Amigos, eles existem?

Amigo. Palavra fácil de pronunciar.
Amigo. Coisa difícil de se encontrar. Até que me faz lembrar da citação usada: venha a nós e ao vosso reino nada.
Quando se procura, ele então se esconde. Quando se precisa, se vê que não tem. Quando chamo, ninguém me responde. Quando olho, não vejo ninguém…
Este é um trecho de uma música que Nelson Gonçalves gravou e alguns podem se lembrar.
Quando vivemos uma vida cheia de saúde, quando temos para oferecer uma casa na praia ou uma chácara com piscina e campo de futebol. Ou mais, uma churrasqueira com cerveja e carne quase todos os domingos, amigos não faltam. Nossa casa está sempre cheia de gente, alguns que mal conhecemos acompanhados de outros que conhecemos menos ainda.
Pois assim era a minha vida alguns anos atrás. Eu vivia cercado de puxa-sacos, pessoas que me convidavam para ser padrinho de seus filhos, se ofereciam para serem meus fiadores ou me convidavam para a macarronada de domingo.
Como a desgraça nunca chega sozinha, em certo momento da minha vida perdi quase tudo. Perdi a casa da praia, perdi a chácara com piscina e campo de futebol, perdi a mulher, perdi o trabalho, perdi uma perna amputada e o Corinthians perdeu o campeonato. Não digo que perdi os amigos porque amigos eu não tinha, eu tinha, isto sim, uma corja de aproveitadores que depois da minha desgraça desapareceram e nem um telefonema recebi para ao menos, mesmo hipocritamente, perguntarem se eu precisava de alguma coisa.
Existia na França um sujeito chamado Jorge Dandan que ao casar-se não impunha nenhum respeito com relação a sua esposa. Ela não o respeitava e ele não reagia fazendo o papel de boboca, de banana. Um certo dia, ele, depois de apanhar na cara, entrou no quarto, olhou para o espelho e disse: você quis assim, Jorge Dandan.
Isso tornou-se uma tradição na França e quando alguém reclama da vida o outro diz: você quis assim, Jorge Dandan.
Pois foi isso mesmo que aconteceu comigo. Você quis assim, senhor Paco Ramirez.
Quase quatro anos assim permaneci, quando apareceu uma pessoa que eu ainda não conhecia e comentou sobre este site. No começo entrei apenas como curioso, li as estórias, achei interessante e tive a coragem de escrever algumas besteiras. Hoje quando recebo algum e-mail de pessoas que, embora não conheça pessoalmente, já me são familiares, fico todo feliz achando que as coisas ainda podem melhorar, e vão melhorar com certeza.
Obrigado a todos e espero que compreendam meu desabafo.

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