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Categoria - Outras histórias Um poeta... Autor(a): Modesto Laruccia - Conheça esse autor
História publicada em 19/08/2014
Gostaria de ser poeta e enaltecer minha, nossa cidade de São Paulo. Para isso, precisaria ter nascido num barraco de uma favela qualquer, ter uma infância sofrida, passado fome, ter sido maltratado pela madrasta, pisoteado pelos parentes, ignorado pelos amigos. Precisaria ter dormido ao relento, não ter um vintém no bolso, ter sido perseguido e expulso da escola entre outros sofrimentos...
 
Estava passeando, como faço todos os dias de manhã, pelas alamedas do parque Continental, residencial na zona oeste de São Paulo, entre o formidável conjunto de árvores de várias espécies. Respirando aquele ar puro da manhã ensolarada, com vento frio (vocês já notaram como é gostoso andar nos dias de sol em pleno inverno?), me assaltaram essas idéias, e comecei um papo com meu fiel companheiro, o M-2, amigo inseparável há mais de 82 anos, nascemos juntos.
 
Pela felicidade de ainda poder andar, ver, sentir na própria epiderme as sensações de paz e tranquilidade, não tendo sinais de senilidade, tendo a saúde dentro dos limites da idade - com alguns comprimidos cumprindo sua missão de mensageiros das últimas novidades dos grandes laboratórios em benefício da humanidade... Vou tentando contornar certos desencontros na harmonia inconsequente de nossas existência.
 
- Você está ouvindo, Modesto? – pergunta M-2
 
- Sim, são trechos de óperas, cantadas pelo trio Plácido, Carreras e Pavarotti, grandes interpretes, de vozes potentes, uma beleza de CD...
 
- Não mexe com você essas músicas, não trazem certas recordações? Procure se lembrar, Modesto, garotos ainda vivíamos correndo, pulando, brincando com aquela turma. Garotos, como nós, cujos nomes fogem de nossa memória... Andó, do “esgota latrina”; Romão Spin, Luizinho, Cascão, sobrinho do Ando; Heitor, que tinha irmãs bonitas; Pinto, por incrível que pareça, o único barês, natural de Bari, sul da Itália, com sobrenome “Pinto”. A maioria italianos, todos de Polignano “a Maré, província de Bari, sul da Itália.”
 
- Lembro sim, das portas, das janelas das casas na rua Assumpção, na Travessa do Gasômetro, no velho e saudoso Brás. Se ouviam essas músicas... Quantas alegrias que essas melodias nos fazem recordar. Não que entediamos de trechos de óperas ou de canções napolitanas. Meu Deus! Parece que foi ontem... Ouça M-2, o “Ride Pagliacio”, da ópera “Il Pagliaci”, de Leoncavalo... Lembra? Essas músicas tem a magia de nos transportar pra outros tempos... E são antigas, algumas são do século XIX... Tem pessoas que não gostam de óperas, o que é perfeitamente compreensível mas, pra nós, M-2, por testemunharmos estes momentos, e gravarmos na memória, o êxtase que nos provoca é algo indescritível. Um misto de alegria e tristeza, por nunca mais se encontrar com estes amiguinhos, nossos vizinhos, nossos parentes, todos agarrados em nosso torpor, em nossa incontrolável tristeza diante do passar dos anos. Quanta saudades, quantas alegrias, quantas tristezas... Ouça essa M-2, “Nessun Dorma” da ópera Turandot, de Puccina, o agudo final do Pavarotti é algo de arrepiar... ouça...ouça...“Vinceró...Vinceró”.
 

 

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Publicado em 09/11/2014

SIM SÃO MUSICAS LINDAS,COM ROMANCE E DRAMAS!!!

E HOJE NOS FAZ RECORDAR!!!

PARABÉNS!!!

