes felizes, faces amigas que seguiram seus destinos e imagino, sinceramente, que todos, onde quer que estejam, ainda ouvem, como eu, o alegre esperado convite: "Hoje tem brincadeira"!
Tudo passa…
P.S. "A saudade que dói mais fundo – e irremediavelmente – é a saudade que temos de nós mesmos".
(Mário Quintana)
e-mail do autor: [email protected]