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Categoria - Paisagens e lugares O empório de secos e molhados e o jogo de bocha no Jardim São Luiz Autor(a): Carlos Fatorelli - Conheça esse autor
História publicada em 06/03/2014
Hoje, vemos grandes supermercados que possuem de tudo para “facilitar a vida” do usuário, estão sempre a oferecer produtos variados e detém uma parcela considerável de “clientes”. Mas, antes de chegarem esses grandes conglomerados comerciais, como era a relação nas pequenas vilas e bairros afastados do centro de São Paulo?
 
Não faz tanto tempo, os bairros viviam em função dos empórios e o “freguês” poderia encontrar grandes sortimentos para que fossem supridas as necessidades básicas e algo também a mais que se necessitava no cotidiano. O dinheiro era escasso, o crédito era a confiança de marcar na caderneta para ser quitado no fim do mês. Não havia cartão de plástico bancário para ser usado na “boca do caixa”!
 
No bairro do Jardim São Luiz também estava concentrada uma vida de relações comerciais nos empórios do bairro, que, às vezes, eram também denominados de secos e molhados. Os secos estavam voltados para tudo o que era vendido a granel, sem os ensacamentos plastificados de hoje; tudo era pesado na frente do cliente: arroz, feijão, farinha, fubá, manjubinha salgada, e até o pão não poderia faltar junto com o leite de garrafa, pois todo “santo dia” lá ia Seu Prudente com sua bicicleta de cor avermelhada desbotada subindo ladeira abaixo e ladeira acima com o “pão nosso de cada dia” em um grande caixote na rabeira. Os molhados eram os aperitivos, cachaças puras ou com carqueja, e outros destilados, vinhos de tonel, a cerveja geladinha, as cerejinhas, as tubaínas, os guaranás e sodas.
 
Hoje, a bicicleta descansa em um canto da casa, como um troféu, não tem preço monetário, foi uma guerreira, como foram: Seu Abrãao Gomes da Fonseca, Seu Prudente Alves da Fonseca, acompanhado de sua esposa, Dona Alice Bento Damazio da Fonseca, que fazia os petiscos para serem “beliscados” com um aperitivo servido no balcão, somados aos queijinhos em potes bem acondicionados, mortadelas e ovos cozidos de cascas coloridas, amendoins, azeitonas e tremoços.
 
As guloseimas, doces variados das fábricas Confiança e Bela Vista eram apresentados em um balcão onde a gurizada arregalava os olhos na vitrine e esperava que algum refrigerante fosse ofertado para “refrigerar” do calor, que não era tão intenso como na atualidade, até garoava constantemente e pela manhã a neblina imperava “sem enxergar um palmo diante do nariz”. Hoje, está tudo seco, até a chuva foi embora, espero que ela volte em breve, par encher os reservatórios de água!
 
Do lado de fora estava o campo de bocha que sempre estava lotado nas grandes disputas de aficionados deste esporte. Quando ainda não existiam as bolas coloridas, quatro para cada lado, o que as diferenciavam eram bolas lisas e as bolas de bocha dos adversários, que possuíam um risco e que tinham como meta chegar mais próximo ao “bolim”; uma bola menor que era lançada no início do jogo e era a meta a ser atingida e contavam-se os pontos por aproximação das bolas grandes ao “bolim”. Pronto, a competição estava formada para as alegrias de fins de semana, verdadeiras disputas onde se aglomeravam em volta do campo as torcidas e competidores das disputas seguintes.
 
Muitos moradores eram assíduos frequentadores para assistirem às “pelejas”, como Seu Serafim, pai da Tereza; Seu Pedro, esposo de dona Ana, pais do Nê; Seu Bento, que possuía um DKW táxi, pai do Paulinho e do Tiãozinho; Seu Michel; Seu Antonio Gordinho, que era sogro do Zé Evaristo; Zé Passarinho; Zé Cabeça Branca; Daniel; Seu Emílio, motorista da CMTC (SPTrans de antigamente); Seu Ernesto, motorista da Viação São Luiz, pai do Buda; Seu Romão pai do Edson Bradesco; Seu Stefan, pai do Paulinho Jordak; Seu Agostinho, aposentado da polícia; e tantos outros que cercavam em volta da pista, brincando, rindo com a facilidade de estar rodeados de amigos, transmitindo felicidade e que tinha toda uma genealogia unida para um bem comum. Hoje, são nomes rememorados como parte desta história e que são somados a tantos outros que vivificaram para sempre em nossa memória.
 
