Escadarias da Cidade Patriarca

Hoje já não existe mais. Na estação de trens do bairro chamado Cidade Patriarca havia uma escadaria na saída, para onde hoje passa a Radial Leste.

Eu morava no bairro vizinho, depois da linha do trem, saudosa Vila Ré.

No fim da escadaria havia um ponto de ônibus que levava as pessoas para o centro de São Paulo. Quando íamos para o centro, dizíamos "vamos para a cidade", como se já não estivéssemos nela (os geógrafos urbanos dirão que não estávamos?).

Era nos anos 70, no final da década, dia de feira, que era avistada da escadaria onde eu estava sentado, esperando o ônibus (creio que era o Praça Clóvis…).

Tô lá e, de repente, uma gritaria de homens: "Pega! Pega!". Um na frente correndo e outros tantos atrás gritando, conseguem interceptá-lo em um muro alto, próximo a um ribeirão que margeava a Estrada do A. E. Carvalho, onde passava o ônibus. Todos cercando para o provável gatuno não fugir.

Era dezembro e aquela feira devia ser a última antes do Natal daquele ano. Compras mais ricas, dinheiro no bolso, dia de aproveitar-se de donas-de-casa e senhores de mais idade, dia de batedores de carteiras… Enfim.

Num piscar de olhos, o homem, que estava cercado, pula o muro alto e some das vistas de seus captores. Foi muito rápido; o cara tinha habilidade com muros; com a ajuda da adrenalina então, parecia o Homem Aranha.

Do lado de lá, o gatuno fugindo, do lado de cá, os justiceiros perplexos. Alguns segundos depois, um deles grita: "É Natal!!!". Todos se olham e fazem coro: "É Natal!". E cada um vai seguindo seu caminho em concordância com este espírito de solidariedade natalina… Ou seria resignação?

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