Eu tive uma casa lotérica na Rua Augusta X Rua Matias Aires. Deixando de lado os assaltos, o restante era prazeroso. Excelente movimento, rua sempre com novidades, casa frequentada por todos os tipos de pessoas.
No restaurante em frente, o Violeta na Rua Augusta, Raul Seixas, que morava na Frei Caneca, passava tardes tomando whisky, sempre sozinho e calado.
Como toda casa lotérica, a minha também fazia jogo do bicho. Quando era visitado pelo Toninho, o segundo maior bicheiro de “Sampa”, que ficava atrás apenas do Ivo Noal e sempre o convidava pra tomar café no Violeta. Toninho sempre estava com dois seguranças muito bem vestidos e armados, o que não impediu que fosse assassinado com mais de 30 tiros num crime até hoje não esclarecido.
Garotas de programa eram figuras assíduas, sempre fazendo suas apostas e contando histórias divertidas. Fiquei triste apenas uma vez. Um senhor andando com dificuldades escolhia um bilhete de loteria na vitrine e eu pensei reconhece-lo.
Puxei assunto dizendo:
– “Acho que conheço o senhor. Eu imaginava que fosse Servílio de Oliveira, único medalhista olímpico brasileiro de boxe.”
Ele respondeu com um sorriso:
– “Pode ser.”
E se apresentou: Era Ademar Ferreira da Silva, maior campeão olímpico brasileiro.
Por quê fiquei triste ? Ora, o maior atleta olímpico brasileiro de todos os tempos estava tentando a sorte na loteria, pois passava por dificuldades. Um ano depois, faleceu.
Em seu enterro muitos discuros de agradecimento feito por oportunistas de plantão.
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