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Categoria - Outras histórias Futebol varzeano no eixo da Estrada Itapecerica - Av. João Dias Autor(a): Estanislau Rybczynski - Conheça esse autor
História publicada em 06/12/2013
Futebol varzeano no eixo da Av. João Dias e Estrada de Itapecirica e adjacências.
 
Desde o surgimento de bairros na região sul - sudoeste pós Ponte João Dias, depois de Santo Amaro, após a década de 1910, surgiram entre o (até então Município de Santo Amaro e depois de 1935) bairro de Santo Amaro e o município de Itapecerica da Serra muitos bairros muitas vilas, jardins e parques, onde os principais e primeiros foram Capão Redondo, em 1915, e Campo Limpo, em 1920, e logo a seguir Vila das Belezas, em 1924, Jardim São Luiz, em 1938, Valo Velho, em 1930, último bairro da cidade de São Paulo pela Estrada de Itapecerica da Serra, Parque Fernanda e Parque Araribá, em 1960, e assim sucessivamente.
 
Hoje em dia praticamente não há mais terrenos vazios entre Santo Amaro e Itapecerica da Serra, a não ser algumas reservas florestais de preservação por esse eixo já mencionado, são centenas de bairro de todos os níveis, nomes, antes a região era formada por fazendas, chácaras e sítios.
 
Nas décadas de 1950 a 1970, que foi o desencadeamento da grande expansão dessa região, os bairros mencionados cresciam a passos lentos e com os adventos das indústrias em Santo Amaro, tantos eles como centenas de bairros surgiram e com crescimento espantoso.
 
Nossa região, através dos bairros Jardim São Luiz, Jardim Ângela e Capão Redondo, era denominado como o triângulo da morte, às vezes alternando esse triângulo para quadrado da morte, ingressando no rol o bairro novo de Parque Santo Antonio, vizinho ao Jardim São Luiz, onde fica a delegacia da 92º.
 
E como todo bairro que se preza começa com uma igreja católica, hoje em dia uma igreja protestante também, um time de futebol, uma associação de amigos, por aqui não foi diferente.
 
E se tratando de futebol, pelo que se sabe, o mais antigo time de futebol desse eixo em atividade foi o Vila das Belezas F. C., fundado em 10 de outubro de 1943, com campo no alto do bairro, na Rua Aristodemo Gazzotti, time com as cores verde, vermelho e branco e o distintivo tem o formato do Santos F. C., campo este que foi desativado em 1974, por motivo até hoje desconhecido e depois vendido para especulação imobiliária. O campo do Vila foi o melhor e de melhor localização, devido a isso, tinha aos domingos “lotação” completa, o Vila tinha dois times principais, aos domingos de manhã jogava o Extra e à tarde o time principal, o Esporte, o time ainda existe, joga aos sábados na Vila Andrade –Morumbi, tem apenas um quadro.
 
Até os anos de 1980, os times tinham os chamados primeiro e segundos quadros, além de terem times com os nomes de Esporte, que era o melhor grupo daquele clube, depois vinha o chamado Extra, criado por excesso de jogadores do outro grupo, e depois apareceram os Veteranos com um time só, jogadores em fim de carreira.
 
Além disso, era normal ter os Infantis, Juvenis, depois mudaram para Dente de leite, Dentinho e Dentão e após os anos 90, denominaram de Sub-10, Sub-15, Sub-17 e assim por diante.
 
Nos anos de 1990 em diante, os times adultos substituíram tudo isso por um time principal, e os demais por Amigos, Parados, time A, B, C e D, Masters e mais atualmente os Cinquentões e Sessentões, esse então apelidado de “SAMU” e todos com patrocínios de bares, empresas pequenas do bairro, isso vem corroborar com a saúde dos idosos, onde a perspectiva de vida passou, nos dias de hoje - 2013, para 75 anos de idade e reflete na prática esportiva, onde esse indicador futebolístico prova a longevidade do ser humano.
 
Durante a semana e aos sábados de manhã havia os grandes “rachas”, jogava quem chegava, formavam-se vários times, de onde saíram bons jogadores para os times.
 
Os campos tinham ainda as traves de viga de madeira, peroba, de 8” x  2”, 16cm x 5cm, que era comum naquela época, o campo do Vila era cercado por ripas de barrica de vinho que tinha o perfil curvo e depois de ripa normal com sarrafo de 5cm, em todo perímetro do campo e nesses jogos todos os quatro cantos do campo eram frequentados, até hoje nunca mais se viu na várzea dessa região tal lotação, exceto algumas finais de torneios. Hoje temos campeonatos valiosíssimos, valendo carro, dinheiro e com campos com infraestrutura que naquela época não havia, mesmo porque, e vale salientar, quase ninguém tinha TV.
 