O Seu Prudente, depois que seu pai Abrãao “partiu para sempre”, deu continuidade na labuta diária do empório e foi até matéria da Rádio São Paulo, no programa Incrível, Fantástico e Extraordinário. Hoje Seu Prudente se aposentou e passou o “cetro do balcão” e responsabilidade do empório para seu filho, José Carlos Bento da Fonseca, que atende pelo apelido de Prado, por causa do nome de um jogador do São Paulo Futebol Clube, time que ele torce. 
 
Não existe mais o jogo de bocha, o empório não tem mais os regadores de plantas pendurados do teto por ganchos, vassouras, fumo de corda para uma pitada de cigarro feito com palha de milho secada ao sol e tudo mais do que se podia imaginar. Os tempos são outros e até a balança que pesava as mercadorias também “se aposentou”. O empório de secos e molhados do Seu Abrãao, que mudou de nome conforme o dono, passou a ser chamado de Empório do Seu Prudente e hoje é o Empório do Zé Carlos, seu filho.
 
O empório continua lá firme, com quase meio século de existência, como um símbolo de três gerações, mas as tardes de domingo não são mais as mesmas... E as pessoas “entocaram-se” dentro de si e diante da internet ou da televisão!
 

 

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Publicado em 25/03/2014

Saudosos tempos aquele dos empórios e mercearias onde eram vendidos de tudo, desde os secos e molhados, até as réstias cebolas que ficavam expostas, dependuradas nos tetos dos empórios e mercearias. Tudo era marcados nas cadernetas do fiado, que eram religiosamente pagas no final do mês. Fatorelli, boas recordações de um tempo esse, já quase esquecido. Um abraço GRassi

Enviado por Roberto Grassi - [email protected]
Publicado em 10/03/2014

Otimos tempos.

Meu saudoso vô tinha um na Av.W.Luis cruzamento com a Av. N.S.Sabará.

Enviado por Vilton Giglio - [email protected]
Publicado em 09/03/2014

Fatorelli, conheço bem um empório desses,meus pais eram donos de um, na Penha.Hoje ele não existe mais.Quanto a bocha tem até hoje e no mesmo lugar, agora com mesinhas e cobertura. Muito bom relembrar isso.Um abraço.

Enviado por Margarida Pedroso Peramezza - [email protected]
Publicado em 08/03/2014

Um dos ultimos secos e molhados de nossa região, conheço o Prudente e Zá Carlos, fazem parte da história de nossa região,hoje é mais molhado que seco, um bom, lugar para tomar aquela gelada, parabéns,Estan.

Enviado por Estanislau Rybczynski - [email protected]
Publicado em 07/03/2014

Carlos, esses empórios fazem parte do nosso DNA e sempre com doces Confiança. Interessantes, vivos. Lindos. Um abraço.

Enviado por Vera Moratta - [email protected]
Publicado em 06/03/2014

E com isso as pessoas vão se distanciando cada vez mais,não temos mais as conversas na beira das calçadas e o mais tristes é que nossos jovens saem juntos mas só conseguem se comunicar através de celular, Ipad, Tablet, volta e meia me deparo com uma cena dessas: Um casal em uma mesa de restaurante, não conversam , pedem a comida, e ficam teclando mensagem entre seus amigos virtuais, aí eu me pergunto porque sairam juntos se não compartilham o monto presente????

Enviado por Julia Poggetti Fernandes Gil - [email protected]
Publicado em 06/03/2014

Carlos - Vão-se os anéis, E ficam os dedos, sobram aquilo com que viemos a este mundo, sobram aquilo com que poderemos recomeçar. Recomeçar a escrever essa linda história, a reconstruir, a entregar e tantas coisas boas que ficaram em nossas mentes e a palavra que faz parte quase sempre em nossas vidas que é SAUDADES. Forte abraço ...

Enviado por José Aureliano Oliveira - [email protected]
Publicado em 06/03/2014

Nas linhas que acabamos de degustar, está o retrato vivo de bairros circunscritos do centro, na mesma proporção de tempo. Quando o Fatorelli descreve com riqueza de detalhes os armazens chamando-os de "secos e molhados", revóltam-se as nuvens que têimam em obstruir nossa visão para um passado, (não tão distante, pois ainda estamos vivos), de uma prosáica e alegre vida que, infelizmente, não volta mais, principalmente a garoa eo friozinho muito bem lembrado pelo Carlos. Suas recordações são, no mínimo, gratificantes, Fatorelli, parabéns.

Laruccia

Enviado por Modesto Laruccia - [email protected]
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