Leia as Histórias
Nasci no Moinho Velho, Ipiranga, mais propriamente na Rua Dravinha, nº 9 (porque existia - e ainda existe a Rua Drava). Rua curta, mais ou menos 100 metros. Rua de terra batida, em declive não muito acentuado e que se caracterizava com a bela paisagem que existia. Ao longo da rua podia ser visto o Alto do Ipiranga, sem prédios ou construções altas. Quando chovia a rua transformava-se em barro e dificultava o tráfego de carroças. O lixo era coletado por uma carroça puxada por cinco cavalos; o leite era entregue em uma pequena carroça, fechada com uma porta na traseira e no interior algumas pedras de gelo. Correio...nem pensar. Gás, absolutamente nenhum. Os fogões eram aquecidos com carvão vegetal. Aliás, meu pai, no fundo do quintal, construiu um barracão de mais ou menos 50m² e o transformou em carvoaria e eu, sem poder reclamar, era o pequeno carvoeiro. Mas a profissão tinha lá suas vantagens. O carvoeiro necessitava de um bom banho à noite e isso somente era possível em uma banheira. Sim, minha casa possuía uma grande banheira de ferro, água de poço, aquecida com eletricidade e o indispensável sabão de cinzas, habilmente feito pela minha querida mãe (soda cáustica, restos de sebo de carne e cinzas de carvão queimado). Era uma beleza o banho cuja água terminava totalmente negra por causa do pó do carvão. Pois bem, na frente de minha casa meu pai colocou uma pequena placa, mais ou menos com estes dizeres: Carvoaria B.B. B.B. eram as letras do nome do meu pai, Benjamin, mas, as pessoas da época, ou melhor, os moradores da rua diziam "carvoaria bem bravinha", conotando o fato de meu pai ser muito sisudo. A rua, ao depois da segunda guerra mudou de nome e acredite quem quiser, a placa, inexplicavelmente, foi substituída por esta: RUA BRAVINHA. Até hoje não sei porque, é evidente que as alusões feitas pelos moradores é uma grande coincidência. A. Burgarelli.
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Interessantíma a memória do Bairro onde V.Excia.nasceu e tudo o que viveu em sua infancia.
Conhecendo-o pessoalmente, embora não nos vejamos ha muitos anos, sua história de vida é um exemplo e deveria publicar uma biografia de sua vida, para exemplo aos mais jovens.
Abraços Enviado por Marilia e André Infanti - [email protected]
Viajei no tempo com seu relato. Meus avós eram italianos e moravam em um belo casarão neoclássico aqui em Belo Horizonte. O banheiro tinha a banheira de ferro e minha avó fazia o sabão de cinzas com a gordura de porco e cinzas do fogão a lenha que ficava na cozinha e fornecia também água aquecida para os banhos através da serpentina de cobre que dele saia.
O leiteiro passava de manhã em um caminhão e os moradores faziam fila para "tirar o litro", que era medido por uma torneira com uma garrafa grudada e virada para cima. (Anos 60)
Na pia do lavabo da sala de jantar, havia um sabonete bola pendurado por uma correntinha.
Essa casa era praticamente autosuficiente, pois quase tudo o que a família necessitava era produzido por lá mesmo. Tinha horta, pomar completo, criação de galinhas, porcos, cabras, coelhos, patos, oficina de marcenaria, quarto de costura com máquina de bordar e outra para só costurar, adega(que guardava além de vinho e aguardente, mantimentos, compotas etc.
Tudo isso em um terreno na área central de BH e com uns 1000m + ou -.
Não existia o desperdício, tudo era muito lógico. Uma pena se perder isso em troca dos confortos atuais.
Saudações,
Beth Enviado por Beth - [email protected]