Tenho 70 anos e sou corintiano há pelo menos 65.
Éramos recém-chegados do interior e ainda estávamos nos adaptando à cidade grande. Naquela época meus avós maternos já moravam em São Paulo, no bairro da Vila Clementino, na Rua Borges Lagoa, 1064, entre a Leandro Dupré e a Bacellar.
Meu tio Mané já veio corintiano do interior e, naquela época, tinha seus 16 ou 17 anos. Num domingo de sol ele me levou ao Pacaembu para ver o time mosqueteiro (ainda não era conhecido como Timão) e, principalmente, Domingos da Guia, o Divino Mestre.
Pacaembu lotado, me lembro bem, só não lembro do jogo – contra quem foi, qual foi o resultado, esses pequenos detalhes sem importância…, mas ainda ouço a voz do meu tio: "olha ele com a bola… como joga esse homem…!"
Domingos era o xodó dos corintianos e sempre foi unanimidade nacional entre várias unanimidades nacionais: Leônidas, Ademir de Menezes, Servílio, Waldemar de Brito, Danilo Alvin, Heleno de Freitas e Zizinho, o Mestre Ziza, jogador situado a apenas 01 centímetro abaixo do nível do Pelé (o São Paulo FC de 1957 que o diga!), dentre muitos.
Mas estou saindo do assunto: num domingo fomos pra Vila Clementino visitar meus avós e encontramos meu tio chorando, um negão de 1,85m, debulhando-se em lágrimas, um jornal entre as mãos:
– O Domingos está suspenso, não joga hoje… – disse e me abraçou soluçando, as lágrimas molhando minha roupinha domingueira…
Não sei precisar a data do meu batismo de lágrimas, mas sei que naquele dia passei a ser corintiano…
Domingos da Guia já se foi, mas deixou seu filho Ademir da Guia, Leônidas, Servílio, todos aqueles grandes jogadores também já se foram. Meu tio nos deixou em 1971. Eu, minha esposa, meus filhos e meus netos, todos corintianos, continuamos por aqui.
Estamos aí. Saudações corintianas a todos.
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