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Categoria - Outras histórias Do Jabaquara a Santana, a pé Autor(a): Jorge Gilson - Conheça esse autor
História publicada em 05/08/2014
Esta história, aparentemente absurda, passou-se em uma época em que a honestidade valia muita coisa. Era o ano de 1968, e eu morava com minha mãe e meus irmãos menores no alto de Santana.
 
Estudava no Cedom - grande instituto de educação estadual -, e tinha os famosos passes escolares de ônibus, ainda em papel. Minha mãe era modista (ai de quem falasse costureira) e tinha um vestido para entregar no Parque Oriental no Jabaquara. Como ela estava atrasada com outras encomendas, eu fui escalado para entregar o vestido da Dona Filustreca. Era só entregar, pois já estava pago.
 
Adorei a idéia, já que rodar por São Paulo, para mim, era um delírio. E lá fui eu, com minha caderneta do colégio - dentro dela os dois passes, um pra ir outro pra voltar. Desci até Santana e, na Avenida Cruzeiro do Sul peguei o ônibus 923 - Santana - Americanópolis.
 
Claro que sentei na janelinha, para apreciar todo o longo trajeto. Todo o caminho estava tomado pela obras da linha azul do metrô, portanto essa viagem levava horas, mesmo porque o danado do ônibus ainda tinha que passar pelo congestionadíssimo centro da cidade. Às vezes, levava mais de uma hora, só para passar da Estação da Luz até a Praça da Liberdade.
 
E lá fui eu, como já falei, com minha caderneta escolar. Desci perto de uma antiga garagem da CMTC, virei aqui, virei ali e cheguei na casa da Filustreca. Entreguei o vestido, não tomei nem água e voltei pro ponto de ônibus.
 
Desde sempre eu conferia para ver se tinha o dinheiro ou passe, para depois entrar no ônibus, pois seria uma vergonha não ter como pagar uma simples condução.
 
Abri a caderneta para pegar o passe e não achei o danado. Abri novamente, repassei os "zóio", fucei e nada do passe...
 
Putz e agora?
 
Não tinha outro jeito... Teria que ir do Jabaquara até Santana... a pé...
 
Sai do Jabaquara, mais ou menos umas quatro horas da tarde e fui andando...
 
Avenida Jabaquara, George Coibisier, Domingos de Morais (credo que fome!), Liberdade, Centro, Avenida Tiradentes... Tudo quase plano ou descida... Voluntários da pátria... E a danada da Ladeirona Madressanta. Fui praticamente me arrastando de cansaço, também pudera, oito horas de caminhada.
 
Cheguei em casa, minha estabanada mãe italiana quase arrancando os cabelos, e com o fio de ferro não mão... Depois de algumas lambadas, ela me deixou explicar o que aconteceu.
 
Dormi com as pernas ardendo em fogo: da pernada e do fio de ferro.
 
No dia seguinte, ao chegar ao colégio, apresentei a caderneta para a inspetora anotar o "compareceu" e adivinhem... O “miseraver” do passe de papel estava colado na página do dia e eu não vi...
 
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Publicado em 06/09/2014

BOM DIA PESSOAL............

OBRIGADO PELOS COMENTARIOS, APESAR DE PARECER UMA HISTÓRIA PESADA, HOJE EU DOU RISADA DO FATO, ACHO MUITO ENGRAÇADO....

E A MINHA MÃE NEM LEMBRA MAIS DA SURRA QUE ME DEU....KKKKKKKKKKKKKKK

COMO DIZ O DITADO " QUEM BATE , ESQUECE...."

MAS TENHO MUITO ORGULHO DE SER FILHO DE DONA NADEJE...

Enviado por Jorge Gilson - [email protected]
Publicado em 12/08/2014

Jorge, é muito azar! ter que caminhar horas e horas para poder chegar em casa e ainda levar uma surra com o fio do ferro de passar, por isso é sempre bom procurar bem antes de dar a coisa por perdida, parabéns pelo texto.

Enviado por Nelinho - [email protected]
Publicado em 08/08/2014

Um relato de imensa falta de sorte porem, um exercício prazeirôso, pra um jovem, não tem coisa igual. Tive a mesma experiencia, com um pouco mais de fé do que falta de grana. Final hilário porem, bem relatado. Parabéns Gilson.

Modesto

Enviado por Modesto Laruccia - [email protected]
Publicado em 05/08/2014

E como os pés voltaram ao normal depois? Que história de coragem, graças a DEUS deu tudo certo, o caminho era longo, os riscos vários, mas o objetivo foi alcançado. Sua história lembra-me quando andei uns 15 Km na Dutra em SJC, também por causa de um passe, e tudo para não faltar nos primeiros dias de um estágio, valeu como pagamento de promessa pela vaga conquistada, os pés ficaram roxos e só depois passou.Um abraço e gloriosa história!

Enviado por Wander Luiz dos Santos - [email protected]
Publicado em 05/08/2014

Jorge do céu! Sem comentários!!! Quanta dificuldade e mais o desespero da mãe... Ainda bem que tudo passou e você sobreviveu com galhardia . Seja bem-vindo ao site e receba o meu abraço.

Enviado por Vera Moratta - [email protected]
Publicado em 05/08/2014

Jorge,muito bem vindo a este site,principalmente com uma história tão bem relatada e de um apuro tremendo...Este trajeto imenso que voce descreve ,eu conheço andando de carro,mas meu amigo,A PÉ é coisa de doido,ou melhor de andarilho...Mas nossas vidas foram assim mesmo.Muita luta,uma mãe batalhadora e muito severa pois elas tinham a obrigação de nos educar para o futuro,coisa que hoje em dia não acontece mais.

Mas sabe Jorge todas as vezes que leio uma história,de alguém que apanhou por molecagem ou descuido,lembro que nem eu e nem minhas irmãs nunca apanhamos,lembro apenas dos dois meninos mais velhos de casa apanhando e os menores nunca.Muitos anos depois já estávamos adultos,minha mãe contava o quanto eles deram trabalho,coisa que a gente criança não prestava atenção ela dizia que as meninas eram domáveis,mas os dois irmãos mais velhos eram do chifre furado,e precisaram aprender na marra...Mas todos tínhamos a certeza do zêlo e do amor que ela tinha por todos nós.

Enviado por Walquiria - [email protected]
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