Leia as Histórias
A iluminada manhã de primavera brindou os paulistanos que visitaram o Parque Ibirapuera neste primeiro sábado de dezembro. Apesar de nossa querida São Paulo haver se transformado numa das maiores metrópoles do mundo, e a beleza e extensão deste parque (que alguns de nós vimos nascer durante as comemorações do quarto centenário desta cidade) nos fazer pensar que aqui só existem flores e belos jardins, nem sempre tudo são flores...
Foi o que pudemos constatar neste ano com as ocorrências que antecederam e precederam a inauguração desta malfadada "28ª Bienal do vazio!". Sim, o título é com letra minúscula porque vazio é nada.
O que será que isso quer dizer? Onde está o vazio? Que vazio é esse? Vazio, para mim, e apoiada pelo Aurélio, significa: "Que não contém nada, ou só contém ar; desocupado; despovoado; desabitado; frívolo, fútil; pessoa vazia; falto ou destituído de inteligência; cabeça vazia; pensamentos vazios.".
Portanto nenhum destes significados podem ser encaixados como símbolo ou título de uma bienal de arte.
Achei tudo isso tão grotesco que pela primeira vez não fui ao evento, pois não tenho tempo a perder para ver o nada, executado por pessoas vazias, de cabeças e pensamentos vazios.
Oh! Por favor, não desejo magoar ninguém em especial, porque essas frases são do Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, da Academia Brasileira de Letras e Filologia...
Com esse espírito fui convidada por um grupo de artistas, liderado por Antonio Peticov, para uma manifestação puramente intelectual em frente a Bienal, hoje (07/12), às 10h00, onde estava sendo organizada uma grande festa carnavalesca para o encerramento do "Circo do Vazio", logo mais tarde.
Nós, artistas plásticos, estivemos lá. A curadoria e a presidência da Bienal, embora convidadas, não compareceram a nossa pacífica manifestação contra a desrespeitosa citação de "Vazio na Arte", apoiada pela Uol, Viva SP, Blog do Mário Lopomo, Grupo São Paulo Minha Cidade, Rádio Eldorado, GNT, Jornal Estadão, Agência de Notícias da Internet, dentre outras, mas nós entendemos... Afinal, tratava-se de uma manifestação intelectual, de intelectuais, estudiosos e profissionais da arte paulista.
Num momento em que lamentamos profundamente o fechamento de grandes e honradas galerias, a ausência de competentes marchands que desistiram ou saíram do mercado, dos grandes colecionadores e apreciadores que apoiavam os artistas em suas exposições e leilões de arte, dos clientes de arte, cuja crise os afastou do mercado que tanto apreciam e conhecem...
É lamentável assistirmos alguém que ocupa uma posição de comando num espaço público que pertence ao povo, como é o saguão da Bienal e outros do Ibirapuera, dedicar uma Bienal - outra aberração, visto bienal significar dois anos - com todo aquele espaço homenageando o que carregam em suas cabeças: NADA! Tantos artistas sem conseguirem locais para expor suas obras, ou sem capacidade financeira para custear exposição em galerias, para assistirmos a essa "Apoteose do NADA"?
É um acinte à classe artística. É um desrespeito a nós como profissionais da arte.
Aliás, acredito que esse tipo de presidência e curadoria deveria ter pessoas do meio artístico, para garantir a sensibilidade e a criatividade para organizar bienais como já existiram no passado, e não acontecer mais outra em homenagem ao NADA, que, para acontecer algo, precisaram mandar prender alguém que, incomodado, quis colocar algo lá dentro...
Como diria Lair Ribeiro o filósofo das massas: "O pior incompetente é aquele que não tem competência para perceber o quanto é incompetente!".
Por essas e outras que após mais de 35 anos de carreira, de lecionar, de exposições nacionais e internacionais, de inúmeras premiações e comendas, de haver pintado, dentre outros trabalhos, um altar mor de 42 metros quadrados, uma Via Sacra em Minas Gerais, um cenário, vários painéis e inúmeros quadros, me sinto desanimada frente à carreira, ao mercado atual. Despojada de forças para pintar, com o ímpeto e a criatividade que pulsam dentro de mim, ao ver pessoas, em posições chave, nada fazerem para levarem a arte, a cultura e o conhecimento para a sociedade brasileira.
Disse, digo e não canso de repetir: "A Arte nunca foi vazia. Nem na época da guerra mundial ela deixou de existir, mas se transformou num registro das ocorrências, como em todos os tempos da história mundial".
Assim termino meu texto com o título: "Onde houver um artista, nunca existirá um vazio!”.
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Modesto Enviado por Modesto Laruccia - [email protected]
Por isso, Ana Maria, use a sua arte para o combate. Não desanime. Um Abraço
Ivette Enviado por Ivette Gomes Moreira - [email protected]
Tenho a oração comigo e é muito bonita Ana Maria. Enviado por Clesio de Luca - [email protected]
Mancini Enviado por Mancini - [email protected]