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Categoria - Outras histórias Rua Dias de Toledo - Saúde - Anos 60 Autor(a): Rubens Pereira - Conheça esse autor
História publicada em 31/03/2015
Quando nasci, meus pais moravam na Rua Dias de Toledo nº 241, no Bairro da Saúde. Nasci em 1958, portanto quando “me conheci por gente”, como se falava, estávamos nos anos 60.
 
Naquela época, era um bairro de periferia e o meu endereço era um dos mais pobres. A rua não era asfaltada apesar de contarmos com água encanada e iluminação pública. Na minha rua, não passava o caminhão do lixo e sim a carroça, isso mesmo, era uma carroça e me lembro bem tinha três cavalos puxando, sendo que um deles era muito pequeno. Eu tinha muita pena dele porque percebia que ele tinha que fazer um esforço enorme para ajudar a puxar aquela carroça pesada.
 
O lixo era deixado em latas parecidas com as latas de tinta de hoje em dia, deixadas pelos moradores sobre os muros da casas, todos muito baixos, os quais os lixeiros pegavam, despejavam na caçamba da carroça e jogavam de volta sobre as calçadas. Não havia sacos de plástico, então o lixo ficava ali, cercado de moscas e muito mau cheiro.
 
É por isso que os cães de rua até hoje são chamados de vira-latas.
 
Também me lembro que todos chamavam os funcionários da limpeza de lixeiros e, certa ocasião quando uma mulher da vizinhança chamou a um deles assim ele respondeu: 
- Minha senhora, eu não sou lixeiro. Sou coletor de lixo. 
Muito digno!
 
A casa em que eu morava era de aluguel e ficava nos fundos. Para chegar até lá, era preciso passar pelo quintal de outra casa, a qual ficava mais ou menos no meio do terreno porque a parte da frente não tinha construção alguma; só tinha grama, que a família da proprietária das casas usava para “quarar” a roupa e tinha alguns varais também.
 
Quarar a roupam era assim: para tirar as manchas ou simplesmente para deixar as roupas brancas mais claras, depois que as peças eram lavadas as mulheres colocavam anil ou só um pouco de sabão e estendiam as roupas ainda molhadas sobre a grama, mas era preciso que o dia estivesse ensolarado.
 
As nossas brincadeiras eram: jogar bola de gude na calçada, que era de terra; pique esconde, mãe da rua, sela, bater figurinhas, jogo de botão, carrinho de rolemã, jogar bola (ou alguma coisa parecida com uma bola porque bola de couro mesmo era muito cara); soltar pipa (na época não chamávamos de pipa e sim de “quadrado”. O quadrados podiam ser de vários tipos: raia, maranhão, barraca, peixinho, capuxeta).
 
A maioria das pipas que se empinam hoje em dia, eram chamadas de maranhão; tem uma armação composta de cinco lados e um rabo bem comprido, mas os meus preferidos eram as raias. Seria complicado explicar como eram. Eram muito bonitas e para quem não conheceu, só desenhando.
 
Em resumo, talvez hoje em dia seja impossível encontrar alguma cidade em nosso estado, por menor que seja, em que exista ainda algo parecido com a minha rua na cidade de São Paulo naquela época.
 
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Publicado em 07/04/2015

Eu nasci dois anos antes ou seja 1956, e lendo esta história voltei a quase 50 anos no passado, sou irmão do Rubens e lembro que nosso país pintava a lata de lixo e pintava o número da nossa casa na lata.

Enviado por Alberto Tadeu Pinto Pereira - [email protected]
Publicado em 02/04/2015

Pois e Rubens como as coisas mudaram , apesar de sermos de geracoes diferentes pois em 58 eu ja era casado ,portanto pelo menos uma geracao mais velho.Mas entra ai aquela frase sempre repetida "eramos felizes e nao sabiamos" quadrado , capucheta , jogo de bolinhas de gude,carrinhos de rolema que eu mesmo construia com a ajuda dos ferros velhos da Rua Piratininga donde eu ia compra-las e era quase sempre presenteado pelos espanhois que dominavam aquele comercio. Daquelas carrocas de lixo tenho uma ma lembranca , pois tinha ido com meu avo no cinema Babilonia ao lado do Largo da Concordia e quando saimos isso ja pelas dez da noite iamos caminhando pela avenida e bem do lado das porteiras do Bras , eu devia ter uns 12 anos.Tinha uma carroca com quatro cavalos estacionada , e ao passar ao lado , passei a mao na trazeira de um deles, e para minha surpresa tomei um coice na cocha que me mandou longe , para minha sorte nao houve fratura mas a marca roxa ficou na minha perna por semanas assim tambem como a dor. Dai para frente sempre mantive distancia dessas eguas dos carrocoes. Muito boa tua lembranca da infancia de outrora e tao diferente nos dias de hoje. Abracos Felix

Enviado por João Felix - [email protected]
Publicado em 02/04/2015

Apesar de ser de uma geração anterior, lembro bem destes folguedos de nossa meninice. Realmente, a tranquilidade de um tempo menos apressado, menos desgastante, permitia uma segurança maior. Sem desprezar a tecnologia moderna, em muitos aspectos, vivia-se melhor. Parabéns, Rubens.

Modesto

Enviado por Modesto Laruccia - [email protected]
Publicado em 01/04/2015

Rubens, que bom relembrar os tempos da infância e adolescência, eu também morei em rua sem calçamento e a carroça que colhia o lixo passava 2 vezes por semana,parabéns pelo saudoso texto.

Enviado por Nelinho - [email protected]
Publicado em 01/04/2015

De fato quem transportavam lixos eram carroções, recordo que tinha uma cocheira na Estrada das Lágrimas, local onde abrigavam os carroções.

Enviado por TANGERYNUS - [email protected]
Publicado em 31/03/2015

Rubens é muito gratificante relembrar os anos 60 dos quais eu faço parte com estas suas lembranças...Voltei ao tempo e lembrei que a minha rua era de terra e com muitos terrenos baldios em todo o quarteirão por isso a carroça do lixeiro passava a dois quarteirões distantes da casa simples onde eu morava e as poucas casas existentes jogavam o lixo no terreno imenso da esquina e colocavam fogo Lembro até hoje que batíamos com um pedaço de pau na fogueira e levantava faíscas na qual chamávamos de estrelinhas, era um mundo mágico do qual nós crianças nos divertíamos com o que tínhamos.

Enviado por Walquiria - [email protected]
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