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Categoria - Nossos bairros, nossas vidas A sociedade amigos de bairro do Jardim São Luiz Autor(a): Carlos Fatorelli - Conheça esse autor
História publicada em 04/06/2014
Na década de 50, como conseguir que o desenvolvimento da cidade de São Paulo chegasse a lugares tão distantes da capital paulista? A Prefeitura do Município de São Paulo não possuía um plano diretor eficiente para implantar ações de melhorias em toda a periferia de São Paulo, que crescia sem planejamento adequado e ainda se usavam os antigos códigos de posturas.
 
Os moradores, sem muito conhecimento de causa e não entendendo nada, ou quase nada de criação das Sociedades Amigos de Bairros, buscaram assistência cartorial da região. Então deu-se início à formação do estatuto da Sociedade Amigos, que se fixou na Rua Caetano Dias Pereira, sem número até hoje, dentro do território do incipiente bairro Jardim Brasília, local da chácara do imigrante japonês Yoshimasa Minamoto, que depois passou a ser nome da Rua Yoshimara Minamoto - com erro de grafia.
 
Formou-se então a diretoria, constando das obrigações dos associados com registro em atas que, se não bem formalizadas na redação, deixavam nas palavras simples a vontade de toda a assembléia que era convidada a participar. A primeira reivindicação unânime era pela instalação de energia elétrica no bairro, que não havia e que deveria ser requerida junto a “São Paulo Light and Power Co. Ltd.”, uma concessão governamental por comodato a uma empresa canadense associada a grupos financeiros ingleses e americanos, e que mais tarde o Brasil antes do término do contrato, em uma falcatrua nunca explicada, reembolsaram valores que jamais deveriam serem feitos.
 
Mesmo com toda a dificuldade da época, houve a implantação da “Panificadora São Luiz”, de propriedade do senhor Tertuliano Oliveira, que apostou no crescimento do bairro, saindo de Santo Amaro, em 1957, onde possuía a “Padaria Brasileira”. Na “nova” padaria foram instalados equipamentos que exigiam um gerador de energia elétrica potente para mover as máquinas de panificação. Foi instalado através de postes de madeira, muitos dos quais adquiridos e pagos por moradores à época, sendo a linha de transmissão ampliada para várias ruas, dando adeus às fumaceiras dos lampiões a querosene, as lamparinas e as velas que “iluminaram” muitos jantares, ou os famosos lampiões a gás, uma modernidade para a época. Era novidade ver uma chama azul consumir um tecido trançado bem fiado, algo inovador aos olhos atentos de uma criança, que via o pai criar imagens na parede a entreter e a compenetrar-lhe, entendendo que felicidade está onde estão pessoas felizes. Mas este tempo havia chegado ao fim com a chegada da energia elétrica no bairro.
 
Chegava também as transmissões radiofônicas aos lares com rádios de móveis de madeira maciça, como do famoso “Rádio Bell” de meu pai, que era maior ou do tamanho de um atual microondas, tocando músicas sertanejas das lembranças do interior com Tonico e Tinoco, às cinco horas da manhã, acordando-nos ao aroma do café torrado moído na hora em um triturador manual. Tinha um sabor diferente... A mãe coava em um saco de linho pendente em um suporte de ferro recolhendo o líquido do coador. Hoje substituídos por coadores de papel e máquinas automáticas, que acabaram de vez com a hegemonia dos coadores.
 
A primeira televisão era um móvel pesado que transmitia as pioneiras imagens televisivas da TV Record, com imagem trêmula. A empresa de rádio e televisão Semp fixou-se na Avenida João Dias, que mais tarde atraiu os interesses do capital japonês da Toshiba. Havia outras de fama como a conceituada ABC a “Voz de Ouro”, Telefunken, Philco, Colorado, Philips. A primeira “televisão colorida” foi um celofane pregado na frente da TV preto e branco em faixas sequenciadas de azul, vermelho, violeta, amarelo, mas as coloridas verdadeiras só chegaram ao Brasil no início da década de 70.
 
