Banco dos trouxas

Na nossa época, os ônibus que nos levavam para o trabalho eram conhecidos pela maioria como “Poeirinha”. Da Felipe Camarão até a Rua Tuiuti tinha quatro quarteirões, onde eu o esperava no ponto inicial, que era em frente ao Colégio Espírito Santo. Era um ônibus todo amarelo da Viação Santo Estevam. Não existia ainda a Radial Leste e nem a Avenida Salim Farah Maluf. 
 
Ele seguia paralelo a Celso Garcia, subindo a Tuiuti, descendo a Rua Cristais, Restinga, Rua Herval, Largo do Belém, Vinte um de Abril, entrando no Viaduto Alcântara Machado, ao lado da São Paulo Alpargatas e seguia pela Rua Piratininga, saindo na Rangel Pestana até a Praça Clóvis Beviláqua, que era o seu ponto final (era mais ou menos esse o itinerário do ônibus). 
 
Não gostava de sentar no corredor do ônibus em razão do pessoal quase sentar no seu colo, de tão cheio que era. Na janela, tinha o problema do vento que fazia mal a minha sinusite. Sentava no banco ao lado da catraca, em frente do cobrador. Assim que me sentava já apagava, acordando somente no final do trajeto; às vezes, era acordado pelo próprio cobrador. Como sempre sentava e apagava. 
 
Na saída, esperava todo mundo sair, sendo sempre o último a pagar a passagem. Um certo dia, paguei a passagem e ao caminhar para a saída do ônibus vi que o troco estava errado. Voltei ao cobrador que logo justificou que a pessoa ao meu lado (ele desceu no meio do caminho acredito eu) me apontou dizendo “o meu amigo ali acerta quando descer”. Ia começar a discutir, mas como estava atrasado fui embora com o pensamento igual de um torcedor de futebol em relação a mãe do juiz.
 
Contando essa história para os meus amigos, surgiu o apelido desse banco como sendo “O banco dos trouxas”. Daquele dia em diante, voltei lá para a Celso Garcia, para o meu querido e sempre vazio “Penha Lapa” (risos). Senhorita Margarida Peramezza quer que eu segure a sua marmita – Mas que cavalheiro não acha? Abraços…