Hoje pela manhã fui a São Paulo para votar no segundo turno das eleições para prefeito. Mesmo morando em Cotia há dez anos, meu marido e eu não transferimos nosso título e mantemos sintonia com a cidade.
Minhas duas filhas e dois netos vivem em São Paulo. Votamos em um colégio na Avenida Nossa Senhora do Sabará, no Campo Grande, onde vivemos por outros dez anos, antes de nossa mudança para Cotia. Votação tranqüila e rápida, como o foi no primeiro turno.
O que chama a atenção, já a duas eleições e após o advento das maquininhas e o aperfeiçoamento do processo eleitoral no Brasil, é a limpeza da cidade. Ou, se o desejarem, a falta do lixo eleitoral nos muros, nos postes e principalmente a de cabos eleitorais, que nos obrigavam a pegar montes de santinhos, tentando interferir no voto do eleitor ou auxiliar os indecisos, que assim votariam em qualquer uma das caras nos santinhos.
Não havia também as famosas bandeiras dos partidos que eram agitadas na frente dos carros, nas calçadas e na nossa cara. Tudo muito limpo, organizado e asséptico. Nem parecia dia de votação eleitoral. O dia das eleições precisa ser um dia festivo? Seria uma festa da Democracia? Não sei. É caso para pensar.
Meu marido e eu voltamos para casa comentando este novo tempo e lembrando também das campanhas eleitorais de antigamente. Dos comícios em praça pública, dos candidatos folclóricos, como o Jânio Quadros e suas famosas caspas, o Adhemar de Barros com sua caixinha ("quem não conhece a caixinha do Adhemar…"), marchinha de carnaval. E do tão comentado Barreto Pinto, o candidato a deputado que, despudoradamente e em total desrespeito à República e ao povo, mas fruto da democracia, antes da Ditadura, fez-se fotografar de casaca e sem calças, isto é, de cuecas?
Lembramos da eleição do Cacareco, no Rio de Janeiro, que foi uma demonstração do povo, aos políticos, de sua insatisfação com todos eles. Agora, com a maquininha, não teremos mais essa chance. A única coisa que poderemos fazer será nos organizar para anular o voto no país inteiro. Já pensaram que maravilha se isto acontecesse? O TRE abrindo as máquinas e não encontrando um voto sequer, para ninguém?
Lembramos das propagandas: "Varre, varre, vassourinha. Varre, varre a bandalheira, que o povo, já está cansado, de sofrer dessa maneira". Vejam como a bandalheira é antiga, hein?
E o voto de cabresto? E os coronéis pagando capangas para roubar as urnas, quando sabiam que o oponente poderia vencer?
E as compras de votos, dando como pagamento um par de botinas ou um par de dentaduras? Um sanduíche de mortadela, ou, nos casos mais difíceis, uma rede para dormir? Que ainda os há, sabemos que é só facilitar e estas práticas abomináveis voltam. O TRE que o diga.
E as piadas eleitorais? Adhemar de Barros em comício, batendo nos bolsos das calças e dizendo: "nestes bolsos nunca entraram um tostão do povo.". E alguém que assistia ao comício retrucou bem alto: "tá de calça nova, hein danado?".
E a contagem de votos? Lembro-me, ainda criança, de acompanhar minha mãe, com o rádio ligado o dia inteiro, tendo lápis e papel à mão, anotando os boletins que iam chegando. Ela somava os votos de cada candidato, mudava de emissora na expectativa de encontrar alguma mais atualizada. Quando meu pai chegava para almoçar ela lhe passava os resultados das apurações até aquele momento. E vinham os comentários: "o Adhemar está na frente?". "É, mas ainda não começou a apuração das urnas da Vila Maria". Para quem se lembra, era o reduto eleitoral do Jânio. Diga-se de passagem, ele projetou o bairro para o Brasil inteiro.
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