Nos anos 80, trabalhando em uma empresa conceituada de auditoria em São Paulo, fui convidado para criar o departamento de auditoria interna da fábrica de brinquedos Trol. Aceitei, com muito prazer, e fiquei nessa empresa por 10 anos, que pertencia ao Ministro da Fazenda (governo Sarney) Dr. Dilson Domingos Funaro, idealizador do plano cruzado. Relato a seguir alguns curiosidades da empresa.
Poucas pessoas devem saber, mas a Trol era uma das melhores ferramentarias do Brasil: produzia toda a linha da Phillips, Philco, Gradiente, Walita… Tinha um quadro de profissionais da linha de ferramentaria considerados os "tops" do mercado.
Naqueles anos jamais esteve em concordata ou falência, eram fofocas, pois a mesma concorria com a Estrela Brinquedos. Ela veio a entrar em crise e falir depois da morte do Dr. Dílson, mas isso lá pelos anos 89.
Na linha de brinquedos, era o top o Playmobil. Muitas crianças brincaram com esses jogos…
A Trol também criou o famoso "dado" (quebra-cabeça), em que você deveria deixar todas as cores acertadas. No auge do jogador Roberto Rivelino (o garoto do parque), o mesmo foi até a Trol assinar a matriz na ferramentaria da bola que levava o seu nome.
As senhoras devem lembrar de um famoso "escorregador para arroz" ou lava-arroz. Esse produto foi criado pela Sra. Therezinha Beatriz que era uma dentista. Ela apresentou a ideia à Trol, patenteou o produto, a Trol comprou dela, que recebia os royaltes sobre as vendas.
A Trol tinha um complexo industrial em Manaus, rede de supermercados, e uma logística de distribuição no Alphaville (Barueri), margem da Castelo Branco.
Eu tinha contato direto com os filhos do Dr. Funaro. Eram o Dilsinho e o Jorge, todos de uma simplicidade e humildade que herdaram do seu pai. Seu pai era um empresário sério, honesto, muito humilde, cumprimentava a todos.
Quando foi indicado para ser o Ministro da Fazenda, não ficou orgulhoso e nem arrogante. Ele pertencia a famílias tradicionais da sociedade paulistana (Suplicy). Nunca usou sua posição em Brasília para facilitar os negócios do seu grupo empresarial. Ele comentava várias vezes nas reuniões da empresa o que ele assinava de leis, mas jamais foram lidas por ele na íntegra; já vinha tudo "mastigado" e era só assinar.
Seu filho Dilsinho passou toda a sua infância nos corredores da fábrica Trol, andando de "velotrol".
Aos funcionários a nível de gerência e chefia, tínhamos no final do ano um "1décimo quarto salário". Infelizmente seu plano "cruzado 1 e 2" no final começou a não dar certo… Lembro muito bem o que disse ao Dilsinho um gerente da Philips em uma reunião na fábrica… Falou assim: "Dilsinho, seu pai Dr. Funaro, perto de Hitler, Mussolini e Fidel Castro é trombadinha". Aquilo o deixou muito abalado.
Eu morava na Penha e a Trol ficava na Via Anchieta, no bairro do Liviero. Eu ia todos os dias para essa empresa trabalhar. Tinha um ótimo ambiente de trabalho e muitos amigos foram feitos ali.
Infelizmente, após a morte do chefão, muitos começaram a roubar, roubar, e a Trol quebrou. Hoje é um prédio fantasma abandonado, mas valeu esses 10 anos.
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