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Benedeto sotaque paulistano
Autor(a): Antonio Rossi dos Santos - Conheça esse autor
História publicada em 25/10/2009
Depois de muitos anos de cogitação e preparo, no início do outono de 2009 realizei um velho sonho. Eu e minha mulher estávamos a bordo de um navio cujo cruzeiro teve início em Santos com destino a Savona na Itália, realizando nove paradas no percurso de 18 dias.
Como se trata de final de temporada no Brasil, o navio recebeu grande número de passageiros europeus que vieram de avião, aproveitaram o final de verão brasileiro por alguns dias, e, estão de retorno ao velho mundo gozando do conforto de um grande hotel flutuante.
Dos 2895 passageiros a bordo, as grandes "colônias" são: brasileiros, alemães, franceses, italianos e hispânicos; logo, a linguagem na embarcação é bem diversificada e as comunicações oficiais passam obrigatoriamente por esses vários idiomas, e, mais o inglês. Pobres marujos comunicadores!
O que era agressivo nos primeiros dias vai tornando-se familiar e já dá para entender muito do que os franceses falam, graças à raiz latina da língua e às aulas do meu longínquo curso ginasial concluído na década de cinqüenta na Escola Técnica de Comércio Olavo Bilac na Lapa. O italiano, idioma oficial do navio, foi bem assimilado por mim desde o início, o que não é nenhuma grande vantagem para quem na infância ouvia regularmente, todos os domingos, os parentes de sua querida Nona falarem e cantarem as coisas da bela península.
Os hispânicos, incluindo-se o grande número de tripulantes, na realidade falam a nossa língua com pronúncia diferenciada; basta prestar a atenção e pedir para que seu interlocutor fale calmamente, pois muitas palavras são idênticas ao português. O inglês, mercê o conhecimento básico que a vida moderna nos impõe, dá para o gasto, e, consigo ler noventa por cento dos avisos e documentos além de conseguir comunicar-me com passageiros e tripulantes.
O alemão, bem, este é um caso à parte. O grande número de passageiros de língua germânica só conversam entre eles, a maioria integrantes da chamada terceira idade, sempre irritadiços, brigando por posicionamento de cadeiras ou esteiras no convés, lugares nos bares, no teatro, enfim sempre estressados. Seria o caso de se pensar que o próprio isolamento que o idioma impõe seja o responsável pelo defeituoso comportamento social? Isto eu não sei, mas, esta realidade eu observei ao vivo no cruzeiro.
Face as minhas observações passei a meditar sobre minha infância e juventude na nossa querida e cosmopolita São Paulo, onde os vários idiomas que obtigatoriamente ouvíamos, foram lapidando nosso sotaque,agregando palavras ao nosso vocabulário e condicionando nosso cérebro para melhor compreensão das línguas latinas.
Graças a Deus nasci e sempre vivi em São Paulo. Não tenho problemas para comunicar-me com metade do mundo. Obrigado querida SAMPA.
E-mail do autor: [email protected] E-mail: [email protected]
Como se trata de final de temporada no Brasil, o navio recebeu grande número de passageiros europeus que vieram de avião, aproveitaram o final de verão brasileiro por alguns dias, e, estão de retorno ao velho mundo gozando do conforto de um grande hotel flutuante.
Dos 2895 passageiros a bordo, as grandes "colônias" são: brasileiros, alemães, franceses, italianos e hispânicos; logo, a linguagem na embarcação é bem diversificada e as comunicações oficiais passam obrigatoriamente por esses vários idiomas, e, mais o inglês. Pobres marujos comunicadores!
O que era agressivo nos primeiros dias vai tornando-se familiar e já dá para entender muito do que os franceses falam, graças à raiz latina da língua e às aulas do meu longínquo curso ginasial concluído na década de cinqüenta na Escola Técnica de Comércio Olavo Bilac na Lapa. O italiano, idioma oficial do navio, foi bem assimilado por mim desde o início, o que não é nenhuma grande vantagem para quem na infância ouvia regularmente, todos os domingos, os parentes de sua querida Nona falarem e cantarem as coisas da bela península.
Os hispânicos, incluindo-se o grande número de tripulantes, na realidade falam a nossa língua com pronúncia diferenciada; basta prestar a atenção e pedir para que seu interlocutor fale calmamente, pois muitas palavras são idênticas ao português. O inglês, mercê o conhecimento básico que a vida moderna nos impõe, dá para o gasto, e, consigo ler noventa por cento dos avisos e documentos além de conseguir comunicar-me com passageiros e tripulantes.
O alemão, bem, este é um caso à parte. O grande número de passageiros de língua germânica só conversam entre eles, a maioria integrantes da chamada terceira idade, sempre irritadiços, brigando por posicionamento de cadeiras ou esteiras no convés, lugares nos bares, no teatro, enfim sempre estressados. Seria o caso de se pensar que o próprio isolamento que o idioma impõe seja o responsável pelo defeituoso comportamento social? Isto eu não sei, mas, esta realidade eu observei ao vivo no cruzeiro.
