Abacatinho

Há coisas que nos marcam de uma forma que só se define quando as perdemos. Recordo-me, por exemplo, de um pé de abacate plantado por um funcionário conhecido como Paquera, nos fundos de uma indústria onde trabalhei longos anos.
Quantas vezes nos sentávamos sob este abacateiro, planejávamos a subida na árvore, colhíamos seus frutos e os levávamos pra casa. O tempo passou, tudo mudou, mas o abacateiro ainda está lá. Não é uma árvore frondosa, é só um pé de abacate margarida, daqueles redondinhos, pequenininhos, mas, quando passo pela Barão de Rezende, por cima de telhados destelhados, consigo ver seus ramos, seus galhinhos acenando ao sol, vergando à chuva. Vez por outra penso divisar um abacatinho, mas talvez seja só ilusão. São pequenos e estão tão longe, a vista é fraca, tantas coisas o afastam de mim.
Aí, na feira da Vila Carioca, por ser a mais próxima, ou outra qualquer, compro alguns abacates e tento encontrar o sabor que perdi naquelas manhãs de sol que nunca mais foram tão cálidas.

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