Leia as Histórias
Lendo a narrativa (e que narrativa!) do José Luiz Batista da Fonseca sobre o saudoso jornal Notícias Populares, que popularmente era conhecida por "NP", me veio à memória alguns fatos relacionados direta ou indiretamente a esse tão criticado jornal paulistano. Eu só não me lembro o nome do seu diretor. Talvez o Mário Lopomo saiba. Mas foi ele quem deu aquele impulso, fazendo de Notícias Populares o jornal mais vendido nas bancas da cidade.
Aliás, esse diretor era para o NP o que foi o Miranda Rosa para o também saudoso Diário Popular, que chegou ser considerado o "Rei das Bancas". Tinha uma excelente cobertura esportiva e uma ótima na polícia como carros-chefes. Também tenho lembrança do "Popular da Tarde", mas deixemos para outra ocasião porque o assunto é outro.
Tinha tanta gente metida a bacana que dizia aos quatro cantos que não lia Notícias Populares, porque era um jornal que, se espremesse, saía sangue. Mas no banheiro sempre dava uma olhada. Aliás, esse estilo de jornal é feito nas principais capitais do mundo. Não sei por que em São Paulo não vingou. Era um jornal dedicado ao povão. Fácil de ler, com muitas ilustrações (fotos).
Eu era Assessor de Imprensa da prefeitura de Diadema. Isso por volta de 1977. Quando chegava, já estavam na minha mesa todos os jornais diários de São Paulo e ABC. Eu aproveitava e recortava aquelas fotos de mulheres. Tenho muitas ainda guardadas. Naquela época, aquelas gatas chamavam a atenção do leitor, o que provocava aumento de vendas.
Eu até cheguei a escrever matérias para o NP. Também mantenho guardadas todas que foram publicadas, muitas delas com aquelas manchetes "garrafais". Em 1975, quando trabalhava na Agência Folhas, passei a escrever "crônicas", tendo, como pano de fundo, ocorrências policiais. Não ganhava nada, mas a repercussão era tamanha que recebia tantas cartas de elogios e também de sugestões.
O Notícias Populares tinha o Geraldo Bernardes, colunista social. Quando era Assessor de Imprensa da prefeitura de Diadema, enviava-lhe matérias e todas eram aproveitadas. Ele até abria um espaço: "Ligeirinho conta as sociais de Diadema". Certa vez, Geraldo Bernardes resolveu lançar uma promoção para escolher as principais personalidades do ano em todo o Estado de São Paulo. Eu apresentei as de Diadema. E também fui distinguido com o destaque do ano como colunista social.
A festa foi numa discoteca (Papadoc, que ficava numa travessa da Avenida Paulista). Bernardes reuniu lá a chamada nata da sociedade de diversas cidades paulistas e também da capital, além de personalidades da televisão, como Carlos Zara e Eva Vilma, dentre tantos. Foi uma festa super badalada.
Notícias Populares tinha por hábito levantar matérias polêmicas e sensacionalistas. Uma vez dedicou semanas sobre o "Bebê Diabo". Seria notícias de um bebê com chifre que teria nascido no Hospital São Bernardo do Campo. Eu ainda estava trabalhando no Diário do Grande ABC como repórter policial. Numa manhã, eu conversei no hospital com os diretores e os médicos que atenderam a criança e eles esclareceram que não tinha nada de chifre, e sim uma pequena saliência na cabeça, fato normal, segundo ele, mas que com o tempo desapareceria. E NP aproveitou para fazer todo aquele escândalo.
Outro tema levantado por NP foi sobre a "Loira Fantasma". Esse deu o que falar. Todo dia tinha uma matéria informando que fulano de tal tinha visto a loira. Segundo as matérias, era uma "loira" que, num determinado momento, em conversa com seu acompanhante, começava a soltar espuma pela boca e depois desaparecia misteriosamente.
Certa vez, o repórter Roberto Moschela estava todo radiante, alegando ter matéria bombástica dando conta de que um homem tinha visto a "loira fantasma", e a Polícia Militar registrado o fato. A ocorrência fora registrada no 1º Distrito Policial de São Bernardo do Campo. Como eu fazia matérias policiais para o Diário do Grande ABC, realmente vi essa ocorrência, mas, logo a seguir, tinha outro BO (Boletim de Ocorrência) que o Moschela não viu, ou deixou de lado propositalmente. Nesse outro, uma loira, funcionária de uma farmácia da Rua Marechal Deodoro, esclarecia tudo.
Resumindo: ela saíra depois das 22h da farmácia onde trabalhava como balconista. Ficou num ponto aguardando seu ônibus. Nisso, aparece um cara que lhe oferece carona. Ela aceita. Quando estavam próximos da casa dela, lá pelas quebradas, o rapaz pára o carro e fica conversando com ela. Mas quando vem a aproximação de uma viatura policial, ela, com medo, abre a porta e dá no pé. Os policiais militares chegam e abordam o cidadão que, olhando para seu carro, não vê mais a mulher e diz, branco e assustado, que ele acabara de transportar a "Loira Fantasma". Foi feito ocorrência porque, na época, os policiais também apareciam no jornal.
De um modo geral, sinto muito que o Grupo Folhas tenha acabado com o NP. Era um jornal que não dava prejuízo. Só com a venda avulsa pagava-se o custo. Aliás, não foi só Notícias Populares que foi para o espaço. Também o Última Hora e até as A Gazeta (Gazetinha) e A Gazeta Esportiva. Só a família Frias de Oliveira pode saber das razões de se ter acabado com esses jornais.
Tenho tanta coisa mais para escrever sobre jornalismo em São Paulo. Fico por aqui. Numa outra procurarei narrar fatos relacionados ao Diário Popular, Última Hora, Popular da Tarde, Diário de São Paulo e Diário da Noite.
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Grande abraço. Enviado por José Maria P. Araújo - [email protected]
Arlindo, seu texto muito bem detalhado, com informações interessantes sobre jornais que fizeram histórias na imprensa paulistana, curiosidades que só quem atuou nos bastidores das redações tem acesso as mesmas. Parabens.
laruccia Enviado por Modesto Laruccia - [email protected]
O jornal que mais"eu"lia era a Gazeta esportiva",vc. deve ter infinitas histórias.
Muito legal,aguardamos mais.
Um abraço.
Vilton Giglio Enviado por vilton giglio - [email protected]
laruccia
Laruccia Enviado por Modesto Laruccia - [email protected]