Final de ano! Houve época que me lembro, ainda muito jovem, creio que com a idade ainda em um digito, em que essas datas natalinas tinham um colorido todo especial. Como normalmente já estávamos de férias escolares e com os amiguinhos todos à disposição, sentíamos que os dias se arrastavam, não de monotonia, mas de excesso de brincadeiras, pois eram tantas ideias!<br><br>Tínhamos espaços nas calçadas, nos quintais, nas salas. O sol nascia e se punha e a turma unida a organizar atividades: pular corda, amarelinha, bate lata, corre cotia, teatrinho, queimada, para os meninos o futebol e para nós meninas brincar de casinha era tudo de bom. Ante véspera de Natal já se sentia o movimento em casa com cheiros mil a se misturarem entre tigelas, formas e compoteiras. <br><br>Na véspera a cozinha se tornava área restrita a quem tinha ainda o que terminar. Forno ligado e algumas bocas do fogão também. Micro-ondas nem pensar. Lembro que minha mãe, a uma certa altura da tarde, dizia que iria descansar para aguentar a noite, enquanto nós, as crianças, continuávamos a todo vapor, ora lambendo colheres e raspando a tigela de algum doce ou furtando alguma coisa que conseguíamos, fosse as claras ou as escondidas.<br><br>Lembro que meu pai se dispunha a lavar o tanto de pratos, talheres, formas e mais tralhas que lhe eram entregues. Às vezes reclamava dizendo que era a segunda ou mais vezes que lavava aquela mesma peça. O cair da tarde prenunciava que o banho nos aguardava e que bonitas e às vezes novas roupas também. O entre e sai do banheiro em pouco tempo se transformava em uma grande bagunça, deixando aos retardatários toalhas e chão molhados. O espelho disputado, fosse para o modelo "vaca lambida" para os meninos e laços e presilhas para as meninas.<br><br>As horas passando e as vozes aumentando em cumprimento dos que chegavam, com a dos que ainda tinham o que terminar na cozinha, além daqueles que eram os escalados para arrumarem a mesa e de nós crianças que tentávamos adivinhar a quem pertencia cada presente deixado, não sei quando, debaixo da grande, de acordo com a nossa altura, árvore natural de um pinheiro multicolorido de bolas, laços e flocos de algodão.<br><br>A noite finalmente se instalava, a mesa decorada e colorida exibia os tantos pratos preparados. Antes da grande ceia era a hora mais divertida, pois cada um tinha que adivinhar a quem pertencia tal regalo, através de mímicas hilárias, ou as vezes tímidas. Tantas vozes, tantos erros para finalmente e espanto do escolhido se negar a aceitar tais dicas, muitas vezes explicitas do presenteador. Abraços, beijos, lágrimas e risos, tudo misturado. A quem se incumbia de registrar os fatos às vezes se perdia, diante de tanta algazarra. Já suados e descabelados, mas felizes com nossos presentes, nos dirigíamos à mesa. Minha mãe fazia questão que saudássemos o aniversariante da noite, pois lá estava ele em sua manjedoura ao lado da grande mesa. Champagne estourada e servida e um brinde feito com todos a uma só voz: Feliz Natal para todos. <br><br><br>E-mail: [email protected]