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Categoria - Personagens Amigas e vizinhos tatuados em meu coração... Autor(a): Walquiria - Conheça esse autor
História publicada em 14/08/2014
 
A vida não parou para ninguém. Os dias passam, os meses correm e os anos voam, mostrando sempre um número a mais no calendário... Dizem que se começa a viver depois dos 40, eu nem sei o porquê dessa lenda, mas sei que depois dessa idade a gente começa a perceber a vida passar tão rapidamente que quando olhamos para trás parece que os últimos anos foram ontem...
 
Aí a gente para, e em determinados momentos nos lembramos da infância, da juventude... Se esforça para lembrar com exatidão de detalhes daquela época, que talvez por serem tão corriqueiros, nosso cérebro não conseguiu gravá-los como gostaríamos... Mas houve momentos em que nem o tempo e nem a vida, cheia de atribulações, nos deixam esquecer...
 
Morei na Vila Nivi, na Zona Norte de São Paulo, dos três aos doze anos de idade, e nunca esqueci a Dona Madalena - eu já prestei uma homenagem a ela neste site – a Dona Manoela, Dona Zuíla, Dona Tite, Dona Adélia (da quitanda), Sr. Waldomiro (farmacêutico), Sr. Amauri (da venda)... Foram todos meus vizinhos. E minhas amigas tão queridas desta época: a Regina, Sônia, Conceição, Edenir e Luiza. Lógico que eram muito mais, mas estas nunca se apagaram das minhas lembranças.
 
Lembro perfeitamente da voz e do sorriso da Dona Helena, merendeira (também já postei para ela neste site); da voz e da meiguice da Dona Mirna, minha primeira professora; e da seriedade da Dona Mitiko, minha segunda mestra.
 
Mas, as lembranças mais doloridas e saudosas são as da adolescência. Nesta época me mudei para o Jardim Brasil, também na Zona Norte. O lugar era apenas brejo e mato. Não tinha luz e a água do poço era barrenta e com um gosto insuportável... O ponto de ônibus mais próximo era na Vila Gustavo, um bairro vizinho, e a escola era no Parque Rodriguez Alves ou no Parque Edu Chaves – estudei em duas escolas diferentes.
 
Como já comentei no site várias vezes, nesse tempo nossos pais compravam um terreninho em Chimbica da Serra e levantavam dois cômodos nos finais de semana. Era para lá que iam as famílias: para fugirem do aluguel e terem a casinha própria. Não tinha bolsa família, nem vale leite, nem cesta básica... Nossas mães tinham a obrigação de educar e encaminhar os filhos para “o caminho do bem”. Cumpriam este papel com responsabilidade, pois a sociedade e as leis as cobravam isso, trabalhando fora ou dentro de casa.
 
Nesse bairro senti os momentos mais cruéis da pobreza. Era jovem e queria ter ao menos uma roupa “de marca” da época. Eram as da “jovem guarda”: uma bota da Wanderléia e uma blusa de ban-lon de gola olímpica amarela, igualzinha a da Elis Regina. Embora minha mãe costurasse para todos nós, com retalhos ganhos ou reformando roupas - também ganhadas de patroas nas casas onde fazia faxina -, isto não era bom. A gente queria poder comprar iguais as das amigas da escola... Hoje penso o quanto minha mãe devia sofrer calada, nos vendo querer e não podendo dar.
 
Foi no Jardim Brasil que minha mãe educou e casou todos os filhos, um a um, e também foi lá que deixei para trás vizinhos tão queridos e solidários. Como o Sr. Arlindo (também homenageado neste site) e sua mulher Dona Maria. Sua filha Célia foi uma amiga inesquecível que sempre povoa os meus pensamentos e me traz muitas saudades. O Jango e a Nilza, o Careca - que era motorista de táxi e me levou para a Igreja quando casei -, e sua mulher, tão altiva e educada, que era muito querida por todos na rua... A Dona Maria, vizinha ao lado com o Sr. Manuel e um monte de filhos - igual minha mãe. 
 