O interessante é que quando havia um lance perigoso de um dos times e a bola corria na lateral, onde o ponta ia cruzar, ninguém via nada, tinha que se curvar o corpo sobre as ripas e esse movimento parecia uma onda uniforme de corpos deitando sobre o campo, era muito engraçado e essa cerca era importante, pois sem ela o público ia avançando para dentro do campo sem perceber e quando havia um pênalti o povo ficava em volta dos jogadores, coisa impensável para os novos esportistas, pois atualmente todos tem alambrados de proteção.
 
Logo em seguida, em 21 de setembro de 1953, veio o time do Rubro Verde F. C., fundado por portugueses do bairro, mas depois de um ano mudaram o nome para A. A. Portuguesa de Vila das Belezas, que foi uma dissidência do Vila das Belezas, também tinha as cores verde, vermelho e branco e o distintivo era o mesmo do clube profissional da A. A. Portuguesa de Desportos, com campo próximo ao do Vila que ficava na Rua Jose Geniolli, no Jardim Casa Blanca, bairro vizinho ao nosso, mas o campo durou pouco tempo, em 1959 foi cortado ao meio para passar uma rua e lotearam os terrenos, até hoje a Portuguesinha, como é conhecida,  teve quatro campos de futebol e esse último, agora no Jardim Ingá, é o 5º campo, bairro vizinho a Vila das Belezas, onde o campo é gramado e iluminado pela Prefeitura.
 
Nesse mesmo ano e mês surgia também o Estrela do Norte de camisa amarela e azul que tinha campo perto da Ponte João Dias, ali hoje é o Colégio Porto Seguro, time que teve sua grande fase também, vive hoje em uma sede na Rua Luiz Grassmann, no bairro Jardim Monte Azul, próximo ao Terminal João Dias e do metrô, com sua quadra de futebol de salão e só joga fora com seu time de futebol de campo, onde seu maior mandatário é o Sr. Eduardo e o filho.
 
Na década de 1950, surgia também, ao lado da Ponte João Dias, o time do E. C. Continental, time que tinha a camisa azul e branca e o distintivo era o globo terrestre com a figura das três Américas, o mesmo dos cigarros continental, não se sabe se tinha alguma ligação ou inspiração.
 
Sua sede era na antiga estrada do Morumbi, hoje Av. Tapaiunas, bairro elegante do Panamby, que sai próximo da Ponte João Dias e vai até próximo do Estádio do São Paulo F. C., com o nome de Av. Hebe Camargo.
 
Em 1961, surge o E.C. Jardim São Luiz, time que tinha seu campo no Jardim Ibirapuera e depois foi ocupado pela Escola Municipal Charles de Gaule, logo a seguir abriu novo Campo ao lado no mesmo bairro e na mesma rua, Acédio Fontanete, campo este que como todos os outros não tinha nenhuma infraestrutura, mas muita vontade e hoje possui campo gramado com iluminação e chama-se, agora como todos os outros amadores, de CDC São Luiz, onde CDC que dizer centro desportivo da comunidade, em substituição ao antigo CDM , Centro Desportivo Municipal, que teve como seu primeiro presidente Geraldo Fraga de Oliveira, Geraldão.
 
Em 1960, era fundado o Vasco da Gama do Jardim São Luiz, chamado carinhosamente de Vasquinho que durou pouco tempo até 1970, chegou a ter um campo do lado de um barranco na Rua Yoshimara Minamoto que era mais um brejo, charco, pois ali havia uma mina e um córrego.
 
Em 1964, foi fundado o Jardim Brasília F. C. no Bairro Jardim Brasília, vizinho ao bairro Jardim São Luiz. Com campo no próprio bairro time com as cores da bandeira brasileira e distintivo no formato do Congresso Nacional. Teve como seus primeiros presidentes o Marróquio (alemão) e depois Armando, Fifita e muitos outros, time ainda em atividade.
 
Nas décadas de 1950 e 1960, praticamente só existia um torneio de futebol nessa região que era o torneio ou troféu Luiz de Mona, que tinha como participantes normalmente do lado de cá do Rio Pinheiros sempre: Vila das Belezas F. C., Jardim São Luiz, Estrela do Norte, A. A. Portuguesa da Vila das Belezas, Vila Prel, Santo Antonio. Do lado de Santo Amaro tinha: Palmeirinha, Benfica, Gusa, Santo Antonio da Vila Mandu Formoso, CASP, Comerciário e América.
 
No Bairro de Capela do Socorro tem Socorro F. C., fundado em 1935, o mais antigo da região ainda em atividade, Represa Nova de 1957, os demais de Pinedo Piraporinha F. C. do bairro Piraporinha, às margens da Av. Guarapiranga, fora de atividade.
 
Também sempre participava desse torneio, mesmo sendo de mais longe, o Caramuru de Indianópolis e Vila Guarani do Aeroporto. Do bairro Campo Grande quem sempre representava era o Grêmio e Estrela do Campo Grande e SC Corinthians da Vila Iza.
 
