Dezembro de 1963

Numa segunda-feira qualquer do mês de dezembro de 1963, estava indo de ônibus – Via Mercado/Jardim Clímax – para a Tipografia Aurora, na Rua General Couto Magalhães, 396, bairro da Luz, quando íamos passando próximo do STIG – Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Gráficas, Rua da Figueira. Observei que estavam ali grevistas da antiga CMTC – Cia. Municipal de Transportes Coletivos, que eram motoristas, cobradores, enfim, funcionários desta autarquia municipal, pleiteando algum beneficio.

Rapidamente, a tropa de choque fez o cerco e começou a baderna. Caminhões-tanque, tipo Brucutu, lançavam jatos de água e bombas de gás lacrimogêneo pra cima dos grevistas. Foi uma correria. O Parque D. Pedro estava sendo reformado e o que se via era concreto amontoado pra todo lado; neste local, tinha um campo de futebol varzeano.

Os grevistas corriam pra todo lado. Eram “chapéus de bico” que ficavam pra trás, bolsas em que os funcionários carregavam as marmitas rolando e os soldados da tropa descendo o cacetete. Até então, nunca tinha visto algo igual.

Dentro do ônibus tinham vários passageiros. Dois deles, de origem árabe, enrolaram a língua e começaram a falar e esconderam-se no banco. Isto porque uma bomba de gás lacrimogêneo que foi lançada explodiu bem próximo da janela em que eles estavam sentados. Enfim, todos os passageiros ficaram apavorados, inclusive eu e o meu amigo Jairo Ignacio Franco.

Era prenúncio que vinha uma Ditadura Militar meses depois…

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