Enviado por verinha - [email protected]
Publicado em 15/10/2014

Embora com bastante atrazo tambem quero parabeniza-lo, por suas confidencias que habitam em suas recordações, queira voce ou não de uma certa forma fiquei sabendo de sua idade, e permita-me perguntar, a juventude atual,terá tambem algumas recordações tão belas p/ um dia contar p/ seus filhos ou netos,com este raciocinio chego a conclusão de que a nossa turma, a dos 30/ 32/ 35, a minha, e vai por ai afora fomos muito mais felizes do que os jovens de hoje serão daqui a alguns anos,Modesto todos nós somos poetas dentro dos nossos sentimentos, e creio que da forma que nós sentimos podemos poetar pois poetar é sempre gostoso, portanto repito, de musico, poeta e louca, todos nós temos um pouco, parabens, e abraços do Marquezin

Enviado por João Marquezin - [email protected]
Publicado em 26/08/2014

Caro Modesto gostei muito do M2. Você, como sempre, com as suas formidáveis histórias. Saudades de um tempo que passou e deixou

nas lembranças velhos amigos que fizeram parte de sua vida.

Um abraço afetuoso. Grassi

Enviado por Roberto Grassi - [email protected]
Publicado em 21/08/2014

Caro fratelo mais uma vez nos encantando com mais um otimo texto . E como voce adoro ouvir musica classica tenho uma colecao ja a varios anos desses CDs que nao cansamos de de deliciar especialmente em horas de tanto stress que esta vida nos proporciona, para que nos ajude a relaxar.Dos tres tenores o Pavarotti ,Placido ,e o Carreras , tenho tres DVDs que como voce diz sao maravilhosos principalmente aquele gravado em Roma durante a Copa do mundo de 90 . Hoje descobri que tenho mais um fratelo o M-2 que te acompanha a 82 anos . E chego a uma conclusao que como diz o velho ditado " De Poeta , Esportista e Louco todos nos temos um pouco" rs rs rs . My Brother muita saude a voce a Myrtes e a toda tua adorada familia , e continues com toda essa disposicao para essas caminhadas diarias batendo papo com o M-2 pois isso te ira rejuvenecer cada vez mais para o nosso deleite.Abracos afetuosos . Felix

Enviado por João Felix - [email protected]
Publicado em 20/08/2014

Modesto meu caro e imodesto amigo. Mais uma vez você se supera. Essa conversa com o M-2 me fez sentir saudades dos papos que já travamos.

Pena que nessa caminhada com o sol radiante de uma manhã de inverno, você e o M-2 não foram brindados com a Matinatta de Leoncavallo.

Valeram as lembranças que propiciaram um texto tão gostoso.

Enviado por Miguel S. G. Chammas - [email protected]
Publicado em 20/08/2014

Modesto, o M1 e o M2 devem ser amigo do mister M, para revelar seus segredos de tanta memória de um Brás antigo e suas canções inesqueciveis, pois há tanto tempo longe do Brás e ele continua em sua retina, parabéns,Estan.

Enviado por Estanislau Rybczynski - [email protected]
Publicado em 20/08/2014

Esse seu texto é a própria poesia, Sr Modesto e seu inseparável companheiro M2.

Abraços.

Enviado por Julia Poggetti Fernandes Gil - [email protected]
Publicado em 20/08/2014

parabéns modesto, pelo belo texto.

eu lembro as musicas, AMIGOS PARA SEMPRE,MAMA SUTANTO FELICE, QUERO BEIJAR SEUS CABELOS NEGROS. ESRADA DEL BOSCO, ETC,

tempos felizes, não existia tv, mas na pequena vitrola,eu e os meus pais vivíamos cantando.

Enviado por João Cláudio Capasso - [email protected]
Publicado em 20/08/2014

Meus parabens, M2'continue assim de bem com a vida.

Gosto de opera,e esses tenores sao imortais.

E a Myrtes esta bem?

Abraco

Enviado por Benedita Alves dos Anjos - [email protected]
Publicado em 19/08/2014

Modesto

Você começa essa nova história dizendo que gostaria de ser poeta. Pode não ser ainda, um poeta na rima, mas és um poeta na redação. Alguns textos seus, assemelham-se a um poema. Parabéns - Abraços - Capuano

Enviado por Roberto Capuano - [email protected]
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