Foi lá nesta rua, neste bairro que ficaram as lembranças boas e ruins, de um tempo de muita luta e de muita pobreza, mas de muita união e respeito!
 
 
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Publicado em 19/08/2014

Wal, você tem uma riqueza de espírito que dinheiro nenhum no mundo pode comprar.

Enviado por Julia Poggetti Fernandes Gil - [email protected]
Publicado em 18/08/2014

Pois é Walquiria, fragmentos do passado sempre rendem bons textos. É muito bom lembrar de nossa infância e juventude, mesmo que tenham sido tão sofridas. Sempre sobram coisas doces.

Enviado por Miguel S. G. Chammas - [email protected]
Publicado em 18/08/2014

Demonstração de respeito e amor pelas antigas amizades, sempre destacando a boa memória em reter momentos inesquecíveis.

Um texto limpo e bem redigido, Wal, vc enobrece e enriquece a plêiada de colaboradores. Parabéns, Walquíria.

Modesto

Enviado por Modesto Laruccia - [email protected]
Publicado em 18/08/2014

Você foi pobre????? Não!!! suas lembranças ,mostram o quanto você sempre foi rica de alma e espírito. Esta é a maior riqueza que alguém pode ter.

Enviado por Marcos Aurélio Loureiro - [email protected]
Publicado em 17/08/2014

Walquiria que belas lembrancas ,embora elas te lembram os momentos mais duros da vida . Minha sogra dizia sempre que um bom vizinho era melhor que a propria familia , pois nas horas ruins estavam sempre presentes dando apoio e amparo. Quanto a vida comecando aos 40 , ela realmente comeca aos 40 na farmacia da esquina completando o velho ditado ! rs rs rs . Muito bom o teu texto como sempre Abracos Felix

Enviado por João Felix - [email protected]
Publicado em 15/08/2014

Walquiria, nossas vidas são pontilhadas de bons e maus momentos, alegrias e tristezas, ainda bem que podemos lembrar dos nossos vizinhos, dos nossos amigos, da última rua onde moramos, parabéns pelo lindo texto.

Enviado por Nelinho - [email protected]
Publicado em 15/08/2014

Peron,conheço todos os bairros,lojas,comércio e ruas que voce descreve em suas histórias...morei por lá uns 20 anos e a saudade aperta quando voce os descreve...entrei neste site em 2012, mas não posso deixar de falar de:"simplesmente sapateiro" "Servente de pedreiro" "simplesmente um remendo" "Os ambulantes" etc...etc...estas histórias de vida sua,remete as minhas,tão parecidas com a exemplar mãe costureira,os filhos trabalhando desde crianças e a luta e o sofrimento para conseguir crescer na vida com os próprios esforços...

É... meu amigo você tem toda a razão,a riqueza de ter tido esta família esta mãe e esta dignidade dinheiro nenhum compra...

Enviado por Walquiria - [email protected]
Publicado em 14/08/2014

Walquiria:

Vou discordar:

Nós não éramos pobres, .....éramos ricos.....e não sabíamos...

Pobres eram aqueles que nada tem a recordar....e...nada tem do que se orgulhar, da luta , das pequenas conquistas,que víamos grandes, conseguidas com lutas, não como pedintes,não como dependentes,mas com brio,desafiando as vicissitudes que a vida impunha a nossos pais e a nós,então jovens, idealistas....

Enviado por Luiz C. Peron - [email protected]
Publicado em 14/08/2014

Realmente é isso que acontece mesmo com quem sai de um lugar e tem memória e capacidade da saudade, meu caso seria igual se não fosse os vizinhos que foram embora, pois moro no mesmo local a 63 anos, parabéns pelas lembranças e homenagens,Estan.

Enviado por Estanislau Rybczynski - [email protected]
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