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Categoria - São Paulo do século XXI Anhangá, Um Pobre Diabo Autor(a): Chico Pascoal - Conheça esse autor
História publicada em 10/03/2015
Duzentas árvores caem durante a noite por obra de um sopro forte insuflado por entre os cânions de concreto. Semáforos enlouquecem. Raios rasgam os céus ameaçando caudais mofinos, orvalhos. O caos do trânsito repete-se à exaustão. Assim como a violência. A virulência. O descaso. O desacato. A intolerância. A indigência. Mas, há ainda algum espaço para o humor, o amor, o abraço.
 
Ônibus ardem feito piras em honra aos deuses pagãos. Gente a transbordar, a entupir as vias intestinas da Megalópole. Gente nas filas. Nos museus. Nos hospitais. Nos terminais de ônibus. Filas da opressão. Filhos da opressão. Encanto e desencanto. Idas e vindas. Encontros e desencontros. Paixões exacerbadas. Medo e fome. Grana. Gana. Gol.
 
E a cidade não pode parar. Voraz engole seus vizinhos, se alastra.
 
No centro velho, fantasmas. O jesuíta de brancas cãs, o cacique valoroso e sua bela filha, os sertanistas intrépidos com sua desmedida ambição assistem a tudo estupefatos. Não assombram ninguém, coitados, antes se assombram.
 
O rio em cujas águas batizaram seus descendentes e por onde avançaram pelos rumos do sertão, esconde-se agora sob avenidas, com vergonha dos seus graus de impureza.
 
Anhangá também já não mostra sua face desde que invadiram o seu refúgio. Quem passa de carro pelo túnel escavado no coração da cidade vai dar bola para um pobre diabo? Ou o ignora como se fosse invisível (embora ele talvez ainda tenha o poder de sê-lo se o quiser); ou o temem. Pois baixam o vidro fumê e aceleram fundo (quando podem acelerar).
 
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Publicado em 12/03/2015

Chico, seu relato nos mostra uma dura realidade desta cidade gigantesca, parabéns pelo seu texto.

Enviado por Nelinho - [email protected]
Publicado em 11/03/2015

Com toda certeza meu caro Chico. Eu do alto dos meus 74 anos aguardo o dia de me transformar, também, em um fantasma paulistano e começar a rondar suas ruas, avenidas e vielas.

Enviado por Miguel S. G. Chammas - [email protected]
Publicado em 11/03/2015

Chico, não conhecia esse termo, anhangá, pesquisei e entendi seu texto muito bem escrito, e como temos anhangá pela cidade, pelos bairros e muitos pela nossa imaginação, parabéns, Estan.

Enviado por Estanislau Rybczynski - [email protected]
Publicado em 11/03/2015

Um belíssimo passeio pela nossa formidável cidade de São Paulo, gritando e berrando pelas dores sentidas em cada arvore tombada. Se o Anhangá emergisse, de repente, teria, por direito, tomar posse de seu sítio, se enamorando eternamente pelo Viaduto Do Chá. Parabéns, Chico Pascoal

Enviado por Modesto Laruccia - [email protected]
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