Antigamente era

Fica fácil dizer "antigamente era outra coisa", fica cômodo, dizer "hoje as coisas são diferentes, o mundo mudou!". Eu acho que não é nada disso, exemplo: mudou a moral?, mudou a honra?, mudou o bom senso?, mudou a honestidade? O que realmente mudou foram os costumes, a liberalidade, o conceito de honestidade, talvez esteja acabando o bom senso, e a humanidade está deixando para trás a honra.

Antigamente sim, era melhor, e olha que "antigamente" para mim é há uns quarenta e poucos anos. Nossos pais eram, por nós (na sua grande maioria), respeitadíssimos, minha mãe nos chamava para acordar uma só vez, tínhamos de descer já uniformizados, com o material escolar em ordem (eu, por exemplo, quando meu pai pedia para examinar meus cadernos, livros, lápis, borracha, régua e caneta, minha mãe substituía pelos do meu irmão, os meus estavam sempre em petição de miséria), mas nem por isso não ficava aflito.

Na sala de aula, os alunos eram separados por ordem de aproveitamento escolar. Eu, por exemplo, sentava bem na frente, para ser prontamente observado pelos professores do Romão Puigari.

Lá, certa vez, ao receber o enésimo castigo, um deles era ficar trancado na sala aonde existia uma caveira, e de tanto olhar, mexer e cutucar, acabei mordendo, e percebi que era de plástico e não de osso. A acabei com o medo de todos os meus colegas que também tiveram este castigo, e desmoralizamos, ou como diríamos agora, "banalizamos” o castigo.

Certa vez, ao "furtar" duas "marias-moles" da leiteria do sr. Mário e achar que era "malandrinho", meu pai ficou sabendo, tive de passar uma das maiores vergonhas da vida: simplesmente meu pai me levou pelas orelhas até a leiteria, tive de pedir desculpas ao sr. Mário e pagar pelos doces.

Como em todo lugar, tinham boas e más companhias. Certa vez, quando fui "flagrado" com, digamos, uns "maus" elementos, meu pai me deu uma surra, e repercutiu na família, e meu querido avô (um imigrante semi-analfabeto, sapateiro) me chamou e disse, "quem anda com manco, aprende a mancar". “Mas vovô”, eu respondi, “não tava fazendo nada, só conversando!”. Ele disse: “com esses elementos vocês não estavam falando coisas boas, você tem que procurar gente como você, ou, melhor que você, que fale a sua língua". Lógico que tudo isso em dialeto napolitano.

Quando comecei a namorar, sou do tempo em que se pedia a menina para namorar, mais ou menos assim:
– Você está comprometida?
Dependendo da resposta:
– Quer se comprometer comigo?

Comecei com treze anos, e quando fiz dezoito, fui ao pai dela pedi-la em namoro. Namoro, que foi prontamente aceito, mas com condições, exemplo: não sair para o cinema sozinhos, não chegar após as dez horas da noite, e namorar somente às terças, quintas, sábado e domingo. Não por acaso, estou casado há 34 anos, e convivemos há 44 anos.

Tudo isso, para nós que somos daquela época, não é novidade nenhuma, mas nestas poucas linhas dá para perceber que tínhamos e dávamos muito valor à moral, éramos gente pobre e humilde, não éramos "problema social", ajudamos a criar uma sociedade digna. Tínhamos e fazíamos questão de ter honra, agíamos com honradez.

“Sabíamos “ouvir” os mais velhos, aliás, nos espelhávamos neles, aprendíamos a ser a “consciência" de nossos pais e avós. Éramos "cobrados e intimados" a respeitá-los, quando precisava, até "apanhávamos" para seguir em um caminho seguro, caminho este que nem todos seguiam, mas nem por isso o sacrifício de nossos pais e avós era em vão.

Desculpem, sei que não posso e nem devo "generalizar", mas posso afirmar em alto e bom som que antigamente era quase tudo melhor, e a "instituição" que é a família está acabando, os valores morais estão mudando, estão banalizando quase tudo: violência, costumes, corrupção, banditismo. Existe muita liberalidade. Hoje o aluno finge que estuda, o professor finge que dá aula, os pais (na sua grande maioria) parece que têm medo dos filhos, por seu lado os filhos não respeitam os pais, os casais casam para gerar filhos e não para criá-los (na maioria dos casos, quem cria são os avós), os parentes tornaram-se provisórios, estão parentes, não são parentes, antigamente parente era parente, família não é por enquanto, família é para sempre!

Isso tudo, com absoluta certeza, não se enquadra nas minhas (e com certeza de muitos outros) lembranças doces e utópicas do meu velho e querido Braz.

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