Branco como a neve

A história que se segue aconteceu perto dos anos 70 e foi passada na Vila Buenos Aires, um bairro próximo da Penha onde passei minha infância.

Os acontecimentos desta época estão se amarelando como as páginas de um antigo livro, mas que continuam vivas na memória de quem teve a felicidade de, assim como eu, ter vivido o que eu considero a época dos anos dourados.

A História

Era uma tarde de outono onde o sol começava a se arrastar rumo à linha do horizonte, exibindo seus lindos raios pintando de dourado as bordas das nuvens e as copas das árvores anunciando que o dia estava próximo de terminar, e era sempre nesse horário que, dia sim e dia não, toda a molecada da rua se agitava, revirando a casa inteira, cada gaveta, cada pote da cozinha ou embaixo de alguma toalhinha de crochê em busca de uma moedinha, e assim que conseguia o dinheiro corria para a calçada e ficava aguardando o homem do apito.

A cachorrada latindo ao longe e o corre-corre das crianças anunciavam que ele estava vindo, olhando fixamente para o horizonte eu via aquela figura que lentamente se aproximava pedalando o seu carrinho.

Piuiiiiiiiiii… "Olha o algodão doce", gritava ele soprando o seu apito, eu era sempre o primeiro a chegar; ele lentamente preparava o seu carrinho, colocava álcool dentro de um recipiente que parecia um chapéu de mexicano, acendia e começava a pedalar, e aos poucos ia jogando o açúcar dentro da máquina.

A criançada ficava maravilhada ao ver os finos fios de algodão se formando, mais parecendo uma teia de aranha que se acumulava nas bordas do aparelho, aos poucos aquele bondoso senhor pegava uma varinha e ia formando enormes chumaços de algodão doce. Era tão baratinho que todo mundo podia comprar, todos saíam comendo seu delicioso algodão doce branquinho como a neve.

Sabe, querido leitor, hoje os carrinhos de algodão doce não existem mais. Hoje existem máquinas industrializadas que fabricam algodão doce de diversas cores, mas para quem já experimentou o algodão doce feito no carrinho manual sabe que não tem comparação, só de lembrar eu já sinto o cheirinho do álcool e do açúcar levemente queimado.

Que pena que estas joias da minha infância desapareceram, mas, como eu já disse, elas continuam vivas na memória daqueles que, assim como eu, viveram o que eu considero os anos dourados de nossa São Paulo querida. Até a próxima…

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