Minha mãe sempre nos contava dos carnavais de sua infância na década de 20, ela morava na Rua Júlio de Castilho, perto do Largo São José do Belém. Na casa onde morava via-se nos fundos a linha do trem, os telegrafistas que faziam o controle do tráfego dos trens; ficavam bem ali e eram todos amigos da família. Ela era órfã de mãe desde os sete anos, mas contava que no Carnaval ia com seus irmãos e amiguinhas ver o corso na Av. Celso Garcia.
O corso consistia em desfiles de carros sem capota, repletos de foliões fantasiados que quando se cruzavam jogavam uns nos outros serpentinas, confetes e esguichos de lança perfume. Havia também os ranchos mais populares que desfilavam em horários diferenciados, colocavam cadeiras na avenida e tudo era grátis. O som era das velhas marchinhas de carnaval que todos sabiam de cor: "Jardineira, Abre Alas, Mamãe eu Quero, Aurora, Allah-lá.ô.ô.ô.ô, Chiquita Bacana, Cachaça" e muitas outras.
Mais tarde, na minha infância, quando fomos para a Vila Formosa os bailes eram na Associação de Moradores, na Rua Templários que eu olhava só de longe devido a minha timidez.
Atualmente para ver o Carnaval é preciso ter dinheiro para pagar, embora haja algumas iniciativas para reativar o Carnaval de rua, mas mesmo os blocos usam roupas customizadas a preços definidos pelos organizadores e que nem sempre são baratas. Saudades de São Paulo antigo e dos velhos carnavais.
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