O gostoso em fevereiro era ouvir no Radinho ainda de Galena, fabricados pelo meu velho pai, as primeiras marchinhas de carnaval. Que depois seriam cantadas nos bailinhos dos clubes da Freguesia do Ó e pelo Brasil afora.
Na época com sete anos, eu me deliciava todos os anos com Linda e Dircinha Batista, Marlene, Emilinha Borba, Carmélia Alves, Isaurinha Garcia, Dalva de Oliveira, Gilberto e Francisco Alves, Francisco Carlos, Gilberto Milfon, Blecaute, Jorge Goulart, Jorge Veiga e tantos outros; era um desfile de grandes cartazes do rádio e do disco (ainda não havia televisão) e o público só via os artistas indo aos auditórios das rádios ou comprando revistas e fotos dos artistas, que eram vendidas em lojas como os cartões-postais de hoje em dia.
Eu adorava ouvir as marchinhas, a maioria até hoje muito lembradas nas programações carnavalescas de nossas emissoras atuais, como prova de que o que é bom dura para sempre e com certeza no Carnaval de 2090, quando a maioria de nós já não estiver nessa vida, os nossos bisnetos ainda ouvirão.
“Mamãe eu quero, mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar.
Me dá chupeta, me dá chupeta, me dá chupeta pro nenê não chorar”.
Ou:
“Lata d’água na cabeça, lá vai Maria, lá vai Maria”…
Ou:
“Chegou o general da banda, eh eh. Chegou o general da banda, eh ah”…
Ou:
“Cadê Zaza, Zaza, Zaza. Saiu dizendo vou ali e volto já”…
Ou:
“Ai, ai brotinho, não cresças meu brotinho, nem murches, por favor, ai ai brotinho eu sou um galho velh,o mas quero seu amor”.
Ou:
“Guardo ainda bem guardada a serpentina, que ela jogou. Ela era uma linda colombina, e eu um pobre Pierrot”…
Ou:
“O meu coração não me engana, eu quero uma sereia de Copacabana”…
Ou:
“O que há com a sua baratinha, que não quer funcionar. Bota esse motor em movimento menina e vamos passear”…
Ou:
“A Gasolina já chegou, ô, ô, ô, não ouço mais o, por favor, do condutor, Adeus o banco do bonde do Caju, Tu és barato, mas machuca pra chuchu”…
Ou:
“Essa que no momento dessas nossas secas por falta de chuvas, é bem oportuna.
Tomara que chova três dias sem parar. Tomara que chova três dias sem parar”…
Em 1972 e 1973, já no apagar das luzes das marchinhas famosas, tive a oportunidade de gravar para o carnaval quatro músicas, duas a cada ano. A melhorzinha foi essa de autoria do Archimedes Messina, que falava sobre o famigerado “sugismundo”. Na época havia uma campanha contra a sujeira deixada pelo povo nas ruas de nossa querida São Paulo:
“A marcha do sugismundo
Se você não der um jeito eu não fico mais aqui.
Tira o sugismundo daqui (bis)
Esse cara sujo, ‘ta’ sujando todo mundo.
É um lixo, é um lixo, esse tal de sugismundo.
Tire esse lixo daqui”.
Declamada – Aprendeu sugismundo, povo desenvolvido é um povo limpo.
Pelo lixo que até hoje é descartado em nossas ruas e rios, acredito que assim como muitas outras marchinhas aqui nesse texto citadas, a mesma esteja perfeitamente atualizada, infelizmente.