Face as minhas observações passei a meditar sobre minha infância e juventude na nossa querida e cosmopolita São Paulo, onde os vários idiomas que obtigatoriamente ouvíamos, foram lapidando nosso sotaque,agregando palavras ao nosso vocabulário e condicionando nosso cérebro para melhor compreensão das línguas latinas.
Graças a Deus nasci e sempre vivi em São Paulo. Não tenho problemas para comunicar-me com metade do mundo. Obrigado querida SAMPA.
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Publicado em 10/12/2009
Rossi
Sabemos, todos,que o benedeto sotaque italiano,que você domina tão bem, foi compilado por Juó Bananère, em sua LA DIVINA INCRENCA,que você certamente leu.Acho que a prática diária aliada aos ensinamentos do Juó, permitiram que você se comunicasse tão bem naquela Babel flutuante,quando você singrou o Atlântico rumo à Europa.O patois paulistano é uma das marcas registradas de Sampa.Abraços,e parabéns, do
Marchi de Queiroz Enviado por Marchi de Queiroz - [email protected]
Sabemos, todos,que o benedeto sotaque italiano,que você domina tão bem, foi compilado por Juó Bananère, em sua LA DIVINA INCRENCA,que você certamente leu.Acho que a prática diária aliada aos ensinamentos do Juó, permitiram que você se comunicasse tão bem naquela Babel flutuante,quando você singrou o Atlântico rumo à Europa.O patois paulistano é uma das marcas registradas de Sampa.Abraços,e parabéns, do
Marchi de Queiroz Enviado por Marchi de Queiroz - [email protected]
Publicado em 04/11/2009
São paulo é mesmo Babel;
falam-se todas as linguas e dialetos do mundo aqui. Assim, quem tem ouvidos de ouvir e olhos de ler, sempre acaba aprendendo muito dos idiomas estrangeiros, e não se aperta em nenhum lugar do mundo. Abraços. Enviado por Luiz Simões - [email protected]
falam-se todas as linguas e dialetos do mundo aqui. Assim, quem tem ouvidos de ouvir e olhos de ler, sempre acaba aprendendo muito dos idiomas estrangeiros, e não se aperta em nenhum lugar do mundo. Abraços. Enviado por Luiz Simões - [email protected]
Publicado em 28/10/2009
Antônio, que coisa maravilhosa é nascer e viver numa cidade como a nossa! Cabem todos os idiomas no nosso ouvido e na nossa sensibilidade, o que nos dá sempre uma grande satisfação no ato de se comunicar e entender. Belo texto. Um grande abraço.
Enviado por Vera Moratta - [email protected]
Publicado em 28/10/2009
Prezado Rossi. Gostei muito de sua narrativa, essa ligação Cruzeiro Maritimo e São Paulo, foi muito inteligente,gosto muito de seus textos. Parabéns.
Enviado por ArthurMiranda - [email protected]
Publicado em 27/10/2009
Sr Antonio, a sua narrativa é tão boa quanto deve ter sido essa viagem dos sonhos. Mais do que provado que a comunicação entre as pessoas independe da língua que elas falam, não é? talvez só não vale para os estressados...
Enviado por Márcia Sargueiro Calixto - [email protected]
Publicado em 27/10/2009
ROSSI, VC. LEMBROU UMA COISA MUITO IMPORTANTE: QUEM NASCE E VIVE EM SÃO PAULO, TOPA QUALQUER PARADA NO RELACIONAMENTO COM QUALQUER IDIOMA. SINGULAR NARRATIVA, BELO, "FACCIAMO LA NOSTRA FESTA, ANDIAMO A MANGIARE LA BELLA PIZZA COM NOSTRO COMPAGNO MICHELE" (tradução? só na noite das redondas...) PARABÉNS, SANTOS.
laruccia Enviado por Modesto Laruccia - [email protected]
laruccia Enviado por Modesto Laruccia - [email protected]
Publicado em 26/10/2009
Sr.Santos, nada é tão fascinante como conhecer culturas, pessoas e lugares; os que tem a sorte de ter vivido em terras cosmopolitas como a grande Sampa com certeza não vão se apertar na hora da comunicação. A analogia dos passageiros marítimos com nossa cidade foi muito interessante e feliz. Parabéns pela história. Bernardi.
Enviado por Ernesto Bernardi - [email protected]
Publicado em 26/10/2009
É ISSO MESMO SR. ROSSI, TEMOS QUE DAR GRAÇAS A DEUS POR SERMOS PAULISTANOS DA GEMA, MAS, UMA OBSERVAÇÃO É PERTINENTE, " A EDUCAÇÃO, A GENTILEZA E PRINCIPALMENTE A SIMPATIA, SÃO LINGUAGENS UNIVERSAIS", LINDA VIAGEM E BELO TEXTO, PARABENS.
FORTUNATO MONTONE Enviado por FORTUNATO MONTONE - [email protected]
FORTUNATO MONTONE Enviado por FORTUNATO MONTONE - [email protected]