Leia as Histórias
Creio que poucos, pouquíssimos, sabiam o seu nome, a sua idade, onde e do que vivia. Mas muitos a viam todos os dias, sempre no mesmo lugar, e dedicavam alguns minutos contemplando-a. Era, se não me engano, final dos anos 1960 ou início da década de 1970. A "velhinha dos gatos" ou "a vovó dos gatos", era como se referiam a ela. Sentava-se nas escadarias do Viaduto do Chá, próximas ao Teatro Municipal ou nos gramados dos jardins próximos à Rua Formosa. Ao seu redor, dezenas de gatos esperavam a recompensa por sua fiel companhia à idosa: pedaços de algum alimento que ela lhes atirava. Parecia, contudo, que, por parte da senhora, havia mais do que um simples lançar de comida aos bichanos. Às vezes ela os olhava um a um, demoradamente, como se os analisasse, procurando adivinhar o que pensavam ou sentiam. Quando ela se levantava para ir embora, eles também partiam. E isso me trazia a lembrança do conto do tocador de flauta de Hamelin, que, tocando seu instrumento,
livrou a pequena cidade alemã dos ratos que a infestavam. Houve até um jornal que, na época, dedicou uma reportagem àquela senhora e seus incontáveis seguidores. Infelizmente não a li.
Os olhares dos que paravam para contemplar aquela curiosa figura deixavam transparecer os mais variados sentimentos, e quando os observadores estavam em grupos, comentavam entre si: "que loucura", "que legal", "que bonito" e, por causa do odor provocado pelo grande número de gatos, não raro alguém exclamava: "que
nojo!".
A poucos metros dali, uma outra figura era alvo da atenção do público. Na esquina da Rua Xavier de Toledo com a Praça Ramos, um policial do trânsito arrebatou, durante anos, a atenção de todos que passavam por ali. Sua presença ali nem era tão necessária, pois havia o semáforo, ou melhor, os luminosos com as palavras Pare e Siga, dispostos um em cada lado. Mas ninguém prestava muita atenção a esse equipamento. Todos os olhares permaneciam voltados para o policial, que com movimentos salpicados de bom
humor e que as vezes lembravam uma coreografia, regia o movimento dos pedestres, fazendo-os caminhar ou parar. Quando ia para o meio da rua interromper o fluxo de veículos para que os pedestres pudessem atravessar, dirigia simpáticos cumprimentos a muitos dos que atravessavam. Cultivava especial atenção aos idosos. Certa vez, quando eu atravessava aquela esquina sob o alegre comando do policial, uma senhora que vinha atrás de mim disse à sua acompanhante: "Viu como foi bom termos vindo por aqui? Esse guarda é um anjo!".
Tanto a velhinha dos gatos quanto o policial (se não me engano era chamado de guarda Toninho) não estão mais nos lugares onde se tornaram conhecidos pelo público. Quero crer que ainda estejam vivos. Contudo, se já não estiverem mais entre nós, certamente não serão esquecidos por aqueles que tiveram a oportunidade de conhecê-los.
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Eu também conheci a velhinha dos gatos.
Trabalhava como Boy na Rua Formosa, 367 e tinha também o prédio que dava para a Praça Ramos em frente aos gatos e à Light.
Eu tinha treze anos e nos anos de 1963 e 1964 trabalhei lá (Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo).
Tenho algumas fotos com os colegas de serviço que batemos na hora do almoço na Praça dos Gatos.
Gostei de ler a história e hoje aos 59 anos anos voltei aos meus tempinhos bons de garoto bonitinho.
Valeu Amigo.
Waldevir Bernardo. Enviado por WALDEVIR BERNARDO - [email protected]
A praça conhecida popularmente como a dos gatos, eu mesmo na decada de 60 cheguei a contar mais de 70 gatos que ali perambulavam e esta senhora realmente aparecia para alimentá-los.
O guarda de transito era o Luizinho, ficou famoso por sua intervenções de transito, em uma oportunidade vi que um motorista avançou sobre a faixa de pedestre e o guarda Luizinho fez ele descer do carro e fez com que pessoas passasem por dentro de seu automóvel. Foi hiláriante,o cara era uma figura carimbada.
Meu bons tempos............. Enviado por lourenço camargo - [email protected]
o nome do guarda era Luisinho, e ainda me lembro bem da velhinha alimentando os gatinhos, na época era office boy de uma empresa e diariamente ia ao centro.
Era muito melhor o cheiro dos gatos dos que o fedor que exala os malandros que ocupam a velha pracinha.
abraços.
manoel Enviado por MANOEL RODRIGUES - [email protected]
Modesto Enviado por Modesto Laruccia - [email protected]
Certa vez, um carro parou em cima da faixa de pedestres e ele fez varias pessoas passarem por dentro do veiculo e era um fusca. Disso não vou esquecer nunca, porque fui dos que passaram, tudo na gazação é claro.
Abraços valeu a lembrança.
Carlos R.T.Trindade.
carlã[email protected] Enviado por Carlos Roberto Teixeira Trindade - [email protected]
Agora o nome do guarda lembrado em seu texto eu sei: Guarda Luizinho, figura cativante e muito querida de todos. Enviado por Miguel - [email protected]