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Categoria - Outras histórias Era um sonho dantesco... o tombadilho.... Autor(a): Luiz C. Peron - Conheça esse autor
História publicada em 21/07/2014
Ao ler um texto de nossa amiga Walquiria, do São Paulo Minha Cidade, resolvi tentar escrever o meu.
 
Nos anos 50, trabalhava como “office-boy” num escritório de um despachante, na Rua Sete de Abril, nº 264-10, andar-sala 10/11 (o arquivo, às vezes, ainda funciona). Era meu primeiro emprego.
 
Estudava no Ginásio Alexandre de Gusmão, no Ipiranga. No período da tarde, apesar de toda a correria, lá ia eu percorrer as ruas centrais, carregando enormes livros de contabilidade, para registro nas recebedorias federais ou estaduais ou juntas comerciais. Respectivamente: na Florêncio de Abreu, Brigadeiro Tobias, Barão de Itapetininga... Além de outras repartições públicas, ia aos bancos receber valores relativamente altos. Punha o dinheiro numa pequena pastinha de couro, e o entregava ao destinatário, sem sustos ou medos... Às vezes, percorria a pé, pra economizar o dinheiro da passagem do bonde que o patrão havia fornecido. Passava pela rua Marconi e o cheiro de baunilha de uma doceria era provocante. Conhecia quase todas as ruas do centro, das menores às mais importantes.
 
Mas eu, apesar das agruras da vida, morando num cortiço, filho de pedreiro que lutava para dar algo melhor aos filhos, era um privilegiado. Conseguia estudar numa escola pública, onde, entre outras coisas, se aprendia a história da cidade de São Paulo. Lembro-me que naquela época, o Rio de Janeiro tinha uma população de 1,5 Milhões de habitantes e São Paulo apenas 1 milhão. Porém em São Paulo se "construía uma casa por dia", mostrando a pujança e a grandeza que nos esperava.
 
O Brasil era um país agrícola e dependia basicamente, da exportação de café, para custear as importações de máquinas, caminhões, tratores, automóveis e outras necessidades.
 
Mas o ufanismo de que o Brasil seria o país do futuro nos contagiava. Líamos autores que nos entusiasmavam: Castro Alves, Afonso Celso, Gonçalves Dias e outros.
 
Acordei...
 
O Brasil hoje é um país com peso no cenário internacional. São Paulo é uma das maiores cidades do mundo.
 
Hoje moro no interior do estado, numa “ex-pacata” cidade perto de Campinas.
 
Há algum tempo acompanhei meu filho mais velho, numa consulta para o meu neto. Era um ortodontista, que tem seu consultório numa rua ao lado da Biblioteca Municipal. Paramos no estacionamento do prédio, subimos até o consultório, onde o referido profissional nos recebeu.
 
Um senhor bem velhinho (eu estou nos 75), atendeu o neto, e meu filho contou-lhe, que eu fora office boy na região, nos anos 50, e que há muitos anos não voltava ao centro de São Paulo. Ele pragmaticamente me disse:
 
- Não queira andar pelas ruas que você conheceu... Será melhor pra sua alma! (sic)
 
Não acreditei e fomos.
 
Desespero ao ver o calçadão da Barão, tomado por pobres criaturas, deitadas nas soleiras, trôpegas, desfiguradas... 
 
O texto da amiga Walquiria, passa melhor o sentimento de impotência que sentimos.
 
Só pergunto onde foi parar o nosso crescimento econômico, nossa dignidade. A arena de luta por dias melhores, tornou-se o que?
 
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Publicado em 07/09/2014

Infelizmente, Luiz é a triste realidade, não só de São Paulo não, tenho absoluta certeza que aí mesmo em Campinas que já está totalmente unida com SP,em termo de fronteiras, também está cheia de "zumbis", viciados e drogados como aqui em Rib. Preto.

Muito triste pois na maioria das vezes vemos jovens completamente sem rumo algum, nenhum sonho nem perspectiva.

Abraços.

Enviado por Julia Poggetti Fernandes Gil - [email protected]
Publicado em 23/07/2014

Luiz, entrei em estada de grande emoção ao ler o seu texto, a sua histórias de vida, repleta de bons momentos, trabalho, dedicação e reconheimento ao esforço despendido pelo sr. seu pai. Parabéns mesmo! Igualmente me dilacera a alma perceber o retrato do centro da cidade com incontáveis moradores de rua amargando o pior dos sofrimentos. Um abraço caloroso.

Enviado por Vera Moratta - [email protected]
Publicado em 23/07/2014

Pois é, Luiz, as delícias de outrora viraram pesadelos de hoje. Nosso tempo continua a existir mas.... só em nossa memória. Parabéns pelo enfoque, Peron.

Modesto

Enviado por Modesto Laruccia - [email protected]
Publicado em 23/07/2014

Peron, realmente andar pelas ruas centrais de São Paulo atualmente parece um filme de terror, uma legião de seres humanos, sem uma perspectiva de futuro melhor perambulam por esta cidade gigantesca, muitas dessas pessoas aquí vieram em busca de uma vida melhor mas infelizmente a realidade é bem diferente, parabéns pelo texto.

Enviado por Nelinho - [email protected]
Publicado em 21/07/2014

Peron, senti o mesmo dia 9 de julho passado, ao andar pelo calçadão que fizeram no final da tradicional Avenida São João entre o Anhangabaú e o Largo Paiçandu, quanto fui fazer um depoimento sobre o Palhaço Piolim no Memorial do Circo, na Avenida São João, no antigo Cine Olido. Infelizmente o nosso querido Centro velho, ficou velho, bem mais depressa do que a gente!

Enviado por Arthur Miranda (Tutu) - [email protected]
Publicado em 21/07/2014

Nossa pujança baseada no trabalho árduo de nossos pais e depois transferido a nós como norma de conduta foi solapado pelo crescimento desordenado e por políticas espúrias de "levar-se vantagem em tudo" e depois acrescida do paternalismo das bolsas disso e daquilo, com facilidades de surrupiar terceiros e criar-se os sem isso e sem aquilo e ficamos viciados e temos que tolerar os sem-vergonhas!!!Trabalho e renda e um sistema educacional confiável dará crédito a grandeza não só de São Paulo, mas do Brasil. Parabéns pela crônica.

Enviado por Carlos Fatorelli - [email protected]
Publicado em 21/07/2014

Meu querido Luiz,fiquei afastada por mais de um mes do trabalho e do site,nem mesmo no facebook eu entrei neste período,por problemas de trabalho fora de São Paulo e também pessoais .Sexta feira dia 18 estive rápidamente no escritório e comecei a colocar minha vida em dia...Hoje dia 20/07 volto a ler curiosamente as histórias postadas neste site,para me atualizar e participar,eis que leio o Sonho Dantesco na qual me senti muito gratificada por voce ter não só me citado,como ter entendido a tristeza que senti e sinto quando tenho que ir ao centro de São Paulo.Esta sua dôr e decepção ao ver o abandono da nossa cidade me comoveu Como disse o Dr ortodentista:"Esta paisagem fúnebre e tenebrosa,faz muito mal a nossa alma...

Enviado por Walquiria - [email protected]
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