Esse torneio era disputado no campo do Palmeirinha, onde hoje é o terminal de ônibus do Largo Treze de Maio e estação do metrô.
 
O torneio tinha sempre a cobertura do Jornal a Gazeta de Santo Amaro e a Tribuna, jornais que davam ênfase a esse campeonato com fotos, escalações que podem ser pesquisadas em sua hemeroteca, tanto na “A Gazeta de Santo Amaro como no Jornal “A Tribuna” no museu de Santo Amaro.
 
A partir dos anos 2000, com a revitalização da várzea, com a iluminação e gramado sintético, houve uma grande quantidade de campeonatos, a perder as contas, como: Copa da Região, Copa do Boi, Copa da FPF, Copa Kaiser, essa bem mais antiga, anos 1980 para cá, Copa Jogos da Cidade, realizada pela PMSP, Copa Verão, Copa Leões da zona Sul, Copa Inverno e todos com troféus, alguns com transmissão, filmagem, uns são premiados com carro zero e dinheiro, cada torneio com até 120 clubes, uma festa o ano todo, copa para todos os gostos que até confundem os mais assíduos torcedores, quando você pensa que o jogo é de uma copa tal é de outro campeonato.
 
A partir dos anos 1960, com a construção das marginais e ainda expansão industrial, os campos migraram para o interior dos bairros e muitos times desapareceram ou fizeram seus campos nos fundões dos bairros.
 
Ao contrário do que muitos pensam, a várzea não morreu, pelo contrário cresceu muito, os campos dobraram e os times triplicaram até pelo próprio aumento da população que cresceu em ritmo geométrico, o que acabou foi o romantismo de outrora, onde os times iam jogar de caminhão e até a pé, os vestiários praticamente não existiam, trocava-se a roupa no “matinho” ao lado do campo e às vezes alguns times tinham um barraco como vestuário, banho só em casa.
 
Mas graças ao investimento em campos de futebol amador, com o projeto CDCs, que hoje, 2013, chegam a quase 300 campos gramados e iluminados pela cidade, onde havia cerca de no máximo cinco jogos aos domingos e alguns aos sábados esse número aumentou para 10 jogos ou mais jogos por dia e com qualquer tempo e horário. Na virada esportiva da PMSP, há jogos de madrugada, ou seja, 72 horas direto.
 
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Publicado em 11/12/2013

Estan o ponto realmente é este. Acabou o romantismo.

Grande abraço e parabéns pelo texto bem elaborado.

Enviado por Marcos Falcon - [email protected]
Publicado em 09/12/2013

Num extenso e bem articulado texto, vc Estan nos apresenta uma elaborada história de futebol varzeano da zona sul. Com caprichoso cuidado e uma memória extraordinária, vc descreve detalhadamente os principais eventos amadorísticos do fenomenal esporte varzeano. Numa linguagem clara, limpa e integrada, ao alcance de todos, vc narra esse belo trabalho enaltecendo, mais ainda, as curiosas ocorrências a respeito desses espetáculos. Parabéns, Rybczynski.

Modesto

Enviado por Modesto Laruccia - [email protected]
Publicado em 08/12/2013

Estanislau, quantas informações importantes sobre o futebol varzeano e concordo com você que as melhorias chegaram e não o deixaram morrer, que bom!Um grande abraço e foi um prazer conhecê-lo.

Enviado por Margarida Pedroso Peramezza - [email protected]
Publicado em 07/12/2013

Caro Estan, você é o eterno historiador dos fundões de Santo Amaro, especialmente da querida Vila das Belezas e do Jardim São Luiz que me trazem boas recordações, principalmente dos anos sessenta, quando tive a pretensão de comprar um lotezinho de terreno, junto da Estrada de Itapecerica, mas que, por motivos alheios à minha vontade, não consegui comprar. Mas lendo as suas considerações futebolísticas sobre o esporte amador da região, você como um verdadeiro mestre conhecedor do assunto nos enriquece com o seus inteligentes conhecimentos, sobre os costumes desses antigos bairros paulistanos. Estan, aproveito o espaço e o ensejo, para desejar UM FELIZ NATAL e um ANO NOVO com muita saúde e paz para você e a sua digníssima família. Um abraço Grassi

Enviado por Roberto Grassi - [email protected]
Publicado em 06/12/2013

Muito interessante, Estanis. Adorei a foto. Eu nem imaginava existir o Portuguesa da Vila das Belezas. Ótimo. Um abraço.

Enviado por Vera Moratta - [email protected]
Publicado em 06/12/2013

A várzea é eclética, teima em não desaparecer e o time Vila das Belezas ainda tem resquício de seu passado no CDC Izaltino Silva. Parabéns pela crônica.

Enviado por Carlos Fatorelli - [email protected]
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