Leia as Histórias
Natal! Época na qual nós, componentes do batalhão da melhor idade, comovidos, buscamos nas cinzas do passado motivos que nos fizeram viver marcantes alegrias ou grandes decepções. São pequenas lembranças que, solitárias não mereceriam um texto épico, mas juntas, em doses homeopáticas poderão render uma boa descrição e, consequentemente uma boa leitura. Esta fórmula, acredito, renderá também bons resultados. Vamos a ela!
Natais das décadas de 40 e50, eu não posso afirmar ser oriundo de uma família bem posicionada financeiramente, éramos, por assim dizer, remediados, e como tal deveríamos dispúnhamos de parcos recursos para gastar. Tínhamos em uma caixa, guardada no porão da Rua Augusta, várias bolas de vidro colorido lindas e frágeis, embrulhadas, uma a uma, em pedaços de jornal quando do desmonte da Arvore de Natal do ano anterior.
No inicio de cada mês de dezembro, minha mãe conseguia, a custo de suas rendas advindas de bordados que ela fazia por encomenda, comprar um belo pinheiro. Entregue a arvore símbolo natalino, íamos todos, mãe, tias, eu, meu irmão e meus primos, iniciar a tarefa de decoração.
Com papel celofane colorido encapávamos a lata onde a arvore havia sido plantada dando-lhe uma aparência mais agradável. Depois, com todo o cuidado, desembrulhávamos cada um daqueles pacotinhos de jornal e acondicionávamos as bolas coloridas na mesa da sala. Algumas, que pena, quebravam e eram motivos de broncas ou de gestos de conforto, dependendo do motivo que gerava o incidente.
Finda a tarefa, meu pai, por sua altura era incumbido de pendurar as bolas na arvore, subia em uma cadeira e ia recebendo os enfeites e, lógico, os palpites:
- “Pendura ali naquele galho... Isso... Um pouco mais para frente... Assim está melhor...”.
Era uma tarefa que por sua importância e delicadeza consumia algumas horas, às vezes era cumprida em duas noites. Terminava a decoração da arvore com a colocação, na sua ponta, da estrela cometa devidamente preparada com esmero e carinho por minha mãe, usando papelão de uma caixa de sapatos, cola e muita purpurina prateada. Ela representava a estrela guia dos Reis Magos.
Pronto, arvore decorada, cabia a este que vos escreve seu irmão e primos, a missão de armar, aos pés do pinheiro, o presépio representativo do nascimento do Menino Jesus. As demais imagens eram espalhadas ao redor, espelhos eram usados para representar lagos, pedregulhos para representar caminhos e lá no extremo do presépio, imponentes, os três Reis Magos despontavam. Era, ainda, nossa missão, mover os Reis Magos, um bocadinho a cada dia, para que no dia 25 eles chegassem à manjedoura e rendessem homenagens ao recém nascido.
Nós, crianças, também chegávamos no dia 25 até os baixos da arvore para buscarmos nossos presentes que eram, invariavelmente, iguais todos os anos. Para mim cabia sempre um revolver de chumbo prateado acondicionado em uma cartucheira de plástico e um almanaque do Tico-Tico. Anos de agruras, mas também de muita felicidade.
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Tenho tantos enfeites que preciso da metade de um armário (guarda roupa) no quarto para guardá-los e sem a árvore! Por mim seria natal sempre! Gosto da festa mas nunca esqueço do aniversariante !
Parabéns pelo texto! Abraço Célia Enviado por Regina Célia de Carvalho Simonato - [email protected]
Laruccia Enviado por Modesto Laruccia - modesto.larucc[email protected]