Minhas retinas de criança gravaram certo episódio com o cão Adamastor. Pouco mais de trinta anos já se foram… Naquela época, eu morava no bairro de Pinheiros e o meu maior medo, depois de "repetir de ano", eram os cachorros bravos.
Meu melhor amigo era o Marcello (com dois “l”), meu "quasíssimo" xará, que morava na mesma rua. Costumávamos irritar o Adamastor, pastor alemão da "casa amarela", residente na mesma quadra. Dávamos sustos nele, "latíamos" para provocá-lo, etc.. E o cão ficava furiosíssimo. Nossa coragem era devida a grossas barras de ferro que nos separavam.
Porém, num certo dia estávamos (nós, os Marcelos) buscando um não sei o que num não sei em qual lugar e vimos o Adamastor latindo e babando e ensandecido e mostrando os dentes e… Correndo na nossa direção!
Era a hora da vingança? Seria o fim do Marcelo com um "l" e do Marcello com dois "l"?
Imediatamente me arrependi das provocações, mas era tarde. Partimos em uma dasabalada carreira, porém, em velocidade insuficiente para o distanciamento adequado do pastor.
Pulamos, então, no meio de uns arbustos com espinhos a fim de evitar as mandíbulas dele. Por sorte, o alvo da fera era um vira-lata que ousou desbravar seu território. A luta foi cruel para o forasteiro que sobreviveu por pouco e nunca mais voltou.
E os Marcelos (ou Marcellos) todos arranhados, mas felizes, resolveram mudar de atitude com o Adamastor. Suprimimos as irritações e passamos a tratá-lo com o devido respeito. Doravante passamos a cumprimentar sua excelência com os merecidos salamaleques.
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