Foi assim que se disseminou a energia elétrica ao bairro do Jardim São Luiz, embora os apagões fossem consequência de um gerador que não suportava tanta energia, mas foi um bom começo. Os chuveiros Lorenzetti, enormes e bons, ganharam espaço e substituíram as bacias de água fria e os “antigos” baldes pendentes em muitos banheiros locais que vinham das caixas d’água direta de uma ducha gelada, controlada por um registro no cano de saída.
A Sociedade Amigos de Bairro ainda proporcionou muitas outras formas de benefício e criou festivais infantis de palhaços a brincar com toda gurizada e proporcionaram festas de integração com a população. De maneira saudável, as matinês agitaram muitos Carnavais, enfeitados com serpentinas misturadas a confetes coloridos e os lança-perfumes, que vinha em uma garrafinha de spray prateada e o “cheirinho da Loló”, mais tarde proibidos pelo governo por serem produtos de entorpecentes.
 
Muitos políticos na Sociedade Amigos de Bairro do Jardim São Luiz fizeram seus discursos inflamados, maçantes e comprometedores, e não é coisa nova o não cumprimento da palavra dada pelo político, sendo que os moradores sempre ficavam insatisfeitos, pois prezavam pela verdade. Buscava-se na formação de opinião, no consenso geral a melhoria relevante para o bairro em toda região. Muitos políticos criaram vínculos com a população nas dependências da sede da Sociedade Amigos muitos honraram compromissos, outros nem tanto. Houve a visita do professor Jânio da Silva Quadros, em 1959, candidato pela presidente da República e que já havia governado o estado e o município de São Paulo.
 
Depois de tantos eventos surgiu no local uma casa dançante, que descaracterizou a Sociedade Amigos do Bairro do Jardim São Luiz. A comunidade perdeu assim o interesse pela sede e, depois de algum tempo, chegou-se a decisão de que, amigavelmente, o senhor Augustinho, dono do forró, devolveria o local para implantar a Companhia da Polícia Militar sendo implantado o Conselho de Segurança na região em 1989. Atualmente o local serve como local de ações sociais para a juventude, além de aos domingos serem feitas missas locais onde participam os pioneiros de longínquas datas da historiografia local.
 
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Publicado em 05/06/2014

Histórico documento relembrando, com maestria, a formação dos pioneiros grupos de moradores de um bairro, na formação de sua Sociedade Amigos do Bairro Jardim São Luiz. Num ótimo e bem descrito texto sobre o assunto, o Carlos enobrece o sentido dos moradores em responder as reivindicações dos habitantes das antigas ruas do bairro. Com detalhes bastante interessantes, nosso querido professor, Carlos Fatorelli, da-nos mais uma aula de história sobre sua querida e consagrada região de Sto. Amaro. Parabéns, Fatorelli.

Laruccia

Enviado por Modesto Laruccia - [email protected]
Publicado em 04/06/2014

Carlos, continúo acompanhando com grande interesse as suas histórias sôbre o bairro de Santo Amaro, aprendi muito a respeito desse bairro, parabéns pelo texto.

Enviado por Nelinho - [email protected]
Publicado em 04/06/2014

Por ser vizinho desse local da Sociedade Amigos,primeira ocupação do local foram os circos que alegravam a molecada, portanto local sempre foi movimentado e conhecido por muita gente devido ao descrito na crônica, Estan.

Enviado por Estanislau Rybczynski - [email protected]
Publicado em 04/06/2014

Gostaria de ter estas mesmas informações e sabedoria para descrever os dois bairros em que morei e que se instalaram no meu coração.Mas me alegro em ler sua narrativa e recordar de coisas que cercaram minha infância e que foram inesquecíveis...o lampião,o fogo a carvão , o banho de bacia, o rádio,a primeira TV ,mas tudo isso serviu para que lutássemos e décemos valor as novas conquistas...hoje os jovens e as crianças já nasceram com tudo conquistado...

Enviado por Walquiria - [email protected]
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