Eis que chegaram o Natal e o Ano Novo e já passou, nem deu para sentir, pois já se fala no Carnaval, Semana Santa, Copa do Mundo, eleição e vários feriados prolongados e a mídia em cima de nós, nos massificando, as lojas já possuem produtos que antigamente só havia praticamente na data a ser comemorada, agora temos os panetones, bacalhau, ovos de chocolate, brinquedos o ano todo nas prateleiras dos hiper mercados e lojas em geral, tudo parece acelerado, a novidade de ontem, hoje é ultrapassado.
Outrora a vida nos parecia mais longa, calma... As pessoas morriam até mais cedo de qualquer doença, mas mesmo assim a vida era longa pela própria monotonia, hoje, nossa idade média prolonga-se para mais de 75 anos, graças aos avanços da medicina, do saneamento básico, dos excessivos cuidados com o corpo nas academias, nas estéticas, nas salas de massagens e clínicas geriátricas e gerais, tem-se remédio para tudo.
Óbvio que temos em contra partida os males da época, onde tudo faz mal à saúde, do cigarro ao ar que se respiramos, do sedentarismo aos alimentos envenenados pelos agrotóxicos. Já possuímos muitos alimentos sintéticos, do tipo isopor com sabor, que as crianças e jovens adoram, carregados de sais e gorduras trans, até que se descubra como viver sem comer e respirar, pois respirar logo irão cobrar impostos e comer está difícil pelo custo, mas também tem remédio contra esses alimentos, principalmente quando atingimos certa idade.
Ninguém planta mais, e cada vez mais os alimentos vem de mais longe para a cidade, assim como a água, assim como os alimentos e muitos produtos básicos.
Antes, os dias tinham ritmo cadenciado, marcha lenta, cada coisa no seu lugar, a casa, a cidade e tudo no seu tempo, tempo da infância, brincadeiras, estudo, juventude, namorar, casamento, trabalho... A mulher na maioria trabalhava em casa, do lar, o homem no trabalho externo, depois aposentadoria. Hoje, tudo se embaralha, tudo se acumula, a criança nasce e é jogada na creche, o contato é só no final de semana, pois a noite todos dormem, não tem tempo de dialogar, passar amor ao filho, muitas meninas engravidam ainda na puberdade, nesse caso ou vira mulher de vida “fácil”, ou assume o filho e deixa com a mãe e ou avó e vai trabalhar e ou estudar, tudo simultaneamente sem passar pelas etapas normais da vida.
O mundo invade nosso lar pela tela de TV instantaneamente, quando acontece qualquer fato, as crianças presenciam atos sexuais antes de saberem o que é sexo, crimes sem saber o que é morrer e muitas vezes em tempo real. Nem precisamos ir mais ao cinema, pois temos bang bang ao vivo, nem a TV Record no auge dos filmes de faroeste, décadas atrás, passava tanto assim como hoje; a publicidade aumenta o apetite insaciável das pessoas, as bancas de jornais, que também tem seu tempo de vida contados, também expões tudo que era proibido até nos anos 90. São tantos os apelos, as seduções e as preocupações que nos assustam, come-se, estuda-se em frente a TV, o dialogo acabou na maioria das famílias, ninguém fala, pois pode atrapalhar o entendimento do programa da TV.
Antigamente se o parente adoecesse, ou havia o nascimento de uma criança ou fato relevante qualquer em outra região da cidade ou do país, a notícia chegava em doses homeopáticas, via correios, ou quando alguém fazia uma visita, agora com o celular, que nos alcança no banheiro na rua, no bar e na igreja, não há trégua nem espaço, nem tempo, tudo é simultâneo e instantâneo.
Estamos condenados à simultaneidade, em um único instante somos galgados ao prazer e ao sofrimento, à alegria e à tristeza, ao amor e ao ódio, ao trabalho e ao ócio, onde surgiu essa nova doença em ritmo crescente que é o AVC.
Nos velórios de antigamente todos usavam a vestimentas pretas, e o corpo do falecido na maioria das vezes era velado nas residências, atualmente os velórios são realizados em locais próprios, parece mais um desfile de moda, com a mesma roupa se vai ao velório, em seguida ao trabalho ou entretenimento é a simultaneidade que exige.
Lembro das missas, para casamento era só casamento, atualmente casamento, missa antes e depois, sem contar com os múltiplos casamentos, parecendo mais mercadoria que um ato cristão, missa do galo era meia-noite, íamos com a família, atualmente na maioria das igrejas a missa do galo é as 20h, pois não podemos perder a corrida, que atualmente é a tarde, a ceia, mas com certeza a mudança se deu por causa também do perigo de andar a noite.
Quando menos esperamos, as festas anuais se aproximam, o que nos deixa apreensivos não pelo significado da data, seja ela cristã ou demoníaca como pensam muitos, principalmente os mais antigos, mas pelo que ela significa, não podemos deixar de comprar isso ou aquilo para fulano e beltrano.
Rumamos todos num empurra-empurra, como se disputassem o privilégio de chegar primeiro como se fosse caso de vida ou morte, somos um verdadeiro rebanho nessa época em busca de algo que é comum a todos, as ruas super lotadas, as lojas intransponíveis, parecendo um verdadeiro salve-se quem puder e quem sair com uma sacola ou varias se dá por feliz, sobreviveu.
Assim vamos nós, manada humana, rumo ao consumismo, cientes de que nos arrancarão, o dinheiro e a nossa alma, bombardeados pela publicidade, pelos papais nóeis e hoje em dia até pelas belas mamães noéis, somos impelidos a comprar o que não necessitamos e a gastar o que não podemos, ficamos pendurados o ano todo no cartão de crédito, esperamos o décimo terceiro salário para cobrir a dívida antiga e entramos em outra, um circulo vicioso sem fim.
Como é tempo de férias, há que programar a viagem, a praia, o sítio, arrumar e desfazer malas, enfrentar a maratona dos supermercados e suportar os engarrafamentos nesta cidade e nas estradas e até nos estacionamentos dos shoppings.
Por que a impulsão de dar presentes no Natal e Ano Novo? Tornou-se quase uma obrigação comprar presentes e os que não podem comprar, aí aparece a diferença social condenada por todos, mas ninguém quase faz nada.
Nessa época é comum trocar-se Papai Noel pelo menino Jesus, as lojas pela igreja, as compras pelo amor, a razão pelo coração, ao contrário seria bom que aquecidos pela fé, celebraríamos assim uma verdadeira festa, aquela que, no dia seguinte, não deixa ressacas de fartura e sim ressaca de amor.