As irmãs resolveram casar no mesmo dia na Vila Mariana e no nosso pedaço foi um alvoroço, pois quase não se via casamento de duas noivas, ainda mais que eram de uma família "bem de vida".
Minha mãe foi à cabeleireira fazer aquele coque "banana", muito comum naquela época, e com imensas doses de laquê para durar até a semana seguinte de tão duro que ficava, mas, enfim, era assim mesmo.
Não havia essa coisa de buffet e a festa seria no grande quintal que a família tinha. Enfeites, comes e muitos bebes faziam parte desse ritual em dose dupla.
O casamento na igreja foi lindo, quatro "sins", o fotógrafo correndo de um lado para o outro pegando os melhores ângulos dos casais e eu estava animada com a festa que viria a seguir.
A vizinhança estava toda lá e quando chegamos à festa, o que tinha acontecido foi a coisa mais horrível desse mundo. Alguns convidados saíram antes da igreja e foram direto para a festa, comeram, beberam muito e quando as noivas chegaram, a mesa principal já estava toda literalmente "estraçalhada" pelos convidados atrevidos. Doces e salgados pisoteados no chão, aqueles repolhos com picles… Só ficaram mesmo os repolhos. E como toda festa, depois de muita bebida, começaram acusações de um lado e do outro contra quem tinha feito aquela maldade com a família.
Um que bate daqui, outro revida de lá e eu, menina ainda, nem percebendo o que acontecia no fundo do quintal, fui até uma grade e enfiei minha cabeça inteira num buraco e quando percebi, a briga estava vindo em minha direção.
Gritei por meu pai, minha mãe e ninguém me ouvia, tamanha a confusão e baixaria. Não fosse um vizinho vir em minha direção, teria sido esmagada pela turba enlouquecida, provavelmente minha cabeça coube justa no buraco da grade e, com grande paciência, meu vizinho conseguiu me tirar daquela enrascada.
Eu chorando, pois minhas orelhas estalavam de tanta dor e vermelhidão, de um lado e as noivas chorando do outro, vendo ir para o "ralo" tanto trabalho em vão. Diziam que não era de bom agouro casamento duplo e não é que alguns anos depois uma delas veio a falecer! Não creio em bruxas, mas que existem lá, existem.
E-mail: [email protected]
