Eu era criança, estava aprendendo a tocar harmônica, mas em casa falavam que era sanfona. Nas partituras que o professor Maércio Romangnolli me indicava, o nome inserido nos arranjos dizia ser harmônica, enfim: "cada quá sabe o tamanho do seu borná". No Rio Grande do Sul, falam "gaita de fole" e em outros estados falam sanfona, mas é tudo a mesma coisa.
Benedicto Osório de Oliveira, meu pai, tocava vários instrumentos musicais, tais como: viola; violão, na sanfona ia mais ou menos. Sendo “marceneiro carpinteiro” chegou a fazer uma viola e cravelhas também de madeira.
Gostava muito de ouvir valsas, recordo de três: “Saudades de Ouro Preto”, “Saudades de Matão” e “O destino desfolhou”. Ele sabia a letra inteira de Saudade de Matão, e quando eu começava a tocar esta valsa, ele vinha com seu violão dinâmico 7 bocas para me acompanhar. Ficava emocionado quando ouvia tal musica.
O meu problema com ele era o cigarro. Ele fumava muito, acho que uns quatro maços de cigarro por dia, e o cheiro de cinzeiro me incomodava, o cheiro de fósforo queimado também, virava meu estomago, a coisa fedida… Mas ele era meu pai, e eu ficava sem jeito de reclamar.
Nesta época não existiam cigarros com filtros, uma bituca de cigarro jogada no chão, dias depois virava um pé de fumo bem verdinho, parecendo girassol. Não sei dizer, mas o terreno encharcado da Vila Carioca favorecia o florescimento de uma bituca em pouco tempo.
As indústrias que produzem cigarros de uma forma geral se modernizaram tanto, que hoje em dia, uma bituca de cigarro jogada no chão não brota mais, é pura química. Deve ser a razão pela qual os fumantes não conseguem largar o maldito vicio. Na época as marcas de cigarros não tinham filtros.
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