Leia as Histórias
1945 - Manhã fria, muita neblina e necessidade de levantar-me às 6h para cumprir mais um dia de caminhada de dois mil metros, para chegar ao Grupo Escolar Professor José Escobar, na Rua Greenfeld, no Ipiranga. Morava eu no Moinho Velho do Ipiranga, em uma rua sem asfalto, sem água tratada, iluminação pública ou linha de ônibus.
1972 - Manhã fria, sem muita neblina porque a Serra do Mar ficara mais distante, por causa da explosão demográfica da Vila das Mercês, Rudge Ramos e São Bernardo do Campo, que a absorveu. Acordava meus filhos, para cumprirem mais um dia sem inicial caminhada, porque veículo escolar os transportaria até o Colégio São José do Ipiranga.
1945 - Uniformizado: calças curtas azul-marinho, camisa branca e uma bolsa de pano para o acondicionamento de um caderno, lápis (não existia lapiseira ou caneta esferográfica), caneta de madeira e penas "mosquitinho", mais a cartilha "Caminho Suave". Tomava o substancial café da manhã, fornecido pela "Caixa", com plena utilização do dinheiro público, no balcão da cozinha do Grupo, sob olha severo do senhor Edgard, o inspetor de alunos. Depois, todos perfilados, cantavam o hino nacional em frente à bandeira brasileira, devidamente hasteada, pavilhão que impunha respeito. Cada qual seguia, em fila indiana, à sala de aula e lá, todos em pé, aguardavam o ingresso da professora que autorizava a acomodação.
1972 - O micro-ônibus escolar transportava os alunos devidamente alimentados, com modernas mochilas, cadernos vários, lápis de cera, calculadoras, vários livros, rumo ao Colégio São José, onde adentravam aos gritos e empurrões, seguindo para as respectivas salas de aulas, sem qualquer formalidade quanto ao aguardo dos professores. Mas era considerado
um dos melhores colégios do Bairro do Ipiranga.
1945 - Meu maior temor era o momento de levar, para assinatura do meu pai, o famigerado boletim escolar e as assustadoras notas que recebíamos como aproveitamento - ou não aproveitamento. Se boas, recebíamos um "ainda bem". Se as notas fossem ruins, alguns castigos e restrição de brincadeiras com os amiguinhos.
1972 - O boletim continuou, fragilizado por ação do meio. Os castigos eram, por exemplo, deixar de ver televisão. O diálogo entre os pais e os filhos já era complicado; contudo, graças à rígida educação recebida, fiz questão de manter o temor (embora intimamente soubesse que era falso) para dar impressão que o grande castigo seria retirar meus filhos de uma escola paga para matriculá-los em escola pública, considerada "dos pobres". Veja só que grande castigo! O terrível castigo de 1972, em 1945 era um prêmio, porque, nas escolas públicas, havia ordem, critério, seriedade e dedicação dos mestres de minha infância. Nunca ouvi dizer que alguém fizesse greve na educação ou que o salário pago era baixo. Ao contrário o título de professor de escola primária era atestado de qualidade pessoal e cultural. O que dizer dos cursos Clássico e Científico? Era a glória.
2012 - Basta de comparações, porque todos já as conhecem; porém o que alguns, evidentemente os jovens pais, não sabem é que a educação, hoje considerada liberal, isto é educação sem atribuição de responsabilidade familiar, pessoal e social é a semente que germinará a geração de frustrados, desorientados, desalentados, temerosos, inseguros com futuro sem rumo, porque já não se sabe mais o que é qualidade escolar, cujo sistema muda da noite para o dia.
Estranho muito, hoje, saber que as matérias fundamentais para desenvolvimento do raciocínio, o Latim, por exemplo, que começava no primário e prosseguia nos segmentos Clássico ou Científico, cederam lugar ao estudo por meio de "testes", sem possibilidade de voltarem aos bancos escolares; ou seja, hoje se estuda para lembrar; no meu saudoso Grupo Escolar Professor José Escobar e nos estudos do Clássico, estudei para raciocinar.
Recentemente ouvi uma notícia no sentido de que as grades de matemática nas escolas, tanto quanto o ensino da língua portuguesa, em breve serão reduzidas o que me leva a crer que, no futuro, por certo, serão optativas. Aonde chegaremos?
Evidentemente falo por mim, sem querer confronto, mas certo é que, graças ao modo no qual se nortearam meus estudos, isto é estudar para aprender a raciocinar, mesmo sem ser filho de pessoas abastadas, a marginalidade ou os entorpecentes não me surpreenderam, uma vez que tive sucesso garantido na minha atividade profissional e, hoje, mesmo aposentado, continuo no trabalho contente por poder aplicar o que aprendi.
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Precisamos lutar para que a escola publica tenha qualidade para todos. Enviado por Luiz Carlos Marques - Luigy - - [email protected]
sempre teve altos e baixos q bom vc ter estudado e aproveitado bem, seja feliz fique com deus parabens Enviado por maria pia tiezzi mirabella - [email protected]
No restante da vida é que se observa a diferença dos resultados. Abraços. Enviado por Luiz Saidenberg - [email protected]
1949.....1952
Grupo Escolar José Escobar...
1o. ano: Prof. Da. Luzia
2o. ano: Prof. Da. Laura (irmâ de Da. Luzia)
3o. ano: Prof. Da. Bernadócia; depois a subtituta..Da Bernardette.
4o. ano: Prof. Da. Laurinda......
1954/1957:
Ginasial: Alexandre de Gusmão....
Português: Da. Berta Camargo Vieira
Geografia: Prof. Ferrari
História: Jose Bueno
Frances: Da. Ruth
Desenho: Da. Marina
Ciencias: Da. Angelina (nossa paraninfa)
Trabalhos Manuais: Prof. Otávio
Canto Orfeônico: Prof. Carminha
Educação Física : Prof.Clóvis...
Latim : Prof. José Cretella Junior...
Matemática: Da. Ercília......
.......e outros que a memória já rateando, momentaneamente esquece....
Hoje são apenas nomes de professores, que com dignidade, passaram seus conhecimentos didáticos e morais a uma parte de minha geração.....
A eles, minha humilde gratidão...
Luiz Enviado por Luiz - [email protected]