Ataque dos insetos

Era uma noite morna de verão. Eu tinha lá os meus oito anos de idade. O ano corrente era 1969. Estava na casa de meus avós paternos, que ficava na mesma rua em que eu morava na Vila Monumento. Lembro-me que, naquela noite, meu avô, meus tios e outros parentes estavam na sala da casa jogando pôquer.

Fiquei um tempo observando o jogo e, entediado, resolvi ir até o quarto dos fundos e tentar "descobrir" onde meu tio guardava seu instrumento musical, um "piston" dourado reluzente. Logo ao entrar, tive a impressão que um monstro estava invadindo o quarto através da janela aberta. Com um zumbido grave e "ensurdecedor", aquela enorme coisa preta passou a centímetros de minha cabeça. Trêmulo e apavorado, gritei como nunca antes na vida, o que atraiu a atenção dos jogadores, que irromperam quase que imediatamente no quarto vindo em meu auxílio.
– O que foi?
– O que aconteceu?
Eu balbuciava que era um bicho. Que um bicho havia entrado pela janela fazendo muito barulho.

Meu avô, aventureiro nato, com várias expedições pela mata atlântica no currículo, vasculhou o quarto e, rindo muito, capturou o invasor. Um "monstruoso" besouro preto com dois chifres, um deles no alto da cabeça; seu tamanho era aproximado ao de um maço de cigarros sem filtro da época. Um inseto inacreditável, provavelmente um Besouro Hércules (Dynastes hercules).

Foi uma festa. Eu ainda chorando de medo e os marmanjos, deixando o pôquer de lado, começaram a brincar com o besouro. Amarraram uma linha numa caixa de fósforo grande, a qual enganchavam no chifre do besouro, que com sua incrível força puxava a caixa com diversos objetos que eram colocados em seu interior. Brincaram até cansar e soltaram o bichão pela mesma janela em que ele havia entrado.

Assim era naqueles tempos. São Paulo ainda dispunha de muitos terrenos baldios e pequenos bosques aqui e acolá, que propiciavam habitat para um sem número de insetos, cuja maioria, hoje em dia, só temos acesso por intermédio de documentários de televisão ou visita a museus, tendo em vista que muitos deles já foram extintos pela ação do homem.

Puxando pela memória, cito alguns que eram avistados com facilidade em qualquer bairro de São Paulo até meados dos anos 70: gafanhotos diversos de todos os tamanhos, verdes, amarelos com pintas pretas, com asas imitando folhas etc.; joaninhas de todas as cores; tatus bola; incontáveis espécies de formigas, incluindo aquelas enormes de cabeça vermelha e enorme ferrão; abelhas, desde as pequeninas, passando pelas tradicionais, pelas que enrolavam no cabelo, até as enormes vespas e mamangavas (pretas e descomunais).

Lacraias e centopéias; taturanas de todas as cores e formas; mariposas; incontáveis espécies de borboletas, incluindo aquelas que imitam o número 88 nas asas; grilos; cigarras; insetos verdes que exalavam um mau cheiro incrível; lesmas; caracóis; libélulas em profusão; besouros de várias cores e tamanhos; insetos parecidos com o barbeiro (ficávamos sempre em dúvida); várias espécies de baratas (sempre elas); siriris pequenos, grandes e extra-grandes, que faziam a festa dos passarinhos; louva-deus; aranhas de todos os tamanhos e várias cores; bicho-pau; moscas de várias espécies, incluindo aquelas que pairavam no ar, e tantos e tantos outros…

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