Eu era bem jovem, 13 ou 14 anos, 1970 ou 1971. No último dia das férias conheci em Itanhaém, onde sempre ia levado pelos meus pais, uma menina pela qual fiquei encantado (ficava por quase todas).
Lamentei como se fosse a pessoa mais infeliz do mundo o fato das nossas famílias retornarem a São Paulo, a minha de Fusca e a dela de Sinca Esplanada, e não poder continuar aquela convivência que me parecia tão promissora. Porém nem tudo estava perdido, minutos antes da despedida ela me deu seu endereço com um mapinha que ensinava passo a passo como chegar em sua casa, em um bairro que me parecia tão distante quanto Itanhaém. Vila Ema.
Marquei para o próximo domingo de tarde. Passei toda semana ansioso pensando no encontro, devo dizer que com essa idade eu era bastante inexperiente, talvez mais que o normal. Para meu desespero, no meio desses devaneios me dei conta que esqueci o nome dela, por mais que tentasse não tinha nenhum palpite, cheguei a pensar que nunca perguntei. Creditava isso a minha falta de experiência com mulheres o que me deixava ainda mais inseguro.
Chegado o dia, coloquei minha melhor roupa e me pus a caminho. Pergunta aqui, pegunta ali e por fim estava eu no ônibus indicado esperando chegar ao ponto final para seguir as instruções.
Horas depois, quando desci do ônibus e comecei a me aventurar por ruas sem nomes e campinhos de futebol, fui inesperadamente xingado e ofendido por um menino bem menor que eu, ele era um tanto estranho e apesar de aparentar minha idade era bem pequeno e magrelo. Tentei não dar bola, preocupado com o encontro, com a roupa e tudo mais. Ele não se conformou com minha indiferença e começou xingar mais ainda e a jogar terra. Fiquei com muita raiva e como já estava nervoso apliquei-lhe um “shibarai” (rasteira) que havia aprendido no judô. Ele era muito frágil e o golpe funcionou muito mais que o planejado. Nem tive tempo de me arrepender.
Nesse momento saiu do mato uma dezena de garotos com pau e pedras gritando:
– Pega! Pega!
Como tinha alguma vantagem consegui voltar correndo pelo mesmo caminho e me esconder atrás do balcão de uma padaria onde o dono me deixou ficar e contou que esse procedimento era normal, o baixinho era usado de isca. Eles não “arredavam pé” e o dono da padaria me aconselhou esperar a hora dele ir embora para ganhar uma carona até um ou dois pontos de ônibus adiante, onde eu estaria em segurança.
Adeus encontro. Fiquei horas na padaria comendo sonho com soda e ouvindo um programa de rádio que apresentava várias músicas e no final o público escolhia a campeã da tarde. Nessa tarde ganhou Andreia do Abilio Manoel e tocou duas vezes. Identifiquei-me muito com a letra, parecia meu caso "não consigo encontra-la la la" Nunca mais voltei, nunca mais falei com ela, talvez seu nome fosse Andreia.
E-mail: [email protected]