Os muros da Zona Sudeste caíram. Melhor dizendo, deram lugar à outros, mais modernos, maiores, com propagandas... O som também não é mais o mesmo: apesar dos passarinhos cantarem nos parques como o do Piqueri - com 98 mil m2-, os ônibus nos cruzamentos e o incansável comércio agora são uma espécie de ‘música mais tocada’ para os ouvidos dos moradores da região.
São milhares de moradores, por tradição de suas famílias; vindas de diversas regiões do mundo em busca de oportunidades ou por acreditarem que o progresso dos empreendimentos imobiliários, comerciais e de entretenimento na região representam uma modernização positiva.
Em busca de soluções que tragam para cá aquilo que a região merece, a população aguarda o Plano Diretor: ele consiste em uma Lei que apresenta à Câmara Municipal propostas de planejamento como moradia, empregos, segurança, esportes...
A verdade é que esta é uma região especial da cidade: quem mora sabe e é prova disso. Histórias se des-cortinam por trás dos bairros que a compõem.
A Revista IN que circula especificamente na Zona Sudeste da cidade - a denominação correta, que poucos conhecem, compreende os bairros do Tatuapé, Vila Formosa, Água Rasa, Vila Carrão, Mooca, Jardim Avelino, Belém, Jardim Têxtil, Vila Santa Isabel, Vila Prudente, Vila Matilde e Penha- sabe dessa importância e faz parte desse contexto, levando anualmente, a todos os seus leitores, histórias como as que você está prestes a ler nesta edição e na próxima. Cada rua, casa e personagem traz sua visão dos fatos, mas todos possuem uma só razão: esta amada região de São Paulo!
O antigo e o novo
O progresso trouxe desenvolvimento e o título de ‘nobre’ para um bairro dividido, que não manteve seu patrimônio, e que pouco fala do seu passado.
“O tempo não pára”, cantou Cazuza em uma de suas músicas. Assim é o Tatuapé desde 1560, quando o desbravador Braz Cubas, chegou ao bairro a procura de ouro e pedras preciosas. Não encontrando o que buscava, começou a produzir vinho para o seu consumo e dos padres que rezavam as missas das Capitanias. Depois de um período apático, devido a revolta dos índios Piqueris, que resistiam à catequização, o bairro cresceu pelas mãos do Pe. Mateus Nunes de Siqueira.
impulso para o desenvolvimento do bairro aconteceu na parte baixa, em 1865, com a abertura da Estrada da Penha- atual Av. Celso Garcia- único caminho para quem se dirigia para a capital do País, o Rio de Janeiro. “O Rio Tietê impulsionou imigrantes italianos e portugueses a produzirem tijolos e extrair areia. Nele as pessoas pescavam e nadavam. O que os moradores chamam de Alto Tatuapé era conhecido por sertão, pois só existiam chácaras”, conta Marcilio Rigato, 77, que morou na Av. Celso Garcia, de 1928 a 1954 , quando ela ainda era o ponto chique do bairro e, atualmente, reside no Tatuapé ‘de cima’. “Hoje, a Avenida está deteriorada, feia, em ruínas”, comenta a tatuapeense Arlete Canto Hidalgo, 56, que nasceu na R. Tuiuti: “Nasci em frente a Chácara da família Matarazzo, onde hoje está o Parque do Piqueri. Brinquei muito naquelas terras e na rua também. A infância era muito boa”, recorda.
Do luxo ao lixo
“A avenida que, durante décadas, foi um ponto comercial e turístico, comportava três cinemas e salão de baile: “Havia o salão do Clube de Futebol União do Tatuapé, grandes festas eram realizadas. O atrativo era a casa de frutas, principalmente, uvas, da família Ma-rengo, que ficava onde hoje está o Hospital Municipal do Tatuapé”, conta Rigato. “Tinha o Cine São Luis, o Aladim, com cadeiras estofadas e o São Jorge, todos na Av. Celso Garcia. Moro nesta via há 10 anos e fico triste ao ver que a cada dia ela está mais degradada”, desabafa Arlete.
Num passeio pelo trecho onde está o Condomínio em que Arlete mora, que de tanto verde nem parece estar numa ‘selva de pedra’, a reportagem da IN viu que a situação é preocupante. O que mais assusta é o lixo espalhado pelas calçadas. Segundo a assessoria de imprensa da subprefeitura Mooca, no início de agosto foi feito um mutirão de limpeza e também instaladas papeleiras ao longo das calçadas. No dia 16 de setembro, uma Operação Cata-Bagulho acontecerá na região.
“Realmente falta conscientiza-ção das pessoas que, por exemplo, saem com seus animais para evacuar nas calçadas. Por que não carregam um saquinho para recolher os dejetos? Depois que mudou o sistema de coleta, tudo piorou. As pessoas não sabem a hora que o caminhão vai passar e na noite anterior já tem lixo, sendo que será recolhido na parte da manhã”, aponta Arlete.
Dia do bairro – 5 de setembro
Fonte: Subprefeitura Mooca