Leia as Histórias
- “Rua Boa Vista, 290? No Jockey Club?”.
- “Sim. É só chegar lá e você encontra o restaurante” – disse o amigo.
Fui ao Google Maps. Estamos todos ficando assim. É melhor recorrer à internet do que a memória, ou aos guias Levy, Quatro Rodas e outros, que sempre nos guiaram ao longo dos tempos.
O fantástico mapa virtual, capaz de aterrissar em quase qualquer rua do globo e fazer-nos percorrê-la em três dimensões, nem se moveu. A região de hipódromo não apontava também qualquer restaurante nas imediações. Sei que existe um dentro, mas que Rua Boa Vista seria? Dentro dele?
Então caiu a ficha. Tinham combinado o almoço no centro da cidade, na velha Rua Boa Vista, e embora não tivesse entrado no restaurante do Jockey, conhecia-o de passagem, com seu belo logotipo dourado na vidraça. Fiquei imaginado como seria o vetusto restaurante, no nono andar de um prédio central.
E não me decepcionei: antigos móveis, de madeiras há tempos em extinção, bons quadros, tapeçarias, candelabros dourados e belos lustres pendentes. Os garçons com ar solene, magnífica visão da sua grande varanda, onde almoçamos.
Boa comida, boa conversa... Para chegar lá não paguei um centavo. Deixei o carro em uma ruazinha sem zona azul, próxima à Praça da Árvore e dali o metrô grátis até o São Bento.
Saindo do almoço e percorrendo as ruas ilustres, com seus prédios “art decô”. Aproveitei para levar a turma à imperdível exposição "Índia!" no Centro Cultural Banco do Brasil. Já a tinha visto, com esposa, no sábado, mas vale a pena ver de novo.
Adentramos a magia da Índia dos arianos, dos sufis, dos sadus, brâmanes, budistas, janistas, islâmicos, moguls e finalmente dos cristãos, influenciados pelos portugueses. Maravilhas de um país totalmente desvairado, a humanidade pululante em suas mais variadas formas. Como um sonho, ou pesadelo, conforme a interpretação.
Imaginemo-nos em minúsculos táxis, mais parecidos com lambretas, desviando-nos no trânsito louco de outras engenhocas iguais, carros, vacas, camelos e elefantes, como acontecia nos sonhos de Little Nemo, antigo herói de quadrinhos, obra de Windsor Mc Kay.
Saindo dali, em um verão quase tão escaldante quanto o da terra dos moguls, mudamos de país. Na Praça Antonio Prado um café parisiense, toldos verdes e cadeirinhas no calçadão, para um chope refrescante. Ou como Hemingway no Lipp, “une biére a la préssion”, com as “cervelas e pommes a l´huile”, de Paris é uma festa.
Enfim, depois de tantos anos procurando, ali estava: uma São Paulo como nos velhos tempos.
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Mancini Enviado por Mancinid - [email protected]