Leia as Histórias
Ao caminhar pela movimentada Rua Silva Bueno, no Ipiranga, deparei-me, em frente de uma luxuosa confeitaria, com um menino, da raça negra, maltrapilho. Deveria ter uns dez ou onze anos. Estava com os pés no chão. Olhava fixo para a vitrine do estabelecimento onde estavam expostos os mais lindos e tentadores confeitos. Tinha queijadinha, cocadinha, brigadeiro, beijinho, quindim e tantas outras variedades de doces. Sem falar nos bolos. Cada um mais artisticamente decorado que o outro. Era bolo redondo ou quadrangular. Pequeno ou grande. Uns tinham até frutas secas em volta.
O menino permanecia ali parado. Seus dois olhos não desviavam da vitrine. Pessoas bem trajadas passavam por ele. Uns até arriscavam dar uma olhada rápida pela exposição da confeitaria. Talvez nem notasse a presença daquele garoto como se fosse uma estátua. Mas prosseguiam os seus trajetos. Dentro da loja, fregueses ocupavam os espaços das mesas e do balcão. E o pobre do guri dava uma desviada com os olhos e captava cenas de crianças, jovens e adultos saboreando aqueles quitutes.
O que será que estaria passando naquele exato momento na cabecinha do pobre, descalço e maltrapilho menino? Pensava ele em armar um plano no sentido de entrar e percorrer mesa por mesa pedindo que dele comprassem um daqueles doces? Ou arquitetava um meio de, discretamente, entrar e furtar os cobiçados confeitos para matar sua vontade?
- Furtar não. Minha tia uma vez furtou um remédio numa farmácia e foi parar na cadeia. Está lá até hoje. Pensava o garoto consigo mesmo. Certamente fazia também referência a tantos outros "ladrões do colarinho branco", que roubam milhões dos cofres públicos e continuam soltos.
Nesta época em que se aproximam as comemorações do Natal, data máxima da cristandade, muitos desses meninos estão espalhados pelas ruas de São Paulo. São pobres e inocentes criaturas que vivem diante das vitrines dos estabelecimentos comerciais com os olhos fixos nos doces, brinquedos, roupas, calçados, ou até mesmo num simples pão para matar a fome. São milhares de meninos carentes que, nesta época, ficam com as mentes massificadas de tanta propaganda dos meios de comunicação anunciando o Natal de Cristo e, por detrás, a figura universal do Papai Noel e um verdadeiro "enxame" de propaganda para atrair os consumistas.
Para essas crianças excluídas da sociedade, o "bom velhinho" dificilmente visitará suas casas erguidas com restos de madeiras nas favelas da periferia paulistana, ou até mesmo debaixo das pontes e viadutos onde vivem, como na Avenida São João, confluência com Rua Formosa e Vale do Anhangabaú, por exemplo.
Mais um Natal passará e a figura do Papai Noel ficará apenas na memória dessas coitadas criaturas. Resta a essa gurizada continuar sonhando, tendo como pano de fundo os acordes dos sinos que anunciam mais um aniversário do nascimento daquele que, em vida, não cansava de pregar que "Bem aventuradas as crianças porque elas alcançarão os reinos dos céus".
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Abs. vilton Giglio Enviado por Vilton Giglio - [email protected]
Certa vez presenciei, em uma loja do Pão de Açucar, na Avenida Washington Luiz, que ficava junto a Favela do Buraco Quente, crianças que furavam os pacotes de doces - cocadas, doces de leite, chocolate - para pegar um, seguranças que os escorraçavam ou que, com grosseria e palavras muito duras, tentavam impedir sua entrada. Deixei de ir àquele supermercado porque eu já havia me indisposto com os seguranças várias vezes e comprado doces para as crianças, mas eu não podia mudar aquela situação.
Feliz Natal para você e um aBRAÇÃO Ivette Enviado por Ivette Gomes Moreira - [email protected]
Este é um país governado por um partido social imagino se não fosse.
Abraços
Falcon Enviado por Marcos Falcon - [email protected]