Leia as Histórias
A chuva cai, fraca mas insistente. Desgraça pouca é bobagem; nesta altura muitas cidades de Minas e do Estado do Rio estão debaixo d’água. Aqui a coisa é mais amena.
Escrevi, num artigo anterior, sobre os bons tempos do Mappin, quando se marcavam encontros sob seu vetusto relógio. Não se marcam mais, ou assim pensava até hoje. Mais um, então, e talvez o seu último.
Cláudia, de Veja, convida-me para uma sessão de fotos e marca meu encontro com o fotógrafo: mais uma vez, sob os ponteiros do Mappin. Lá vamos nós, até que o trânsito na 23 não está mau, para um dia tão chuvoso.
Estaciono no calmo Largo do Arouche e inicio minha travessia, sob chuva macia, pelos caminhos da juventude. Rua do Arouche, onde desapareceram lojas tradicionais, como a Casa Leipzig e Dr. Scholl´s. Onde lojas de calçados finos foram substituídas por lojas parecidas, mas bastante mais populares.
Cruzo o calçadão da Praça da República, agora ampla, vazia, limpa e lavada pela chuva. Por causa dela, os sem teto e drogados reuniram-se, caídos no antigo coreto. Que já exibiu bem melhores espetáculos.
A Barão de Itapetininga, com seu comércio agora popularesco. Onde se degustavam as delicatessens da Confeitaria Vienense, agora os homens sanduiche, com seus cartazes de compra de ouro (falso, talvez) e advogados trabalhistas, também falsos, com certeza.
Faço um giro nostálgico pela Galeria Califórnia, palco de tantas lembranças. Tudo tão mais pobre, e também menor. O tempo distorce tudo: onde era ao tradicional Café Haiti, palco, dizem, da primeira máquina de café expresso brasileira, temos uma lanchonete, e parece ínfima diante da minha lembrança do Haiti. Do cine ali existente, nem vestígio.
Na Barão, nobre falido, não mais a Sartoria Minelli, as Lojas Bristol, a Livraria Francesa, as lojas de tecidos finos, a Drogadada. Poucos coitados pelo caminho, principalmente agora que a policia inicia uma blitz para erradicá-los da região. Então, estamos mais livres para contemplar o entorno, e poder derramar nele nossas emoções da mocidade.
Nesta manhã, a travessia do Centro "Novo" é uma tarefa fácil, e até agradável. Cheguei adiantado, como sempre, sem ser mineiro e nem, infelizmente, Fernando Sabino. Tomando café no agradável Shopping Light, espero o fotógrafo Fernando e também, em vão, que a chuva pare. Ele chega, e imediatamente começa a fotografar. O relógio do Mappin marca, como sempre - o Tempo passa!
Com ele ao fundo, quase dou uma de Gene Kelly, em "Singing In The Rain". Capa, chapéu, guarda chuva. Faltariam só as abomináveis galochas de antigamente. Combina bem com a garoinha de outrora, e devo mais parecer um personagem da época de Lobato, Mario de Andrade ou Guilherme de Almeida.
Mas, ao contrário do filme, meus movimentos têm de ser precisos, bem vigiados pela implacável lente da câmera, a fim de que não se perca o ângulo, nem o relógio suma do fundo.
Ainda assim, é divertido... "I´m Happy Again". Mais umas fotos e a sessão termina. Mas não a chuva.
Volto para buscar o carro, com uma sensação de alívio: quem sabe desta vez, dados os primeiros passos, o Centro volte a recuperar sua antiga majestade, e um dia possamos mostrá-lo com orgulho a nossos netos, como fizeram meus pais: - esta é a nossa cidade!
E-mail: [email protected]
Você precisa estar logado para comentar esta história.
A São Paulo Turismo não publica comentários ofensivos, obscenos, que vão contra a lei, que não tenham o remetente identificado ou que não tenham relação com o conteúdo comentado. Dê sua opinião com responsabilidade!
Um abração e parabéns meu amigo.
Bernadete Enviado por Bernadete Pedroso de Souza - [email protected]
Pois temos sempre noticias praticamente ao vivo pela internet.Abracos Felix Enviado por Joao Felix - [email protected]